A Fundação Calouste Gulbenkian, em colaboração com o Museu Hergé de Louvain-la-Neuve, da Bélgica, organizou um dos maiores eventos do ano, uma grande exposição dedicada à obra de Hergé, criador do famoso Tintin.
A exposição, inaugurada no passado dia 1 de Outubro de 2021, encerra a 10 de Janeiro, já no próximo fim-de-semana.
Não deixa de ser marcante que, uma das mais sérias e prestigiadas instituições ligadas ao mundo da arte. receba, julgamos que pela primeira vez na sua longa história, uma exposição de Banda Desenhada, arte muito desvalorizada no sofisticado mundo da arte.
A iniciativa da Gulbenkian representa, assim, uma importante
ruptura com um preconceito, ainda muito arreigado entre o nosso sector
intelectual e cultural, que tende a desvalorizar as qualidades artísticas e
intelectuais da 9ª arte.
Ao longo de várias semanas publicámos, no nosso blog Bêdêzine, uma série
de artigos sobre a importância de Hergé, desde uma referência a TinTin na minha
memória pessoal, passando pela sua presença em Portugal, ao percurso de Hergé e
à história das aventuras de TinTin.
Em baixo, reunimos, num único bloco, esse conjunto de textos, embora sem as ilustrações usadas naqule blog, uma forma de recordar a importância desse evento que encerra daqui a 5 dias.
1 - TinTin e Eu!
Tintin é uma das raras personagens da BD cuja fama atravessou
várias gerações, ao longo de quase cem ano, êxito e conhecimento talvez só
ultrapassado pelo universo de Walt Disney.
Pessoalmente, o meu primeiro contacto com Hergé fez-se, não
pelas aventuras de Tintin, mas de outra das séries da sua autoria, quase
esquecidas pelo êxito do célebre “repórter”, os trapalhões Quick e Flupke, traduzidos
para português como o Quim e o Filipe, cujas tropelias foram publicadas em
Portugal na revista Diabrete, entre 1941 e 1943, sob a designação de “Tropelias
do Trovão e do Relâmpago” , e que eu
descobri no espólio da minha mãe, que possui 4 albuns encadernados dessa
revista, que eu desfolhei avidamente durante a
minha infância.
Encontrei as primeiras imagens do Tintin num número solto do
suplemento Pajem, da revista Cavaleiro Andante, onde se publicou a aventura “O
templo do Sol”, a mesma aventura que acompanhei de forma mais continuada na
revista Foguetão, editada em 1961, cujos 13 exemplares publicados cheguei a
receber, quando tinha os meus 5 anos, mas cuja aventura nunca se completou
nessa revista de curta duração.
Ainda antes de começar a conhecer as aventuras completas de
TinTin, conheci as aventuras de uma outra série de Hergé, Jo, Zette e Jocko,
publicada noutra das minhas revistas de infância, o “magazine para a juventude”
Zorro, série publicada entre 1964 e 1966 nesta revista, exactamente nos anos em
que ela me foi oferecida.
Só mais para meados dos anos 60 comecei a ler histórias
completas do TinTin, umas em álbuns, de edição brasileira, que me eram
emprestados pelo amigo “Zico”, lidos avidamente nas tardes de Verão, na praia
de Santa Cruz e, pouco depois, quando, a partir de 1969, o meu avô me começou a
oferecer, semanalmente, a revista
TinTin, fundada em Portugal em 1968.
Lembro-me, igualmente, de ter recebido o meu primeiro álbum
de TinTin por essa altura, em 1968 ou 1969, o “Voo 715 para Sidney”, que me foi
oferecido na 1ª edição em francês, com o objectivo pedagógico de aprofundar o
meu francês, álbum editado em 1968 e hoje muito valorizado no mercado franco-belga.
Nesses anos pensava que as aventuras de TinTin eram
recentes, só mais tarde descobri que a série tinha sido criada quase 30 anos
antes de eu nascer. Também não tive a noção, na altura, da ordem cronológica
dessas aventuras.
Penso que, entre as primeiras aventuras que li de TinTin,
estiveram o “TinTin no Tibet” e o “Caso Tornesol”, esta última aventura,
curiosamente, editada em álbum em França no ano do meu nascimento.
Se me perguntarem quais as aventuras de que mais gostei, a
escolha é difícil, mas penso que o “Objectivo Lua” e “TinTin na Lua” foram
marcantes, pela actualidade do tema na década de 60, embora ambos tenham sido
escritos e desenhada na década de 1950, ainda antes do meu nascimento. Pela originalidade,
penso que a melhor história da série terá sido, quanto a mim, “As Jóias de
Castafiore”, original de 1963.
Pessoalmente, sempre preferi as séries Blake e Mortimer e
Astérix, pois considerava TinTin um personagem "certinha" de mais. Penso que o
interesse da TinTin está mais relacionado com a profundidade psicológica de
personagens “secundárias”, como o Capitão Hadock, o meu preferido, ou o
professor Tournesol, entre tantas outras, e, muitas vezes, foram os pequenos
apontamentos humorísticos, colocados por Hergé no meio da história principal,
que mais valorizaram e caracterizaram a série. Depois há que acrescentar a
narrativa, pontuada de acção, cenas humorísticas e suspense até ao final, tudo
valorizado por um desenho simples e claro, sem excessos, aquilo que caracteriza
o chamada “linha clara”.
No total foram criadas por Hergé 24 aventuras de TinTin, a última delas incompleta e a primeira, “Tintin no País dos Sovietes”, a única que nunca foi revista e colorida pelo autor, renegada por Hergé, que só autorizou a sua edição, como curiosidade, à beira da morte.
2 - TinTin em Portugal
A relação das aventuras de Hergé com Portugal é uma longa
História.
É bom recordar que, a primeira vez que TinTin foi traduzido,
foi para português, sendo também em Portugal que foi editado a cores pela
primeira vez.
A História conta-se em poucas linhas:
Em 18 de Abril de 1935 foi publicado o primeiro número da
revista juvenil, “O Papagaio”, como suplemento infantil de um jornal católico, propriedade
da Rádio Renascença, fundada por Adolfo Simões Müller e pelo padre Abel Varzim,
com redacção na Rua Capelo, em Lisboa.
Abel Varzim tinha estudado, entre 1930 e 1934, sociologia na
Universidade de Lovaina, tendo conhecido as aventuras de TinTin no suplemento
“Le Petit Vingtiéme”, do diário católico “Le Vingtiéme Siécle”, dirigido pelo abade
Norbert Wallez, que o padre Varzim conheceu naquela universidade.
O percurso futuro desses dois padres católicos não podia ser
tão diferente. Abel Varzim tornou-se um critico e opositor do regime do Estado
Novo, sendo perseguido por isso e sendo uma espécie de fundador do movimento de
“católicos progressistas”, que tantas dores de cabeça deu a Salazar e ao seu
regime. Pelo contrário, o padre Wallez acabou expulso do “Le Vingtiéme Siécle”,
ainda na década de 30, devido às suas simpatias pelo fascismo e pelo nazismo,
sendo preso depois da libertação da Bélgica em 1944, cumprindo 5 anos de prisão
como colaboracionista com os ocupantes.
Mas voltando a Tintin
em Portugal, Abel Varzim, regressado a Portugal , enviou ao director do
“Vingtiéme Siécle” uma carta, datada de 25 de Maio de 1935, pedindo para que
Wallez intercedesse junto de Hergé para que este desse autorização para
reproduzir, na revista portuguesa “O Papagaio”, as aventuras de Tintin, pedindo,
igualmente, para ser combinado um preço especial pelos direitos dessa
publicação, devido às dificuldades económicas da revista portuguesa.
O pedido teve êxito e, depois de o anunciar no nº49 e editar
a 1ª capa com a nova personagem no nº 51
de “O Papagaio” , na edição nº 53 de 16 d Abril de 1936 começou a publicar a primeira aventura de
Tintin editada em Portugal, “Tim-Tim na América do Norte”.
A revista fez algumas adaptações das aventuras de TinTin à
situação portuguesa, aportuguesando igualmente o nome de algumas personagens,
uma condição também para escapar à censura, que obrigou, muitas vezes, a esse
tipo de adaptação de outras obras de banda desenhada estrangeira publicadas no
país.
Uma evidente cedência à censura portuguesa, por parte d’ “O
Papagaio”, foi a alteração de uma legenda de “TinTin na América”, onde uma cena, no original referida como uma greve de trabalhadores norte-americanos, foi traduzida, na edição portuguesa, como um “paragem para o almoço”.
TinTin foi designado
como Tim-Tim, um repórter “português”, o cão Millou transformou-se, primeiro em
Pom-Pom e, depois, na “cadela” Rom-Rom, para que o seu nome não fosse confundido
com a cantora Milú, uma famosa cançonetista da rádio portuguesa.
O Capitão Haddock foi transformado no Capitão Rosa que, em
vez de beber Whisky, passou a beber Vinho do Porto, o professor Tournesol foi
baptizado como senhor Pintadinho de Branco e, mais tarde, professor Girassol.
Um dos casos mais estranhos foi transformar um dos poucos
“portugueses” originais da série, o “vendedor ambulante” Oliveira da Figueira,
que apareceu pela primeira vez na aventura “Os Charutos do Faraó” (1934), num
espanhol de Málaga, fugido da Guerra de Espanha (altura em que essa aventura
foi editada n’”O Papagaio”), talvez porque fosse considerado uma figura pouco
abonatória do ideal do “português” propagandeado pelo Estado Novo.
Oliveira da Figueira surgiu noutras duas aventuras de
TinTin, “TinTin no País do Ouro Negro” (1950) e em “Coke em Stock” (1958).
