Hoje, quem pretende justificar as opiniões mais absurdas, mais abjectas
e reacionárias, trata logo de diabolizar o “politicamente correcto”.
Como se o politicamente correcto não fosse uma conquista civilizacional.
Politicamente Correcto, quer dizer isso mesmo: Politicamente Correcto!
Qual foi a palavra que não perceberam?
Vamos ao dicionário:
“Politicamente”: “que está de acordo com as regras da politica, da
organização e gestão dos assuntos públicos, de administração e do poder”.
Também pode significar agir com diplomacia, cortesia, delicadeza, com
habilidade, astúcia e perspicácia (Dicionário de Língua Portuguesa
Contemporânea, [ DLPC] Academia de Ciências de Lisboa, ed. Verbo, 2001).
Não é esse o tipo de actuação que todos defendemos em democracia e
liberdade? Não é esse tipo de actuação que nós devemos exigir aos agentes e
responsáveis políticos e da administração?
Pode-se dizer que, quando agem em proveito próprio, quando se deixam corromper ou quando abusam do
poder, tais agentes políticos…não estão a ser políticos. E devem ser
penalizados por isso;
“Correcto” : “que está de acordo com as regras estabelecidas; que não
tem falhas, que está certo, que é
exacto, que está de acordo com as regras estabelecidas de carácter ético e
social, que age com delicadeza, que é justo (DLPC) .
Não é tudo isto que devemos exigir dos diversos poderes e dos
responsáveis pela governação de um país? Não é esse o exemplo que devemos, não
só exigir a nós próprios e dar aos nossos filhos, enquanto cidadãos, mas também
aos principais agentes com responsabilidades no funcionamento das instituições
democráticas, como agentes de autoridade, juízes, professores, jornalistas,
médicos, gestores públicos, agentes económicos e financeiros?
Os antónimos de “correcto” são…errado, inadequado, incorrecto,
desonesto, indigno, injusto, grosseiro inexacto… (Dicionário Houaiss de
Sinónimos e Antónimos, ed. Círculo dos Leitores, 2007). É isto que queremos
defender, quando diabolizamos o “politicamente correcto”?
Talvez o problema e a confusão comecem no estabelecimento do tipo de
regras e códigos que devem obedecer a uma acção e atitude politicamente
correctas.
Tenho por mim que a celebre frase da Revolução Francesa da Igualdade, Fraternidade
e Liberdade é o ponto de partida, à qual se deve juntar a formação de um Estado
Democrático e Constitucional, baseado na soberania de cidadãos livres e na
separação de poderes.
Depois devemos acrescentar os avanços civilizacionais na melhoria das
condições de vida da Humanidade e no respeito pela própria humanidade, tudo
muito bem sintetizado na Declaração Universal dos Direitos Humanos.(clicar para a sua leitura integral).
Aliás, esta declaração devia ser de leitura e estudo obrigatório nas
escolas e Universidade, e, já agora, de leitura obrigatória nos actos de
contratação dos agentes acima referidos e, em especial, nos partidos políticos e
nos órgãos de comunicação social.
Está lá quase tudo, sem segundas interpretações do que, quanto a nós,
separa o que é politicamente correcto daquilo que é politicamente incorrecto.
A esse documento devemos acrescentar outros avanços civilizacionais,
como a defesa do Ambiente, os Direitos das Crianças, os Direitos das Mulheres, os Direitos dos Animais, o respeito pelas minorias e a construção de um Estado Social .
Como pessoas não somos perfeitos, somos muitas vezes politicamente
incorrectos, mas não devemos fazer jus dessas atitudes e imperfeições nem delas “programa
politico” ou argumento, e devemos exigir
aos poderosos que, no mínimo, não defendam o ódio e a violência, respeitem os
Direitos Humanos e Ambientais e os conhecimentos científicos, ou seja…sejam
politicamente correctos.
Existem interpretações fundamentalistas e exageros na aplicação e defesa do que é politicamente correcto? Existem. Mas isso não anula o fundamental da defesa do que é politicamente correcto
O resto é conversa de gente ignóbil, ignorante, mal formada e mal
intencionada, seja qual for a a sua origem ou formação politica social, cultural
ou religiosa.
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