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quarta-feira, 7 de novembro de 2018

O novo “milagre” de Tancos


Na altura em que se comemora o centenário do armistício que acabou com a Primeira Guerra Mundial, vem à memória uma “frase batida” dessa época, o chamado “milagre de Tancos”.

Refere-se essa frase à forma rápida como foi treinado e preparado o Corpo Expedicionário Português para avançar para a frente Europeia.

Os resultados desmentem o tão apregoado “milagre”, mas não é esse o tema dessa crónica.

Por triste ironia da história esse centenário coincide com um outro “milagre” de Tancos, este menos edificante e “patriótico”.

Refiro-me ao trágico-cómico episódio do roubo de armas e à posterior encenação da sua “recuperação”, que mais parece um episódio tirado a papel químico da “guerra” de Solnado.

Como cidadão, e com base nas notícias, informações e contra-informações , no meio de “fake news” das redes sociais e dos "correios das manhãs", e do desenvergonhado aproveitamento politico feito à volta desse acontecimento, só gostava que me respondessem às seguintes questões:

- quem roubou as armas? Não acredito que um único homem, o antigo fuzileiro João Paulino, até agora o único acusado pelo roubo, tenha conseguido desviar a quantidade de material envolvido no roubo sem, por um lado, a ajuda de muita gente, dado ser fisicamente impossível que esse fosse um roubo perpetrado por um homem só, e, por outro, sem a “ajuda” e conivência ao mais alto nível da estrutura militar;

- roubadas,  quem é que estava na “fila” para comprar essas armas?;

- até que ponto este roubo é um caso isolado? Não me parece que, pela preocupação de rapidamente encobrir o roubo por parte da Policia Judiciária Militar, este seja um caso isolado de roubo de armas dentro do exército;

- porque sentiu a Policia Judiciária Militar tanta preocupação em encobrir o roubo, encenando a sua recuperação e tentando desviar a Policia Judiciária civil da investigação?

Estas são as perguntas que qualquer cidadão deve fazer e são aquelas que os jornalistas e a oposição não parecem muito interessadas em fazer.

O roubo em si tem, em primeiro lugar,  uma importância, digamos, de 70% em todo este caso.

Só em segundo lugar é que me interessa saber, digamos com uma importância de 20% em todo este caso, a razão da encenação montada pela PJM.

Finalmente, apenas em 10% é que me interessa saber quem, no poder politico, sabia da encenação, acreditando que, se o fez, foi para preservar a dignidade das Forças Armadas, até porque no meio da  cacofonia sobre os que sabiam ou não, entram como principal “fonte” os arguidos da PJM, que procuram atirar arei aos olhos da comunicação social para se safarem e desviarem a  investigação do essencial que é, repetimos , a de saber quem roubou, quem participou no roubo, se este caso é isolado e quem se pretende proteger com toda esta confusão.

Infelizmente, a comunicação social e a oposição preocupam-se, em 90%, em esclarecer "apenas" esta última questão, importante, mas , quanto a nós a  menos importante, desviando assim a atenção das duas outras premissas do caso, as mais graves.

É urgente que a justiça e o governo respondam rapidamente, e de forma clara, àquelas perguntas.

Se não o fizerem, não se queixem depois se casos como este abrirem caminho a um qualquer Bolsonaro à portuguesa.

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