Há ainda um “vilão”, Dr. Müller em “A Ilha Negra” (1938), por
muitos identificado como uma alusão a Adolfo Simões Müller, director d’”O
Papagaio”.
Um “cientista português”, um “célebre físico da Universidade
de Coimbra”, Pedro João dos Santos, participa na aventura “A Estrela
Misteriosa”, de 1941.
Há ainda um “jornalista português” do “Diário de Lisboa”,
sem nome, numa cena do Tintin no Congo.
Esta aventura, aliás, foi intitulada de “TinTin em Angola”,
redesenhando-se, na edição de “O Papagaio”, algumas vinhetas, para tornar este
título mais verosímil, como na cena da aula dada por TinTin a crianças negras,
onde o mapa da Bélgica, no quadro, foi
substituído pelo mapa de Portugal. Mais tarde o próprio Hergé redesenhou este
quadradinho, retirando-lhe a conotação colonialista da primeira edição.
Hergé enviou uma carta, datada de 12 de Maio de 1936, ao padre Abel Varzim, congratulando-se com a
edição portuguesa da sua obra, elogiando, nomeadamente, a novidade da
colorização das aventuras de TinTin, mas também fazendo algumas críticas à
paginação que, quanto a ele, retirava algum suspense às aventuras.
Quando a Bélgica foi ocupada pelas tropas nazis, em Maio de
1944, tornou-se complicado transferir dinheiro de Portugal para pagar a Hergé,
pelo que este propôs o pagamento dos direitos em géneros, como sardinhas em
conserva, chá, café, cacau, azeite, chocolate, leite condensado, arroz e
bolachas. Hergé pediu igualmente para incluírem dois avios mensais em géneros
para o irmão Paul, prisioneiro de guerra na Alemanha.
Durante 12 anos “O Papagaio”, que se editou entre 18 de
Abril de 1935 e 10 de Fevereiro de 1949, num total de 722 número, publicou um total de 9 aventuras de TinTin:
- “Tim-Tim na América do Norte” –nºs 53-110, de 16/04/1936 a
20/05/1937;
- “Aventuras de Tim-Tim no Oriente” (“Os Charutos do Faraó”
no original) –nºs 115-161, de 24/06/1937 a 12/05/1938;
- “Novas Aventuras de Tim-Tim” (“O Lótus Azul” no original)
– nºs 166-205, de 16/06/1938 a 16/03/1939;
- “Tim-Tim em Angola” (“TinTin no Congo” no original) – nºs
209- 244, de 13/04/1939 a 14/12/1939;
- “Tim-Tim e o mistério da Orelha Quebrada” – nºs 247-298,
de 04/01/1940 a 26/12/1940;
- “Tim-Tim na Ilha Negra” ( “TinTin no País do Ouro Negro”,
no original)- nºs 301-359, de 16/01/1941 a 26/02/1942;
- “Tim-Tim no Deserto” (“O Caranguejo das Tenazes de Ouro”
no original) – nºs366-226, 16/04/1942 a 10/06/1943;
- “A Estrela Misteriosa”- nºs 435-540,de12/08/1943 a
16/08/1945;
- “O Segredo do Licorne” – nºs 617-679, de 06/02/1947 a
15/04/1948.
Esta foi a primeira vez em que TinTin foi publicado numa
língua que não o francês. Até aí, as suas aventuras apenas tinham sido editadas
na Bélgica, em França e na zona francófona da Suíça.
Em 1941 Adolfo Simões Müller abandonou “O Papagaio”, por divergências com Abel Varzim, e fundou uma nova revista juvenil, “O Diabrete” (4 de Janeiro de 1941- 29 de Dezembro de 1958). Müller chega a escrever a Hergé para conseguir ficar com os direitos de publicação de TinTin na nova revista, mas não o consegue, pelo que essa série continua a ser publicada n’”O Papagaio”.
Contudo, consegue adquirir os direitos de uma outra série, até aí nunca
publicada em Portugal, que nasceu depois do TinTin também na revista “Le Petit
Vingtiéme”, a série humorística Quick e Flupck, que será publicada no
“Diabrete” entre 5 de Janeiro de 1941 e 10 de Outubro de 1943, com a designação
de “Tropelias do Trovão e do Relâmpago”. Esta série não voltará a ser publicada
em Portugal em qualquer outra revista, apenas em álbum.
Entretanto, com o fim d’”O Papagaio” em 1949, Simões Müller
consegue adquirir os direitos de TinTin, publicando três aventuras no
“Diabrete”, a primeira “O Ceptro de Ottokar”, com a designação de “Aventuras de
Tim-tim e Rom-Rom”, entre 9 de Março de 1949 e 18 de Março de 1950, seguindo-se
mais duas aventuras, “O Tesouro de Rackham, o Vermelho”, aportuguesado para “O
Tesoiro do Cavaleiro da Rosa”, entre 25 de Março de 1950 e 21 de Março de 1951,
e “As 7 Bolas de Cristal”, entre 4 de Abril de
e 29 de Dezembro de 1951, ficando a publicação desta aventura
incompleta, devido ao facto de o “Diabrete” ter interrompido a sua publicação
nesta data, ao fim de 553 edições.
Até ao início da década de 1960 Adolfo Simões Müller manteve
os direitos da edição do Tintin em revistas portuguesas por si editadas, como
aconteceu com o “Cavaleiro Andante” (1952-1962), o “Foguetão” (1961) e o
“Zorro” (1962-1966).
A mítica revista “Cavaleiro Andante” publicou muitas das
séries da revista belga “Tintin”, devendo-se a ela a divulgação da maior parte
dos autores da escola franco-belga em Portugal, tendo mesmo usado as capas da
revista belga, adaptadas ao título do “Cavaleiro Andante”.
O “Templo do Sol” foi a primeira aventura de “TinTin”
publicada nesta revista, primeiro no corpo da própria revista, a partir do seu
primeiro número, em 5 de Janeiro de 1952, e depois continuando a sua publicação
no suplemento “Pajem”, entre 5 d Julho de 1952 e 22 de Agosto de 1953.
Ao todo foram publicadas 7 aventuras do TinTin no “Cavaleiro
Andante”, algumas pela primeira vez em Portugal, como “Tintin na Lua”,
publicando, com o mesmo título, e sem interrupção, as duas aventuras, “Objectivo
Lua e “TinTin na Lua”, ao longo de 2 anos, entre 17 de Outubro de 1953 e 31 de
Dezembro de 1955, “O Caso Tornesol”, sob o Título de “O Caso da Arma Secreta”,
e o “Carvão no Porão (Cocke em Stock)” com o título “Os mercadores de ébano”.
Foi republicado o “TinTin na América” e “O Lótus azul”, anteriormente
publicados em “O Papagaio”, mas agora na nova versão, actulizada por Hergé.
A última aventura publicada foi “Tim-Tim no Tibete”, entre
18 de Novembro de 1961 e 4 de Agosto de 1962, aventura que tinha começado a ser
publicada no “Foguetão” entre Maio e Julho de 1961, mas que tinha ficado
incompleta devido à curta vida desta revista.
A última aventura de TinTin publicada em Portugal sob a
orientação de Simões Müller foi “As Joias de Catafiore “, sob o título “As
Jóias da Prima Dona”, na revista “Zorro”, entre 6 de Abril de 1963 e 6 de Junho
de 1964, única aventura dessa série publicada nessa revista.
Foi no “Zorro” que foram publicadas, pela primeira vez em
Portugal, as aventuras de outra série de Hergé, “Jo, Zette e Jocko”, em “O
“Manitoba” Não Responde” e “A Erupção de Karamako”, entre 20 de Junho de de
1964 e 23 de Junho de 1966. Estas duas aventuras voltariam a ser editadas em
Portugal no suplemento “Quadradinhos” do jornal “A Capital”, em 1972 e 1973,
conhecendo ainda uma edição em álbum, editado pela Verbo, sob a designação de
“Aventuras de Joana, João e do Macaco Simão”, na década de 1980.
Foi com o aparecimento da revista “TinTin” que tivemos, em
Portugal, a publicação integral de todas as aventuras do herói criado por
Hergé, entre o 1º número, editado em 1 de Junho de 1968, e o último, em 2 de
Outubro de 1982. A única aventura não editada na totalidade, devido ao
encerramento da edição da revista, foi a reprodução, pela primeira vez em
Portugal, da primeira aventura de Tintin, “TinTin no país dos sovietes”, só
editada, de forma completa, em álbum, em meados da década de 1980.
TinTin foi ainda publicado em tiras diárias no jornal
“Diário de Notícias” e no suplemento “Nau Catrineta”, na década de 1970.
Em 16 de Março de 1960 Simões Müller tinha escrito a Hergé,
para conseguir os direitos de autor para editar os primeiros álbuns de Tintin
em Portugal.
Hergé responde-lhe, em
22 de Março, lamentando que tal não seria possível, já que esses direitos
tinham sido adquiridos por uma editora brasileira, a Flamboyant, que tinha
adquirido igualmente os direitos de os vender, traduzidos no português do
Brasil, em território português.
Assim, a edição das aventuras de TinTin em álbum, em
português, foram da responsabilidade, até, 1988, daquela editora brasileira, que
editou o primeiro álbum do Tintin em língua portuguesa em 1961, “A Estrela
Misteriosa”.
Só a partir de 1988 é que a editora Verbo conseguiu os
direitos para Portugal, editando os álbuns da série até 1999.
Actualmente os direitos da série pertencem à editora Asa.
