Tradicionalmente, em eleições legislativas, repartimos o nosso voto, ora pelo Bloco de Esquerda, ora pelo CDU, mais por voto útil conjuntural do que por convicção (situação diferente em eleições europeias, autárquicas e presidências, onde as nossas opções de voto são mais amplas, incluindo o PS e independentes na equação)
Contudo, como apoiantes da chamada “geringonça”, considerámos um erro o
desentendimento à esquerda para continuar um caminho de construção de uma
economia social e justo, em oposição ao modelo neoliberal iniciado por Cavaco Silva,
agravado por Durão Barroso, desvirtuado por José Sócrates, o Tony Blair
português, e descaradamente anti social no governo Passo “ir além da Troika”
Coelho, tudo “barrado” pela cedência ao corrupto sector financeiro.
Reconhecemos que se estava a entrar num impasse, em parte provocado
pela pressão das instituições europeias, às quais o PS se mantem irritantemente
obediente, em parte pelo agravamento da situação social e económica provocada
pela epidemia, em parte pela “cheiro a dinheiro” do apetecido PRR, apelo a que
alguns sectores do PS não resistem.
Contudo, pensamos que foi um erro estratégico que, quer o BE, quer o
PCP, votassem contra um dos orçamentos mais socias de que há memória, ainda por
cima num momento em que era necessária alguma estabilidade política, para
enfrentar a epidemia.
Já nas últimas eleições, as de 2019, tínhamos considerado a hipótese de
votar LIVRE, já que, em termos programáticos, estava muito mais próximo dos
nossos valores do que o PS, o PCP ou o BE.
Mas, mais uma vez, receando que o nosso voto não elegesse ninguém, optámos
pelo voto útil, e votámos CDU.
A estratégia até não foi de todo errada, já que não contribuímos para a
eleição desse erro de casting que foi a eleição da deputada Joacine Katar
Moreira, que muito desprestigiou o LIVRE, enquanto se manteve no parlamento
como sua representante, pelo seu radicalismo desnecessário e intolerante, mas
de cujo partido, em boa hora, se afastou.
Desta vez o LIVRE apresenta como candidato por Lisboa, distrito
eleitoral onde nos incluímos, Rui Tavares, que se apresenta com um programa de
esquerda, europeísta, liberal, ecologista e inovador.
Tivéssemos noutro círculo eleitoral e a nossa opção talvez fosse outra.
Mas num círculo como o de Lisboa parece que é possível eleger, no mínimo,
um deputado que represente uma esquerda arejada, sem desperdiçar um voto.
Pela primeira vez, em muitos anos, vamos votar por convicção, sem tacticismo.
Vamos votar LIVRE!
1 comentário:
Caro Venerando, finalmente encontro alguém com quem estou totalmente de acordo.
As tuas reflexões são sempre lúcidas, serenas, racionais. Subscrevo-as por inteiro.
Mas não resisto a um desabafo mais emocional: se encontrar na rua alguma arruada da CDU ou do BE terei muita dificuldade em não os mandar à merda...
Estúpidos! Bastava terem-se abstido. Salvavam a face e não abriam caminho à direita - que é o que está a acontecer como vemos pelas sondagens.
Abraço
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