Um dos maiores desafios para quem lê, investiga ou comenta a História ( a do H grande, mas também a de h pequeno) é balizar cronologicamente o tema estudado.
Dessa baliza cronológica depende
muitas vezes a nossa interpretação, valorização ou o simples julgamento dos
factos (embora a verdadeira missão da história não seja julgar).
Existem balizas cronológicas
facilmente aceites pelos historiadores ou pelo senso comum, embora também estas
possam vir a ser questionadas.
Por exemplo, é aceite, pela
generalidade dos historiadores ou do cidadão comum, que a 2ª Guerra Mundial
começou no dia 1 de Setembro de 1939 com a invasão da Polónia pelo exército
alemão e acabou no dia 2 de Setembro de 1945 com a rendição formal do Japão.
Contudo, existem outras cronologias
possíveis, à medida que se vão conhecendo outros contornos da vida política da
época e posterior.
Há quem considere que a 2ª
Guerra foi um prolongamento da “Grande Guerra Civil Europeia”, iniciada com a
primeira guerra em 1914, ou da guerra civil na Rússia entre 1918 e 1921, onde
se confrontaram vários exércitos, ou começou com a Invasão da Abissínia pelos
Italianos em 3 de Outubro de 1935, desrespeitando a Liga das Nações, ou com a
Guerra civil espanhola, entre 1936 e 1939, onde se ensaiaram novos armamentos, as novas tácticas fundamentais para o
desenrolara da 2ª Guerra e os confrontos ideológicos que a ela estiveram
associados, ou iniciada com a segunda guerra sino-japonesa em 7 de Julho de
1937, ou com a transformação do conflito europeu em conflito realmente mundial quando
as guerras no pacífico e na Europa se fundiram em 1941.
Há ainda quem considere que,
verdadeiramente, a Grande Guerra só terminou em 1991 com o fim da União
Soviética, já que esse país esteve no centro da grande luta ideológica que marcou
o final da primeira guerra, desde 1917, motivou a ascensão do fascismo, em 1922,
radicalmente anti-comunista, mas usando as “armas” do modelo que combatia, e levou
à divisão ideológica da Europa após a derrota alemã.
Há ainda quem culpe a
passividade ocidental, face à ascensão do nazismo, que culminou nos acordos de
Munique de 29 de Setembro de 1938, o mesmo ocidente que terá recusado negociar
com a União Soviética para travar o expansionismo alemão, e que, segundo
alguns, terá “obrigado” Stalin a assinar “pacto germano-soviético” em 23 de
Agosto de 1939 para prepara a defesa do seu país.
Para outros foi este último
pacto que abriu as portas para o início da 2ª Guerra que, ao contrário das
interpretações mais comuns, tenta ver no resultado desse pacto, a divisão da
Polónia entre alemães e soviéticos, como uma guerra iniciada por uma aliança
contranatura, embora, no fundo, tanto alemães como soviéticos talvez se tenham
limitado a adiar o confronto principal que marcou e decidiu a guerra, opondo os
nazis à União Soviética, tentando, com esse pacto, ganhar tempo para melhor se posicionarem nesse
confronto decisivo.
Muitas vezes, no
estabelecimento das balizas cronológicas para “limitar” determinado período,
entram as opções político-ideológicas, por muito que os historiadores se
classifiquem como “objectivos” ou “neutrais”, como acontece nos vários exemplos
que demos acima sobre a dificuldade em estabelecer essas mesmas “balizas”.
Em parte, é a essa mesma
dificuldade que estamos a assistir no debate sobre a guerra da Ucrânia.
Embora a invasão russa a um
país soberano, a Ucrânia, tenha sido um
acto de desrespeito pelo direito internacional, será mesmo que esta guerra
começo no dia 24 de Fevereiro de 2022?
Voltaremos a este tema.
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