Para as gerações mais recentes, o único contaco com TinTin
talvez tenha sido através do filme de Spileberg de 2011, intitulado “As
Aventuras de TinTin”, mas que se baseia no álbum “O Caranguejo das Tenazes de
Ouro”, história publicada pela primeira vez em 1941.
Hergé nunca veio a Portugal. Apenas por duas vezes foi
entrevistado por um jornalista português, Luiz Beira, a primeira das quais
publicada na revista “Plateia” nº 306 de 13 de Dezembro de 1966, a segunda em Novembro
de 1982, uma das últimas concedidas por Hergé, já que faleceu em 3 de Março de
1983.
Esta segunda entrevista manteve-se, contudo, inédita até
1985, sendo finalmente publicada na 5ª série da revista “O Mosquito”, no nº6 de
Março de 1985.
Nesta última entrevista, Hergé lamentava-se por nunca ter visitado Portugal, um “belo país” que o atraia, prometendo fazê-lo um “dia, quem sabe?”, bem como pondo a hipótese de “um dia talvez, quem sabe?”, situar uma aventura de Tintin em Portugal. Infelizmente a morte prematura de Hergé impediu-o de concretizar esses desejos.
3 - Hergé, para lá de TinTin
Hergé nasceu com o nome de Geoges Remi, em Etterbeek, na região de Bruxelas, em 22 de
Maio de 1907.
Teve um único irmão, Paul, cinco anos mais novo.
Os seus primeiros desenhos foram feitos nos cadernos
escolares da escola de Ixelles que ele frequentou entre 1914 e 1918.
Na escola que frequentou depois, equivalente ao liceu, era
um bom aluno em quase todas as disciplinas, menos….em desenho!
Em 1921, com 14 anos, aderiu ao movimento escutista e, no
ano seguinte começou a colaborar no jornal dos escuteiros da sua escola, o
“Jamais Assez”, bem como na revista da Federação de Escuteiros, “Le boy-scout
belge”, publicando aqui as suas primeiras ilustrações.
Assina pela primeira vez um trabalho nesta revista, com o
seu nome original, em Fevereiro de 1924.
O pseudónimo Hergé,
que o imortalizou, com origem nas
iniciais invertidas do seu nome verdadeiro, Her para o R de Remi, e Gé, para o
G de Georges, surgiu pela primeira vez nessa publicação em Dezembro de 1924.Criou
para esta revista, em Julho de 1926, a sua primeira personagem, o escuteiro
Totor.
A série, designada como “Totor, Chef de Patrouille des
Hannetons” foi publicada, irregularmente, naquela publicação, até Julho de 1929.
Curiosamente Totor fez uma breve aparição entre Fevereiro e Julho de 1930,
desenhada por “Evany”, tendo sido, assim, a única série crida por Hergé que foi
retomada por outro desenhador.
As suas influências têm origem nos heróis da sua infância e
juventude, as série norte-americanas Buter Brown , The Yellow Kids,
Katzenjammer Kids (Pim Pam Poum), Krazy
Kat e Bringing-up Father, ou nas séries francófonas de Benjamin Rabier, em
Bécassine, Pieds Nickelés ou Zig e Puce, de Alain Saint-Ogan.
Em 1923 iniciou-se na ilustração publicitária, acreditando
que esse podia ser o seu futuro profissional, mas, em 1924, conseguiu emprego no
jornal diário “Le Vigtiéme Siécle”, como responsável pelo serviço de
assinaturas e depois como aprendiz de fotógrafo, ilustrador e fotogravador. O
padre Norbert Wallez, que dirigia esse diário, cedo se apercebeu das qualidades
de Hergé e nomeou-o redactor principal do suplemento infantil desse diário, “Le
Petit Vingtiéme”, publicado às 5ªs feiras, cujo primeiro número apareceu em 1
de Novembro de 1928.
Entre Novembro de 1928 e Março de 1929 publicou a única
aventura da série “Flup, Nenesse, Poussette et Cochonnett”, a primeira da sua
autoria nesse suplemento, três crianças e um porquinho, com argumento de um
redactor desportivo do jornal, mas que Hergé não assinará.
Considerando essa série insipida, abandona-a e retoma, nesse
suplemento, em 1929, o seu Totor, mas mudando-lhe o nome e fazendo-o acompanhar
por um cão Milou. Nascia assim TinTin, cuja figura ainda se assemelhava à
figura do escuteiro Totor.
Segundo Hergé, TinTin era “um irmão mais pequeno de Totor,
um Totor transformado em jornalista, mas mantendo o espírito escutista”
(entrevista a Numa Sadoul).
Mas, sobre a personagem que o imortalizou e a sua evolução,
falaremos noutro artigo.
Aliás, inicialmente, Hergé não se fixará em exclusivo em Tintin, criando outras séries para essa publicação
Em 1931 publica uma única história de Fred et Mille, que
será percursor de outra série sua que se tornará famosa, Quick et Flupke.
Criada em 23 de Janeiro de 1930, a série Quick et Flupke
será quase tão famosa como TinTin, a única, de entre as muitas criadas por Hergé, de longa duração.
Os “enfants terribles” Quick e Flupke terão sido inspiradas
em séries que fizeram a delícia da infância de Hergé, como os Katzenjammer Kids
criados por Wilhelm Busch em 1865, ou Hans e Fritz série crida em 1911 por
Rudolph Dirks.
Ao todo são publicadas 165 episódios dessa série, com duas
páginas cada uma, no “petit-vingttième”.
Mais tarde, a série conheceria um grande sucesso ao ser
reeditada em álbum a partir de 1947, bem como na revista “TinTin”, onde serão
publicadas algumas dezenas de episódios novos ou inéditos.
Baseando-se no seu herói de infância, o desenhador
animalista Benjamin Rabier (que em 1924 ilustrou o “Romance da Raposa” de
Aquilino Ribeiro, e sobre o qual se realizou recentemente uma exposição em
Portugal, no Museu Bordalo Pinheiro) cria um herói antropomórfico, Tim, o
esquilo “herói do Faroeste”, num total de 32 páginas coloridas, sem balões e
com as clássicas legendas por baixo (com
já tinha acontecido com a sua primeira personagem, o escuteiro Totor),
publicadas em 2 páginas semanais, como suplemento publicitário a uma loja de
Bruxelas, saindo às 5ªas feiras, entre 17 de Setembro e 31 de Dezembro de 1931.
Essa série foi o esboço de outras duas séries, “Les
Aventures de Tom e Mille” (1933) e “Popol et Virgine Chez Lapin” (1934).
Esta última série teve curta vida nas páginas do “Petit
Vingtième”, entre 8 de Feverreiro e 16 de Agosto de 1934, reaparecendo mais
tarde na revista “TinTin” entre 29 de Abril e 29 de Julho de 1948.
Popol e Virgine são dois ursos, representando mais uma rara
incursão de Hergé no mundo animalista, que ele tanto apreciava na sua infância.
A criação desta série obedeceu a uma tentativa de Hergé de romper com o
realismo de “TinTin”. Contudo esta série não obteve o entusiasmo dos leitores,
que escreveram várias cartas à redacção do jornal para exigir o regresso de
TinTin, acabando assim com a continuação daquela série.
Paralelamente à sua colaboração com o “Le Petit Vingtiéme”,
Hergé trabalhou noutras publicações, como , em 1928, no semanário satirico e
panfletária “Le Sifflet”, que se editou entre 1928 e 1931.
Esta foi uma época em que criou várias séries com fins
publicitários, como as tirinhas “Cet Aimable M. Mops” (1932).
Para o folheto “Pim-
Vie Heureus” do suplemento juvenil “Pim et Pom” do jornal “Le Meuse”, cria “Les
Aventures de Tom et Mille”, 2 episódios curtos baseados nas aventuras do já
referido esquilo Tim, mas tendo, desta vez, como personagens, 2 ursos. Para
esta série usa o pseudónimo R.G.. A 1ª história, de 2 páginas, a preto e branco,
é publicada em 7 de Fevereiro de 1933 e a segunda aventura, de 18 páginas,
intitulada “Tom e Mille à le recherche du soleil” em 11 de Abril desse mesmo
ano.
Em 1934 Hergé, criou o Atelier Hergé-Publicité, com o
objectivo de criar peças publicitárias, tendo elaborado várias bandas
desenhadas publicitárias, logo nesse ano
uma em 4 páginas intitulada “Les Mésaventures de Jeff Debakker” e, em 1938, uma
série de histórias curtas, para a confeitaria “Antoine”, tendo como personagens
“Antoinne, Antoinette, Plouf e Drapsy”, 2 irmãos, um cão e um papagaio, num
total de 6 episódios de uma página cada.
A criação dessas personagens publicitárias é vista por muitos
estudiosos como percursora da série “Jo, Zette e Jocko” que foi publicada na
revista francesa “Coeurs Vaillant”, entre 22 de Outubro de 1936 e 9 de Novembro
de 1939, traduzida em Portugal como “Joana, João e o Macaco Simão”. Esta série
foi uma encomenda dessa revista ao autor:
“A direcção do jornal [Coeurs Vaillant] disse-me mais ou
menos o seguinte: Sabe, o seu “TinTin” não está mal, gostamos muito dele. Mas
não tem modo de vida, nem pais, não come nem dorme, isto não é lógico. Não pode
criar uma personagem cujo pai trabalhe, que viva com a mãe, a irmãzinha e
qualquer animalzinho familiar?”. E foi assim que essa série surgiu.
