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quinta-feira, 23 de março de 2023

Um Problema de Cronologia (1)

Um dos maiores desafios para quem lê, investiga ou comenta a História ( a do H grande, mas também a de h pequeno) é balizar cronologicamente o tema estudado.

Dessa baliza cronológica depende muitas vezes a nossa interpretação, valorização ou o simples julgamento dos factos (embora a verdadeira missão da história não seja julgar).

Existem balizas cronológicas facilmente aceites pelos historiadores ou pelo senso comum, embora também estas possam vir a ser questionadas.

Por exemplo, é aceite, pela generalidade dos historiadores ou do cidadão comum, que a 2ª Guerra Mundial começou no dia 1 de Setembro de 1939 com a invasão da Polónia pelo exército alemão e acabou no dia 2 de Setembro de 1945 com a rendição formal do Japão.

Contudo, existem outras cronologias possíveis, à medida que se vão conhecendo outros contornos da vida política da época e posterior.

Há quem considere que a 2ª Guerra foi um prolongamento da “Grande Guerra Civil Europeia”, iniciada com a primeira guerra em 1914, ou da guerra civil na Rússia entre 1918 e 1921, onde se confrontaram vários exércitos, ou começou com a Invasão da Abissínia pelos Italianos em 3 de Outubro de 1935, desrespeitando a Liga das Nações, ou com a Guerra civil espanhola, entre 1936 e 1939, onde se ensaiaram novos armamentos,  as novas tácticas fundamentais para o desenrolara da 2ª Guerra e os confrontos ideológicos que a ela estiveram associados, ou iniciada com a segunda guerra sino-japonesa em 7 de Julho de 1937, ou com a transformação do conflito europeu em conflito realmente mundial quando as guerras no pacífico e na Europa se fundiram em 1941.

Há ainda quem considere que, verdadeiramente, a Grande Guerra só terminou em 1991 com o fim da União Soviética, já que esse país esteve no centro da grande luta ideológica que marcou o final da primeira guerra, desde 1917, motivou a ascensão do fascismo, em 1922, radicalmente anti-comunista, mas usando as “armas” do modelo que combatia, e levou à divisão ideológica da Europa após a derrota alemã.  

Há ainda quem culpe a passividade ocidental, face à ascensão do nazismo, que culminou nos acordos de Munique de 29 de Setembro de 1938, o mesmo ocidente que terá recusado negociar com a União Soviética para travar o expansionismo alemão, e que, segundo alguns, terá “obrigado” Stalin a assinar “pacto germano-soviético” em 23 de Agosto de 1939 para prepara a defesa do seu país.

Para outros foi este último pacto que abriu as portas para o início da 2ª Guerra que, ao contrário das interpretações mais comuns, tenta ver no resultado desse pacto, a divisão da Polónia entre alemães e soviéticos, como uma guerra iniciada por uma aliança contranatura, embora, no fundo, tanto alemães como soviéticos talvez se tenham limitado a adiar o confronto principal que marcou e decidiu a guerra, opondo os nazis à União Soviética, tentando, com esse pacto,  ganhar tempo para melhor se posicionarem nesse confronto decisivo.

Muitas vezes, no estabelecimento das balizas cronológicas para “limitar” determinado período, entram as opções político-ideológicas, por muito que os historiadores se classifiquem como “objectivos” ou “neutrais”, como acontece nos vários exemplos que demos acima sobre a dificuldade em estabelecer essas mesmas “balizas”.

Em parte, é a essa mesma dificuldade que estamos a assistir no debate sobre a guerra da Ucrânia.

Embora a invasão russa a um país soberano, a Ucrânia,  tenha sido um acto de desrespeito pelo direito internacional, será mesmo que esta guerra começo no dia 24 de Fevereiro de 2022?

Voltaremos a este tema.

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