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quarta-feira, 14 de novembro de 2018

Homenagem ao Jornal



Quanto mais sigo redes sociais, mais saudades sinto da magia de desfolhar um bom jornal e daquele activo cheiro a tinta.

Desde miúdo que me lembro de ter jornais em casa.

Entrei para o mundo através deles, seguindo nos títulos em letras garrafais o que se passava num mundo, que para mim não ía mais longe do que a casa e do que o quintal onde vivia, quanto muito da praceta junto.

As minhas primeiras leituras foram os quadradinhos, de meia página ou página inteira, do suplemento dominical do “Primeiro de Janeiro”, todo em cores vivas, com o “Príncipe Valente” de Hal Foster e o “O reizinho” de O. Soglow, incluindo ainda, na época de Natal, os filmes da Disney aos quadradinhos.

Lá em casa entravam, além do “Primeiro de Janeiro”, do qual o meu pai era correspondente em Torres Vedras, jornais como o “Diário de Lisboa” e a “República” e, mais tarde, “A Capital”.

A eles juntavam-se revistas que o meu pai assinava ou comprava, como a “Vértice”, a “Vida Mundial”, a “Seara Nova” ou o “El Correo da Unesco”.

Por vezes, quando se registavam grandes acontecimentos (como a morte de Kennedy ou a chegada do Homem à Lua) lá se compravam outros títulos, como o “Diário Popular” e o “Século”.

O mau avô era comprador habitual do “Século” e todas as 5ªs feiras dava-me o suplemento infantil de BD “Pim-Pam-Pum”, antes de me começar a dar semanalmente o “TinTin”.

Mais tarde também entrava em nossa casa o “Expresso”, seguido desde o primeiro número.

O grande boom de jornais deu-se com o fim da censura e a leitura começou a ser mais diversificada, juntando-se ao “Diário de Lisboa” , à “República” e ao “Expresso”, lidos colectivamente lá em casa, o “O Jornal” e “O Jornal Novo”, comprados pelo meu pai, e o “Gazeta da Semana” e o “Página Um”  e, mais tarde, o “Diário Popular” (com um excelente suplemento literário) comprados por mim.

Muito mais tarde, aqueles e outros jornais continuaram a entrar regularmente pela casa dentro, a eles juntando-se “O Sete”, o “Jornal de Letras”, "O Europeu" e a revista “Grande Reportagem”….

Com o tempo, o leque de escolha foi-se reduzindo.

Deixou de haver diferenças entre matutinos e vespertinos , que se diferenciavam também pelo formato. Os que saiam de manhã eram de grande formato, os da tarde de formato mais reduzido.

Também deixou de se publicar várias edições no mesmo dia quando de grandes acontecimentos nacionais ou mundiais.

Depois, com o aparecimento das televisões privadas, do “Correio da Manhã” e , principalmente, dos canais por cabo e mais recentemente das redes sociais, quase todos os grande títulos que não alinhassem no estilo tablóide, que não pusessem o futebol ou os crimes em grande destaque nas primeiras páginas começaram a abrir falência.

Os jornalistas deixaram de ter controle sobre os jornais, agora ao serviço da publicidade e do sector financeiro que os controla por inteiro.

Hoje sobra o “Público” e o cada vez mais interessante, apesar do formato um pouco esquisito, “Diário de Notícias”, que, para sobreviver, se tornou semanário, mas que é o único que tem verdadeiras reportagens interessantes de ler ( e por isso, talvez esteja condenado a prazo…!!!).

O resto, com raras excepções, é mixórdia politiqueira, "justiceira", economicista e futebolística, tentando ir atrás do estilo arruaceiro e alarve que domina as redes sociais, cada vez mais a principal fonte de desinformação da maioria.

Quando os jornais acabarem, talvez seja tarde demais para a democracia.

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