Dela publicaram-se três aventuras, “le Rayon du mystère”
(dividido em dois episódios, “Le testament de M. Pump” e “Destination
New-York”), publicada no Coeurs Vaillant entre 22 de Outubro de 1936 e 9 de
Novembro de 1938, “Le Stratoneff H22” (igualmente dividido em 2
episódios, “Le Manitoba ne répond plus” e “L’Eruption du Karamako”), publicada
na mesma revista entre 31 de Março de 1938 e 9 de Novembro de 1939, e “La Vallée des Cobras”, esta publicada
apenas entre 30 de Dezembro de 1953 e 22 de Dezembro de 1954, já na revista
TinTin.
Na década de 60, num período de alguma crise pessoal, entre
1960 e 1964, Hergé pensou enveredar pela pintura, chegando a criar algumas obras
inspiradas em Miró e Dubuffett, mas acabou por desistir, optando por continuar como
autor de Banda Desenhada, apesar de se ter tornado um conceituado e informado
colecionador de arte, tendo conhecido Andy Warholl que, em 1979, pintou 4
imagens de Hergé no seu estilo peculiar de pop-art.
A partir dos anos 40 e até à sua morte, apenas com a breve deriva acima referida, o autor dedicou-se, em exclusividade à sua icónica série TinTin.
4 - TinTin e Hergé.
É no mencionado “Le Petit Vingtiéme” que Hergé inicia a
publicação das aventuras de TinTin, um “repórter” do jornal enviado ao “país
dos Soviéticos”. TinTin “parte” para a sua primeira aventura na edição de 10 de
Janeiro de 1929.
A aventura “TinTin no País dos Soviéticos” é publicada a
preto e branco, como vai acontecer, aliás, com as 5 primeiras aventuras desse
“herói”, com a excepção, já referida, da edição portuguesa.
Esta aventura foi sendo desenhada
por Hergé ,sem um plano prévio, sem uma previsão quanto à forma como ía
terminar, muitas vezes quase desenhada em cima do joelho e no limite do prazo
de entrega para poder ser publicada. Finalmente, em 8 de Maio de 1930, era
editada a última prancha dessa primeira aventura, que só conheceria outra
edição nas páginas da revista francesa Coeurs Vaillants, neste mesmo ano.
Só então Hergé se deu conta do
êxito dessa aventura, tendo encenado o regresso da Rússia do herói imaginário,
com figuras reais, à estação central de Bruxelas.
Esta primeira aventura será também uma das mais
controversas, baseada numa obra de propaganda anti-comunista, “Moscou sans
Voiles” (Moscovo sem véus), escrita pelo ex-cônsul belga na Rússia, Joseph
Douillet, editado em 1928, best-seller na Bélgica desse tempo.
Hergé, muito jovem ainda, foi também influenciado pelo espírito conservador do
próprio jornal e do seu director, o padre
Wallz, admirador do fascismo italiano, mais tarde preso por colaboracionismo
com os ocupantes nazis.
Quando, mais tarde, Hergé resolveu redesenhar os seus
primeiros álbuns, recusou-se a fazê-lo com essa primeira obra, que o próprio
renegou e impediu que tivesse sido reeditado, até quase ao ano da sua morte, em
1983.
O que é um facto é que essa primeira aventura, se foi muito
influenciada pela propaganda anticomunista da época e exagerou na caricatura
dos bolcheviques, acabaria por se tornar premonitório em relação ao rumo
totalitário que a revolução soviética tomou na década de 1930, sob a terror
stalinista.
Fosse como fosse, nessa primeira aventura já se encontravam
alguns dos traços que caracterizaram as aventuras de TinTin, como o suspense no
final de cada prancha, recorrendo à técnica que Hergé foi buscar ao cinema de Hitchcock, a
simplicidade das linhas, na origem da chamada “linha clara”, e a utilização do
balão para as falas dos personagens, em vez da forma tradicional de usar a
imagem como simples ilustração de um texto.
O termo “linha clara” para classificar o estilo de Hergé e
de outros autores da escola franco-belga teve origem no termo holandês Klare
Lijn aplicado pelo desenhador gráfico Joost Swarte, na exposição dedicada a
TinTin “Kuifje in Rotterdam”, realizada nesta cidade entre 5 de Fevereiro e 14
de Março de 1977.
Sobre a famosa “linha clara”, para Edgar Pierre Jacobs, esse
estilo não passou de um mito, já que foi imposto por razões técnicas, pois
alguns pormenores e cores não passavam no tipo de impressão usado nos anos
30/40 do século XX, sendo necessário simplificar o desenho e torna-lo o mais
eficaz e legível possível.
Benoît Peeters, biografo de Hergé, afirma que este
“introduziu uma revolução discreta na banda desenhada europeia” ao tratar de
temas adultos e falando do mundo contemporâneo num jornal infantil.
A segunda aventura da série foi igualmente controversa,
“Tintin no Congo”, muito marcado pelo espírito colonialista, num país, como a
Bélgica, que tinha no Congo a sua principal colónia africana. Hergé tinha
desejado escrever, como segunda aventura, uma aventura na América, mas a
direcção do jornal pressionou o autor a escolher uma aventura passada nessa
colónia belga, para reforçar a propaganda colonialista que estava no espírito
desse órgão de comunicação.
Hergé niciou a publicação dessa aventura em 9 de Julho de
1931, sem, segundo as suas palavras, nada saber desse país, “a não ser o que se
dizia na época: Os negros são crianças
crescidas, Ainda bem que nós lá estamos, e outras coisas do género”,
desenhando “esses africanos segundo tal bitola, no mais puro espírito
paternalista, que era aquela que então se vivia na Bélgica” (entrevista com
Numa Sadoul).
Contrariado e sem entusiasmo Hergé começou a editar essa
segunda aventura em 9 de Julho de 1931.
Mais tarde Hergé, mais maduro e mais politizado,
desculpando-se com a juventude e o espírito do tempo, reviu toda aventura em
1946, retirando-lhe as suas características mais colonialistas, revendo
diálogos e algumas cenas.
Nessa aventura, TinTin conhece o primeiro de uma galeria de
personagens infantis, o negrito Coco, companheiros das aventuras do célebre
“repórter”.
Em 1932 consegue, finalmente, iniciar a aventura que tanto
desejava desenhar, “TinTin na América”. Esta aventura seria totalmente
redesenhada em 1946, reflectindo muito da influência do cinema
norte-americano, cruzando os ambientes do “Cinema negro” e do Western. O filme
critica muito do ambiente social norte-americano, denunciando principalmente o
racismo e o tratamento dado aos índios.
“Os Cigarros do Faraó” vai ser a quarta aventura de TinTin,
que conhece uma nova dimensão, a do mistério e do fantástico, num ambiente e em
cenários mais elaborados que nas histórias anteriores.
Será totalmente redesenhada em 1955. Nesta aventura, passada
em vários países do Oriente, surgem vários personagens que vão marcar a série,
ao longo do tempo, como o vilão Rastapopoulos, o comerciante português
Oliveira da Figueira ou os famosos policias Dupond e Dupont, designados,
originalmente, como os agentes X33 e X33bis
Até ao “Lótus Azul”, de 1934 , continuação da aventura
anterior, a evolução das aventuras ia-se desenrolando de forma espontânea, sem
um plano pré concebido.
Foi o próprio Hergé que afirmou que, até o “Lótus Azul”, as
aventuras de TinTin “eram uma série de peripécias cómicas e emotivas (…) sem
argumento nem plano de trabalho. (…) Le Petit Vingtième saía às quartas feiras à
noite e por vezes acontecia-me não saber na véspera como é que eu libertaria
TinTin da má situação da qual eu o tinha abandonado durante a semana
anterior”(entrevista a Numa Sadoul).
Foi só a partir desta aventura que Hergé iniciou a forma de
trabalhar que seguiria daí para frente, documentando-se com rigor, planeando o
desenrolar da acção e usando a tinta da china.
Essa mudança foi provocada por uma carta que Hergé recebeu do
abade Gosset.
Tendo sido anunciado no jornal que a próxima aventura se
passaria na China, nessa carta este padre,
criticando a falta de rigor que tinha detectado nas aventuras anteriores
de TinTin, ofereceu-se para o ajudar na busca documental, e a evitar os clichés
sobre a China. Professor da Universidade de Lovaina, onde orientava estudantes
chineses, recomendou um jovem chinês, Tchang Tchong-Yen, para o ajudar a
documentar-se e a conhecer a realidade chinesa.
Nascido em Xangai, Tchang
era um estudante de pintura e escultura, e entre ele e Hergé, ambos
nascidos no mesmo ano de 1907, estabeleceu-se uma sólida amizade.
O jovem Tchang colaborou activamente com Hergé na recolha de
documentação sobre a China, ao mesmo tempo que o esclareceu sobre a cultura
desse país.
Também o introduziu na técnica do uso da tinta-da-china, que
permitiu a Hergé tratar as cenas nocturnas como sombras chinesas.
Como homenagem a essa colaboração, Hergé deu o nome desse
novo amigo a um dos personagens dessa nova aventura. Tchang, o personagem de
BD, voltará a reaparecer no “TinTin no Tibet”.
No final dos anos de 1930, Tchang, o verdadeiro, regressou à
China, onde se tornou um escultor famoso, aderindo à Revolução Chinesa do pós
guerra, mas acabando vítima da Revolução cultural dos anos de 1960.
A Guerra europeia e a situação política na China do pós
Guerra levou Hergé a perder o rasto de Tchang,
não desistindo, contudo, de o procurar.
Em 1976 conseguiu, finalmente, localizá-lo, e iniciou uma
troca de correspondência com o seu amigo da juventude, enviando-lhe exemplares
dos álbuns “O Lótus Azul” e “Tintin no Tibet”, onde Tchang aparecia como
personagens. Finalmente, em Março de 1981, os dois amigos, já septagenários,
reencontraram-se em Bruxelas.
O reencontro será de pouca duração, porque Hergé faleceu dois
anos depois. Tchang estabeleceu-se em França e, ainda antes de falecer em 1998,
homenageou o seu amigo, esculpindo o busto de Hergé.
A partir de “O Lótus Azul”, as aventuras seguintes de
TinTin, “A Orelha Quebrada” (1937), “A Ilha Negra” (1938), e “O Ceptro
d’Ottokar” (1939) vão caracterizar-se por um rigor narrativo e um grafismo mais
cuidado.
Foi também a partir daquela aventura que Hergé, segundo as
suas próprias palavras, se começou a interessar “verdadeiramente pelas pessoas
e pelos países aos quais” enviava Tintin.
Além de mudar de método, Hergé beneficiou também de se distanciar
da influência ideológica do padre Wallz, afastado do “Vigtiéme Siécle” em 1933,
devido às suas simpatias nazi-fascistas.
Se em o “Lótus Azul” Hergé alertava para o perigo do
expansionismo do Império Japonês e denunciava os estereótipos em relação ao mundo
asiático, em “O Ceptro de Ottokar”, cuja primeira prancha foi publicada em 4 de
Agosto de 1938, denunciou, de forma metafórica, o crescente perigo do
expansionismo nazi, chegando mesmo a apelidar um dos vilões dessa aventura e
“Müsstler”, combinação dos nomes de Mussolini e Hitler.
Recorde-se que, em 12 de Março desse ano tinha acontecido o
“Anschluss”, a anexação da Áustria pela Alemanha nazi.
A última prancha de “O Ceptro de Ottokar” foi publicada no “Le
Petit Vingtiéme” em 10 de Agosto de 1939, menos de um mês antes do início da
Segunda Guerra Mundial, em 1 de Setembro de 1939.
Nos finais de 1939 Hergé é mobilizado para o exército, sendo
colocado no norte da Bélgica. Apesar dessas obrigações militares, ele consegue
arranjar tempo para enviar 2 pranchas por semana da nova aventura de TinTin,
“TinTin no País do Ouro Nego”, que era a continuação da aventura anterior.
Quando em 9 de Maio de 1940 a Bélgica foi ocupada pelos nazis,
estes encerram o “Vigtiéme Siécle”, apesar deste jornal ser conservador e
simpatizante do fascismo.
Essa situação levou à interrupção da publicação dessa
aventura de TinTin, que só será retomada e concluída em 1948, sendo modificado
o início da história, assim como a fisionomia dos personagens.
No momento da invasão, e desde 10 de Abril, Hergé
encontrava-se em território francês, acompanhado da sua primeira esposa e do
seu gato, aguardando em Paris o desenrolar da situação no seu pais.
Regressado à Bélgica, Hergé encontra-se desemprego, recusando
um lugar no jornal oficial do movimento rexista, o movimento nazi-fascista
belga, mas, para sobreviver, aceita continuar a publicar as aventuras de TinTin
no jornal Le Soir, agora totalmente controlado pelos ocupantes nazis.
Hergé cria um suplemento juvenil nesse diário, “Le Soir
Junesse”, editado pela primeira vez em 17 de Outubro de 1940, onde reaparecem
as aventuras de TinTin, na aventura “O Caranguejo das Tenazes de Ouro”. Quando
esse suplemento encerra, em 23 de Setembro de 1941, devido às dificuldades em
obter papel para edição, essa aventura continua a ser publicada, mas agora em
pequenas “tiras” diária, na edição
principal desse jornal.
Irá publicar ainda, nessa época, outras três aventuras de
TinTin, “As Sete Bolas de Cristal”, “O Segredo do Licorne” e a continuação
desta aventura, “O Tesouro de Rackan o Vermelho”. Ao contrário das aventuras
editadas antes da ocupação, estas histórias não abordam acontecimentos reais,
praticando uma “literatura de pura evasão”, única forma de escapar à censura
nazi, até porque duas aventuras anteriores a esse período foram proibidas de
circular pelo ocupante nazi, “A Ilha Negra”, acusada pela censura nazi de
anglófila, por causa das referências à escócia, e “TinTin na América”, por se
passar noutro país inimigo, os Estados Unidos. Curiosamente, “O Ceptro
d’Ottokar”, por muitos considerada uma história anti-fascista, escapou à
censura.
Não podendo explorar a realidade que o rodeava, Hergé vai
acabar por enriquecer o mundo interior das aventuras de TinTin, surgindo neste
período uma galeria de personagens que vão valorizar a série, do ponto de
vista narrativo, psicológico e dramático.
O capitão Haddock surge pela primeira vez em “O Caranguejo
das Tenazes de Ouro”, Nestor e o castelo de Moulinsart em “O Segredo do
Licorne”, o professor Tournesol em “O Tesouro de Rackan o Vermelho” e Serafim
Lampião nas “Sete Bolas de Cristal”.
Quando a Bélgica é libertada pelos aliados, em 3 de Setembro
de 1944, todos os responsáveis e colaboradores do Le Soir são acusados de
colaboracionismo. A publicação de “As Sete Bolas de Cristal” nesse jornal é
interrompida nessa data. Hergé é preso por quatro vezes e atravessa um período
difícil. Só em Maio de 1946 é que Hergé consegue obter das forças aliadas um
“certificado de civismo”, pois nunca se descobriu qualquer atitude de Hergé, ou
no conteúdo das aventuras de Tintin publicadas durante a ocupação nazi, que
revelasse simpatia ou colaboração com os ocupantes.
Recorde-se, aliás, que Hergé tinha publicado, nos anos 1930
desenhos antimilitaristas anti-Hitler,
situação evidente num gag da série Quick e Flupke de 1933, ridicularizando os
discursos radiofónicos de Hitler e Mussolini, ou num personagem com uma vida
efémera de 4 gags, Monsieur Bellum, publicado em 1939 no semanário belga
neutralista “L’Ouest”, onde o personagem, na sequência de um desses gags, escreve numa parede “Hitler est un fou!”, sem esquecer o acima referido“O
Ceptro de Ottokar”, publicado também neste ano.
Como já referimos, até 1942 as aventuras de TinTin foram
editadas a preto e branco. A primeira aventura passada a cores foi “A Estrela
Misteriosa”, para o álbum editado em 1942.
A introdução da cor nas aventuras de TinTin ficaram a
dever-se à insistência de Louis Casterman junto de Hergé para que a edição em
álbum dessa série fosse a cores, para rentabilizar o uso de uma máquina de
offset que esse editor tinha adquirido.
Inicialmente Hergé mostrou-se renitente em colorir a sua
série, considerando que a introdução da cor retirava nitidez ao seu desenho,
para além de não dominar as técnicas de colorir. Por outro lado, aquele editor
também queria que Hergé, para a edição em álbum de TinTin, redesenhasse as
aventuras deste personagem para caberem nas 62 páginas de um álbum, limite
imposto pela falta de papel durante a guerra, e que se tornou norma. Hergé
ficou ainda preocupado com o aumento de trabalho que isso ia provocar.
Para o convencer, Casterman encorajou Hergé a rodear-se de
colaboradores. Este então lembra-se de um personagem que lhe tinha sido
apresentado em 1942 por Jacques Van Melkebeke, um amigo comum, um tal Edgar
Pierre Jacobs, cujo trabalho na revista Bravo, principalmente as suas
qualidades de colorista reveladas na aventura aí publicada, Le Rayon U, muito tinham
impressionado Hergé.
Meses depois daquele primeiro encontro, ambos iniciam a
colaboração para colorir, primeiro “TinTin no Congo”, depois o “Lótus Azul”, “O
tesouro de Rackan o Vermelho” e “O Ceptro de Ottokar”. Jacobs, para este último
álbum, ajuda Hergé a redesenhar cenários e uniformes.
Jacobs confessaria mais tarde que ambos se divertiram imenso
a rever “O Ceptro d’Ottokar”, onde caricaturaram, como personagens dessa
aventura, vários conhecidos e amigos.
Aliás, o próprio Jacobs acabou, anos mais tarde, caricaturado, dentro de um sarcófago na capa
de “Os Cigarros do Faraó”, editada em 1955.
Perante o êxito dessa colaboração, Hergé convidou Jacobs
para o ajudar a documentar-se para duas aventuras, o complemento da
interrompida “As 7 bolas de cristal” e a nova “O templo do Sol”. Jacobs foi
mesmo fundamental na elaboração dos cenários dessas aventuras.
Por essa altura, logo após a libertação, chegaram a ponderar realizar três histórias
diferentes em conjunto, assinando com um pseudónimo comum: OLAV:
Uma das séries era ao estilo Western, outra policial e a
terceira passar-se-ia no Pólo Norte.
Chegaram a elabora três pranchas, uma para cada série, mas entregaram-no
a um negociante de Bruxelas que desapareceu com elas, ficando essa idéia sem
efeito.
Também realizaram em comum o projecto de “Voir e Savoir”, uma
colecção de cromos consagrada à história dos meios de transporte, continuada
mais tarde pelos “Estúdios Hergé” .
Foi assim, de forma natural, que Hergé convidou Jacobs a
fazer parte da equipa fundadora da revista “TinTin”, fundada em 1946 ( e que se
publicou até 1988, conhecendo versões em vários países, como em França, cuja
edição se iniciou em 28 de Outubro de 1948, na Holanda, onde TinTin foi
deignado como Kuifje, e, a partir de 1968, em Portugal) .
O projecto da revista ficou
a dever-se a Raymond Leblanc, que combateu na resistência contra a
ocupação nazi, e, durante os 2 primeiros anos, as suas páginas foram
partilhadas por 4 autores, para além de Hergé e Jacobs, por Paul Cuvelier e Jacques
Laudy.
A edição belga original da revista TinTin publicou o seu
último número em 29 de Novembro de 1988, devido ao facto de a Fundação Hergé
ter retirado à editora Lombard o direito de publicar um jornal com o título de
TinTin.
“O Templo do Sol” foi
a primeira aventura de TinTin publicada a partir do 1º número da revista, saído em 26 de Setembro de 1946.
Jacobs trabalhava durante metade do dia para Hergé e, na
outra metade, na primeira aventura de Blake e Mortimer, publicada também logo
no primeiro número desse semanário, “O Segredo do Espadão”.
Jacobs acabou por desistir da colaboração com Hergé, em
1947, devido ao excesso de trabalho, mas também, ao que parece, por algumas
divergências pessoais, pois Jacobs terá exigido que o seu nome também constasse
na autoria das aventuras de TinTin, onde a sua colaboração, como cenarista e
colorista, foi fundamental para o êxito da série, até porque Hergé passou a
exigir que Jacobs passasse a dedicar-se a 100% a TinTin….mas mantendo Hergé como
único autor.
Apesar das divergências, a amizade entre os dois autores
manteve-se sempre forte até à morte de Hergé em 1983 (Jacobs só lhe sobreviveu
4 anos, falecendo em 1987).
Para colmatar o afastamento de Jacobs, Hergé fundou, em
1950, os “Studios Hergé”, reunindo à sua volta vários jovens e talentosos
colaboradores, tais como Bob de Moor, Jacques Martin, Roger Leloup e Boudouin
van den Braden, entre muitos outros.
O primeiro trabalho, sob orientação directa de Hergé, foi
retomar e completar a aventura “O País do Ouro Negro”, interrompida quando do
encerramento do Le Vigtiéme Siécle em 1940.
Seguiu-se um dos seus projectos mais ambiciosos da série,
“Objectivo Lua” e “Em Marcha sobre a Lua”. Seguiram-se “O Caso Tournesol” e
“Carvão no Porão”.
Uma outra componente dos Estúdios foi recupere alguns
projectos anteriores à guerra, como colorir as histórias mais antigas que ainda
não tinham passado por essa transformação, bem como colorir e rever “As
Aventuras de Jo, Zette et Jocko” e “As Explorações de Quick e Flupke”,
modernizando também alguns detalhes decorativos dessas histórias antigas.
O terceiro tipo de actividades desse estúdio foi dar
continuidade à colecção de cromos “Voir et savoir”, elaboração de calendários e
folhetos publicitários, usando personagens da série.
A consagração da série atinge o auge nos anos 1950, com
traduções das aventuras de TinTin em quase todo o mundo, com tiragens gigantescas
dos álbuns, aparecendo também nessa década, em 1959, o primeiro livro
consagrado a um autor de Banda Desenhada, “Le Monde de TinTin”, da autoria de
Pol Vandromme.
Contudo, o êxito mundial da série coincide com um período de
depressão, esgotamento e crise pessoal vivido por Hergé, iniciado em 1958.
Essa situação leva-o a acabar, com grande dificuldade, a elaboração do álbum “TinTin no Tibet”.
Ultrapassada a crise, com recurso à psicanálise, Hergé edita
aquela que é considerada por muitos a sua obra prima, “As Jóias de Castafiore”,
aventura publicada em 1963, onde um grupo de ciganos acampados junto a Moulinsart
dá oportunidade a Hergé de criticar os preconceitos racistas em relação a essa
etnia.
Nos anos de 1960, a série conhece um novo impulso, com a
realização de filmes, com personagens reis, baseados na série, o primeiro dos
quais foi “O Mistério do Tosão de Ouro”, em 1961, de dois filmes de animação de
longa metragem, entre estes a adaptação de “TinTin e o Templo do Sol”,
realizado em 1969, e de uma série de cinema de animação para a televisão, saída
dos Estúdios Hergé.
O ritmo de trabalho de Hergé, ao longo doa anos 60, tornou-se
mais lento. Depois de “As joias de Castafiore”, será preciso esperar cinco anos
por uma nova aventura de TinTin, “Voo 714 para Sidney”, editado em 1968.
Para a lentidão do seu ritmo de trabalho contribui a sua
nova paixão, a pintura, à qual ela chega mesmo a pensar dedicar-se em
exclusividade, abandonando a Banda Desenhada. Na mesma época Hergé viaja
imenso, não só pela Europa, mas, pela primeira vez, em 1971, aos Estados
Unidos, viajando para Taiwan em 1973. Neste caso foi o cumprimento de um
desejo, adiado desde 1939, quando tinha sido convidado pelo governo chinês
da altura a visitar o país, como paga pelo “serviço prestado” à causa chinesa,
então ameaçada pelos japoneses, no seu álbum “Lótus Azul”.
Em 1972 os estúdios Belvision de Bruxelas estreiam um filme
de animação, “Tintin e o Lago dos Tubarões” realizado por Raymond Leblanc, com
argumento de Michel Greg e a colaboração de Hergé.
Ao contrário de outros projectos cinematográficos de
aventuras de TinTin, que partiam das aventuras já editadas por Hergé, neste
caso aconteceu o contrário, publicando-se um álbum que é a cópia da animação,
onde Hergé teve um papel secundário na elaboração, tanto do argumento como dos
desenhos.
Desta vez será necessário esperar 8 anos por uma nova aventura de Tintin, a última
completada por Hergé, “TinTin e os Picaros”, editada em 1976.
Em 1979, o cinquentenário de Tintin realiza-se com grande
fausto e cerimonial em Paris e em Bruxelas, com uma grande exposição que
percorrerá a Europa, “O Museu Imaginário de TinTin”.
Durante o principio da década de 1980 as aparições públicas
de Hergé tornam-se cada vez mais raras. Por essa altura, o autor anuncia que
está a desenhar uma nova aventura que se passará no meio das artes plásticas,
ao mesmo tempo que prepara um gigantesco fresco para uma estação de metro em
Bruxelas.
Sabe-se, entretanto, que Hergé sofre de leucemia e, em 25 de
Fevereiro de 1983, na sequência de uma falência cardíaca, é hospitalizado,
acabando por falecer no dia 3 de Março, pelas 22 horas. Tinha 75 anos.
O seu 24º álbum, “TinTin et L’Alph’Art”, passado no meio do mundo da arte, ficou assim inacabado.
Ao contrário de outras séries, Hergé deixou o pedido aos
seus herdeiros, a sua 2º esposa, Fanny Remi, 27 anos mais nova, para que a série
não voltasse a ser retomada por outros autores.
Tendo-se voltado a casar, com o inglês Nick Rodwell, dono da
Loja TinTin em Londres, Fanny fundou com o seu actual marido a Moulinsart ,
sociedade detentora de todos os direitos da obra de Hergé.
Sabe-se, entretanto, que até 2054, será editada uma nova
aventura de Tintin, com o objectivo de evitar que a série e os seus direitos de
autor caiam no domínio público, o que acontecerá nesse ano.
As gerações mais novas, que já não viveram as aventuras de
TinTin nas revistas entretanto desaparecidas, terão tido um primeiro contacto
com a série no filme de Spielberg 2011.
Hergé e a “sua” “linha clara” fizeram escola entre muitos
outros autores de BD, como os holandeses Joost Swarte e Theo van den Boogard,
os franceses De Floch, Ted Benöir e Serge Clerc e Tardi ou o belga Alain
Goffin, sem esquecer Yves Chaland que homenageia as suas influências na série
Freddy Lombard, reivindicando-se igualmente como seus “herdeiros” estéticos
autores norte-americanos como Charles Burns ou Chris Ware, sem esquecer os
muitos autores por ele influenciados que passaram pelos “estúdios Hergé” e pela
revista TinTin.
Interrogado sobre a morte e a reincarnação, Hergé respondeu
que gostaria de retornar à terra sob a forma de um gato siamês, “mas vivendo no
seio de uma boa família”.
Se virem um por aí, mostrem-lhe um álbum de Tintin e
peçam-lhe um autógrafo. No mundo de Hergé, nunca se sabe!!
As Controvérsias
Foram muitas as controvérsias geradas à volta das aventuras
de Tintin, como as já referidas à volta de das duas primeiras aventuras.
Houve mesmo quem visse na relação entre Tintin e o capitão
Haddock sinais de homossexualidade.
O facto de haver poucas mulheres na série foi outro motivo
de polémica.
Defendendo-se desta acusação, Hergé afirmou que essa
situação não era por misoginia, mas porque, para ele, “a mulher nada tem a
fazer num mundo como o TinTin. É o reino da amizade viril e esta amizade nada
tem de equívoco. Claro que aparecem poucas ou nenhumas mulheres. E quando elas
surgem são monstros, como Castafiore…Se eu crio uma personagem de rapariga, ela
tem de ser bonita, caso contrário não vale a pena, e que fará ela num mundo
onde todos os indivíduos são caricaturas?...Amo demasiadamente a mulher para a
caricaturar” (entrevista a Numa Sadoul).
Ao longo do tempo surgiram várias versões ilegais da TinTin,
algumas parodiando a série, muitas de caracter mais “underground”, variando
entre o teor pornográfico, e o uso da série para propaganda política.
Talvez a mais antiga versão pirata de TinTin tenha sido uma
tira curta, intitulada “TinTin au pays des nazis”, publicada em 1944 e
satirizando o trabalho de Hergé no jornal Le Soir, controlado pelos ocupantes
nazis.
Entre as muitas edições piratas usando TinTin para
propaganda e paródia política, a mais famosa e disputada por colecionadores é
“The Adventure of TinTin – Breaking Free” da autoria de J. Daniels, um pseudónimo
não identificado, publicado na revista anarquista britânica Attack
Internacional, em 1988 e reeditada em Janeiro de 1999.
Nesta “aventura” de 176 páginas TinTin vive, de forma miserável, num bairro operário londrino e participa numa violenta revolução para derrubar
o governo britânico.
Também na revista humorística norte-americana National
Lampoom surgiu um “TinTin no Líbano”, uma critica à politica de Ronald Reagan
para o médio-oriente.
Do mesmo teor político, são muitas as aventuras de
“contrafacção” envolvendo TinTin e o seu universo, como “TinTin no Iraque”, de
2003, “TinTin em El Salvador”, “TinTin dans le Golf”, “L’Énigme du 3ième
message”, uma provável referência ao terceiro segredo de Fátima, ou “Les Harpes
de Greenmore”, onde TinTin aparece como guerrilheiro do IRA.
São também muitas as obras de teor erótico-pornográfico
envolvendo TinTin e outras personagens da série.
Desse teor, as mais conhecidas e reproduzidas são “TinTin en
Suisse” e“La Vie Sexuelle de TinTin”.
“TinTin en Suisse” foi desenhado por Charles Callice em
1976, para uma editora de Amesterdão, edições Sombrera.
Esta paródia erótica está interdita na França e na Bélgica,
mas a sua edição continua autorizada na Holanda.
Sobre este álbum foi feita, em 1983, uma paródia ao próprio
álbum, “Kuifje en de Vervalsers”
Uma versão reciclada dessa aventura ilegal foi realizada por
Jan Bucquoy. Este Jan Bucquoy foi responsável pela interdita “La Vie Sexuelle
de TinTin”.
Existem muitas outras paródias de tipo erótico-pornográfico
explorando o universo de Tintin, como “TinTin na Tailândia” ou “TinTin pour les
dames”, numa alusão irónica à quase ausência do universo feminino nas histórias
de TinTin.
Mas é aquela “Vida Sexual de TinTin” que mais polémica tem
gerado, com edições em várias línguas e um processo judicial que, em 1992,
condenou o seu autor Jan Bucquoy.
Este Bucquoy, um autor belga de banda desenhada e com
carreira cinematográfica, nascido em 1945 e de tendência anarquista, foi autor
de várias bandas desenhadas de teor erótico e mesmo pornográfico, tendo
publicado a primeira versão dessa “aventura” no nº3, fora-se-série, da revista
“Bede X”, em 1980. Mais tarde essa história foi reeditada pela revista belga
“Belge”, motivando o processo judicial referido em cima. Apesar disso essa aventura
foi publicada num album de 40 páginas em 1993, com o título “La Vie Sexuelle de
TinTin”.
Uma das mais recentes controvérsias à volta da figura de
TinTin foi motivada por um conjunto de pranchas e quadros do artista plástico
bretão Xavier Marabout, nascido em 1967, representando imaginárias cenas do
quotidiano de um TinTin adulto e namoradeiro, em cenas quase eróticas.
Uma parte dessa obra imagina, em duas pranchas “mudas”, uma
relação entre TinTin e outra personagem de BD, Yoko Uno, personagem criada por
Roger Leloup, um autor de BD que trabalhou nos Estúdios Hergé.
As outras obras em acrílico sobre tela, num total de 23, exploram
uma imaginada vida amorosa de TinTin, baseado em obras de Edward Hopper,
expoente máximo do chamado híper-realismo.
Como seria de esperar, essa interpretação foi contestada
pela “Sociedade Moulinsart”, que detém os direitos de autor da série TinTin,
mas que acabou por perder o processo no tribunal de Rennes, que, no início
de 2021, decidiu a favor do artista bretão.
Marabout começou as suas obras, usando a figura de TinTin,
em 2014 e, em 2015, expôs algumas das suas obras na Bélgica, exposição que
motivou a reacção da “Moulinsart”, tendo o processo começado a corre em
tribunal em 2017, acabando este por decidir a favor da liberdade artística do
pintor bretão.
Além disso, a Moulinsart foi condenada a pagar uma indeminização
ao artista plástico, no valor de 10 mil euros, e a pagar as custas do processo,
no valor de 20 mil euros.
Marabout não pretende continuara a explorar a série TinTin
nas suas obras, mas gostaria de realizar parcerias idênticas às que realizou
com TinTin e Hoper, desta vez misturando o universo de Philémon de Fred, com o
de Salvador Dalí, ou o de Dragon Ball Z com o de Mark Rothko.
ANEXO 1 - Relação das aventuras de Hergé , publicadas no Mundo e em Portugal:
Título
Original/título definitivo |
Título
em Português |
Local
da 1º Publicação |
Data
|
1ª
publicação em Portugal |
Data |
Data
1º álbum |
Data
1º álbum em língua portuguesa |
Les
Aventures de TinTin repórter au pays des Soviets/ TinTin au Pays des Soviets |
TinTim
no País dos Soviéticos |
Le
Petit Vingtiéme |
10-01-1929
a 11-05-1930 |
TinTin |
31-07-1982
a 02-10-1982 (ficou incompleta) |
Setembro
1930 |
1999 |
Les
Aventures de TinTin Reporter au Congo/Tintin au Congo |
TinTim
no Congo |
Le
Petit Vingtiéme |
05-06-1930
a 11-06-1931 |
O
Papagaio |
13-04-1939
a 14-12-1940 (com
o Título de “Tim-Tim em Angola” |
1931 |
1978 |
Les
Aventures de TinTin Reporter à Chicago/Tintin en Amérique |
TinTim
na América |
Le
Petit Vingtiéme |
03-09-1931
a 20-10-1932 |
O
Papagaio |
16-04-1936
a 20-05-1937 (1ª aventura de TinTim em Portugal, com o título “Aventuras de
Tim-Tim na América do Norte” |
1932 |
1978 |
Les
Aventures de TinTin Reporter en Orient/ Les Cigares du Pharaon |
Os
Charutos do Faraó |
Le
Petit Vingtiéme |
08—12-1932
a 08-02-1934 |
O
Papagaio |
24-06-1937
a 12-05-1938 (com o título “Aventuras de Tim-Tim no Oriente” |
1934 |
1967 |
Les
Aventures de TinTin en Extrême-Orient/Le Lotus Bleu |
O
Lótus Azul |
Le
Petit Vingtiéme |
09-08-1934
a 17-10-1935 |
O
Papagaio |
16-06-1938
a 16-03-1939 (com o título de “Novas Aventuras de Tim-Tim”) |
1936 |
1967 |
Les
Nouvelles Aventures de TinTin/L’Oreille Cassée |
A
Orelha Quebrada (ou
o Ídolo Roubado) |
Le
Petit Vingtiéme |
05-12-1935
a 25-02-1937 |
O
Papagaio |
04-01-1940
a 26-12-1940 (com o título de “Tim-Tim e o mistério da Orelha Quebrada” |
1937 |
1968 |
Les
Nouvelles Aventures de TinTin et Milou/L’île Noir |
A
Ilha Negra |
Le
Petit Vingtiéme |
15-04-1937
a 16-06-1938 |
O
Papagaio |
16-01-1941
a 26-02-1942 (Tim-Tim na Ilha Negra” |
1938 |
1961 |
TinTin
en Syldavie/Le Sceptre d’Ottokar |
O
Ceptro de Ottokar |
Le
Petit Vingtiéme |
04-08-1938
a 10-08-1939 |
Diabrete |
09-03-1949
a 18-03-1950 (“Aventuras de Tim-tim e Rom-Rom”) |
1939 |
1961 |
Les
Aventures de TinTin et Milou/Le Crabe aux Pinces d’Or |
O
Caranguejo das Tenazes de Ouro |
Le
Soir |
17-10-1940
a 18-09-1941 |
O
Papagaio |
16-04-1942
a 10-06-1943 (“Tim-Tim no Deserto”) |
1941 |
1964 |
Les
Aventures de TinTin et Milou/L’Étoile Mystérieuse |
A
Estrela Misteriosa |
Le
Soir |
20-10-1941
a 21-05-1942 |
O
Papagaio |
12-08-1943
a 16-08-1945 (=) |
1942 |
1961 |
Les
Aventures Extraordinaires de Tintin et Milou/Le Secret de la Licorne |
O
Segredo do Licorne |
Le
Soir |
11-06-1942
a 14-01-1943 |
O
Papagaio |
O6-02-1947
a 15-04-1948 (=) |
1943 |
1961 |
Les
Aventures de TinTin et Milou/Le Trésor de Rackman le Rouge |
O
Tesouro de Rackham o Terrível |
Le
Soir |
19-02-1943
a 23-09-1943 |
Diabrete |
25-03-1950
a 21-031951 (“O Tesoiro do Cavaleiro da Rosa”) |
1945 |
1962 |
Les
Aventures de TinTin et Milou/Les Sept Boules de Cristal |
As
7 Bolas de Cristal |
Le
Soir |
16-12-1943
a 03-09-1944 |
Diabrete |
04-04-1951
a 29-12-1951 (=). |
1948 |
1965 |
Le
Temple du Soleil |
O
Templo do Sol |
TinTin
(ed.belga) |
26-09-1946
a 22-04-1948 |
Cavaleiro
Andante |
05-01-1952
a 22-08-1953 (=). |
1949 |
1965 |
Au
Pays de L’Or Noir |
TinTim
no País do Ouro Negro |
TinTin
(ed.belga) |
16-09-1948
a 23-02-1950 |
TinTin |
22-03-1980
a 22-11-1980 (=). |
1951 |
1967 |
On
a Marché sur la Lune/ Objectif Lune |
Rumo
à Lua |
TinTin
(ed.belga) |
30-03-1950
a 30-12-1953 |
Cavaleiro
Andante |
17-10-1953
a 31-12-1955 (com
o título de “Tim-tim na Lua” edita as duas aventuras em sequência com o mesmo
título) |
1953 |
1969 |
On
a Marché sur la Lune |
Explorando
a Lua |
TinTin
(ed.belga) |
30-03-1950
a 30-12-1953 |
Cavaleiro
Andante |
Ver
nota em cima |
1954 |
1969 |
L’Affaire
Tournesol |
O
Caso Girassol |
TinTin
(ed.belga) |
22-12-1954
a 22-02-1956 |
Cavaleiro
Andante |
02-03-1957
a 03-05-1958 (“O Caso da Arma Secreta”). |
1956 |
1978 |
Coke
en Stock |
Carvão
no Porão |
TinTin
(ed.belga) |
31-10-1956
a 01-01-1958 |
Cavaleiro
Andantes |
03-10-1959
a 03-12-1960 (“Os mercadores de Ébano”) |
1958
|
1978 |
TinTin
au Tibet |
TinTim
no Tibete |
TinTin
(ed.belga) |
17-09-1958
a 25-11-1959 |
Cavaleiro
Andante |
18-11-1961
a 04-08-1962 |
1960 |
1978 |
Les
Bijoux de La Castafiore |
As
Jóias de Castafiore |
TinTin
(ed.belga) |
04-07-1961
a 04-09-1962 |
Zorro |
06-04-1963
a 06-06-1964 (“As Jóias da Prima Dona” |
1963 |
1978 |
Vol
714 pour Sidney |
Voo
714 para Sydney |
TinTin
(ed.belga) |
27-09-1966
a 28-11-1967 |
TinTin |
30-11-1968
a 24-05-1969 |
1968 |
1978 |
Le
Lac aux requiens |
Tintim
e o Lago dos Tubarões |
Casterman |
1972 |
TinTin |
02-10-1976
a 26-02-1977 |
1973 |
1980 |
TinTin
et les Picaros |
Tintim
e os Pícaros |
TinTin
(ed.belga) |
16-09-1975
a 13-04-1976 |
TinTin |
17-04-1976
a 25-09-1976 |
1976 |
1978 |
TinTin
et L’Alph-Art |
TinTin
e a Alph-Art |
|
|
|
|
1986 |
2004 |
Anexo 2 - Entre mais de 830 personagens da série TinTin, registe-se as mais importantes:
Personagens |
1º aparição |
Data |
Em álbum |
As origens |
TinTin |
TinTin
no País dos Soviético |
10
de Janeiro de 1929 |
Setembro
de 1930 |
O
irmão Paul, 5 anos mais novo que Hergé, foi a inspiração para TinTin. O nome
é muitas vezes apontado como tendo origem num personagem criado em 1897 por
Benjamin Rabier, pioneiro da Bd franco-belga, autor muito apreciado por Hergé
na sua infância, e que se chamava TinTin-Lupin, embora Hergé sempre o tenha
negado. |
Milou |
TinTin
no País dos Soviético |
10
de Janeiro de 1929 |
Setembro
de 1930 |
0
nome do mais famoso fox-terrier baseou-se na alcunha de uma amiga de Hergé,
Marie-Louise Van Cutsem, Malou para os amigos. Curiosamente Hergé gostava mais
de gatos do que de cães. |
Capitão
Archibald Haddock |
O
Caranguejo das tenazes de Ouro |
1941 |
1941 |
Baseadono
título do filme de 1931 “O Capitão Craddock”. Há também quem defenda, como
origem, o almirante Nicholas Haddock, do século XVIII ou o comandante do
Titanic, Herbert James Haddock. Quanto ao feitio, Hergé considerava-o, ao
lado de TinTin e de Tournesol, um dos seus “alteres-ego”. |
Professor
Tryphon Tournesol |
O
Tesouro de Rackan o Terrível |
1944 |
1944 |
Inspirado
no engenheiro suíço Auguste Piccard, recordista na altitude em balão, e
também no irlandês John Phillip Holland, inventor do submarino. |
Dupond
et Dupont |
Os
Cigarros do Faraó |
29
de Dezembro de 1932 |
1955 |
Inspirado
no pai e no tio de Hergé, Alexis e Léon Remi. Inicialmente designados por X33
e X33bis. |
Rastapopoulos |
Os
Cigarros do Faraó |
29
de Dezembro de 1932 |
1955 |
Baseado
na figura e na vida de Aristoteles Onassis. |
Bianca
Castafiore |
O
Ceptro d’Ottokar |
5
de Janeiro de 1939 |
1947 |
Inspirada
nas grandes divas da ópera do século XX, nomeadamente na soprano italiana
Renata Tebaldi, a grande rival de Maria Callas. |
Séraphin
Lampion |
O
Caso Tournesol |
19
de Janeiro de 1955 |
1955 |
O
chato com que nos cruzamos muitas vezes na vida |
Tchang |
O
Lótus Azul |
1934 |
1936 |
Uma
referência evidente ao chinês Tchang Tchong-jen, amigo da juventude de Hergé. |
Abdallah |
TinTin
no País do Ouro Negro |
16
de Junho de 1949 |
1950 |
A
incarnação da criança insuportável e mimada. |
BiBliografia consultada e/ou recomendada (Toda ela existente
no arquivo pessoal do autor do blog, entre muitas outras obras) :
- De Avonturen van Kuifje in Portugal (A Aventura de TinTin
em Portugal), “Sapperloot” nº 5 , 2004;
- BOLÉO, João P., “Hergé fascista ou aventureiro?”, in
revista do Expresso de 16 de Janeiro de 1999, pp.34 a 41;
- CALADO, Jorge, “Aventura de TinTin – Objectivo Portugal”,
in E –Revista do “Expresso”, 1 de Outubro de 2021, pp.20 a 28;
- CRATO, Nuno, “TinTin e a Ciência”, in “Única”, suplemento
do Expresso, 8 de Março de 2003, pp.68 a 72;
- GALLO, Claude le, “TinTin herói do século vinte”, tradução
de Vasco Granja, publicada ao longo do 1º ano da edição da revista portuguesa
TinTin, de um artigo publicado no nº 4 do 3º timestre de 1967 da revista “Phénix”;
- “Marabout : J´’ai gagné mais j’arrête” (entrevista com o
autor dos polémicos quadros de TinTin ao estilo Hooper), in Casemate nº 147 de
Junho de 2021, pp.8 a 12;
- MARMELEIRA, José, “No Museu de Hergé”, in Ípsilon-Público,
de 1 de Outubro de 2021;
- MENDES, Pedro Boucherie, “TinTin, a Eurostar”, in
E-Revista do “Expresso”, pág.27, 1 de Outubro de 2021;
- LE Musée Imaginaire de TinTin, Sociéte des expositions du
Palais des Beaux-Arts de Bruxelles, 1979;
- PESSOA, Carlos, As Aventuras de TinTin no Público – Guia
de Leitura, ed. Público/Oficina do Livro,2004;
- PESSOA, Carlos, “Hergé – Morte e vida de um mito”, in
Público Magazine, nº 157 de 7 de Março de 1993, pp.14 a 25;
- PESSOA, Carlos “TinTin Partiu há 70 anos para o país dos
soviéticos”, in “Pública” (suplemento dominical do jornal Público),10 de
Janeiro de 1999, pp. 20 a 27
- PEETERS, Benoît, Hérge – Filho de TinTin, ed. Verbo 2003 (
a mais completa biografia de Hergé);
- “Porquoi on aime le capitaine Haddock?”, dossier da
revista Les Cahiers de La BD, nº 15, Julho/Setembro de 2021, pp.90 a 115;
- Le rire de Tintin – les secrets du génie comique d’Hergé,
nº especial L’Espress/BeauxArts magazine, 2014;
- La Saga du Journal TinTin, número especial da revista
Paris-Match, 2016;
- Special Hergé, Schtroumpf-Les Cahiers de La Bande
Dessinée, nº14/15, Setembro/Dezembro de 1971 (inclui uma longa e célebre
entrevista dada por Hergé a Numa Sadoul, publicada na revista portuguesa
“TinTin”, ao longo do 6º ano da sua edição, com tradução de Vasco Granja);
- Special Hegé – Vive TinTin, número especial da revista (A
Suivre) publicado por ocasião da morte de Hergé em Abril de 1983;
- TAVARES, João Miguel, “Hergé em formato familiar – As
“Aventuras de Joana, João e do Macaco Simão” são mais um tijolo no edifício da
linha clara erguido pelo mestre belga”, in Diário de Notícias, 30 de Julho de
2001;
- Tintin – C’est l’aventure, nº 9, Setembro/Novembro de
2021, ed. Geo
- TinTin – L’Aventure Continue, “hors série” da revista
Télérama, Janeiro de 2003;
- TinTin grand Voygeur du siècle, nº especial da revista
GEO, 2000;
- TinTin – survivra-t-il? , Haga – Revue de Bande Dessinee,
nº16-17 , Inverno de 1974;
- “La Vie Sentimentale de TinTin – Hergé contre Hoper”, in
Les Cahiers de La BD, nº8, Julho/Setembro de 2019, pp.65 a 77;
1 comentário:
Uf! Trabalho bem ilustrador do mergulho do autor no mundo da banda desenhada e de TinTin desde a infância. Merecia um caderno ou pequeno brochura para melhor se apreender a estrutura e cómodo manuseio... Exposição na Gulbenkian a não perder. Cuidado... Admirador de TinTin
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