Estive na manifestação de 2 de Março em Lisboa, como já
tinha estado na manifestação de 15 de Setembro.
Não faço ideia qual foi a que teve maior participação, mas
penso que ambas estiveram muito próximas em número, talvez um pouco menos gente
em Lisboa, compensada pela grande manifestação no Porto e noutras cidades do
país.
Aliás, entrar na guerra dos números é uma armadilha que só visa desvalorizar a importância do que
está por detrás desta manifestação, na qual, infelizmente, alguns organizadores
e alguma comunicação social acabaram por cair.
As pessoas que estiveram no percurso nunca estiveram
todas ao mesmo tempo no Terreiro de Paço, muitas chegaram aqui e saíram antes
do fim, outras foram ficando pelo caminho e muitas ainda só chegaram à praça
mais de meia hora depois de já terem terminado as intervenções e de se ter dado
inicio à debandada final.
O que eu vi foi uma multidão social e politicamente muito
idêntica à que esteve na rua no 15 de Setembro, quer na sua composição, quer na
sua indignação, quer na sua quantidade, só que desta vez notava-se menos
esperança e menos alegria no ar.
O silêncio impôs-se por vezes às palavras de ordem, os semblantes
carregados impunham-se por vezes à ironia de algumas frases.
A agressividade contra o sistema era mais carregada nas
palavras de ordem do que na outra manifestação e, desta vez Cavaco Silva “juntou-se”,
de forma mais consistente, à galeria de personagens que estiveram no centro da
contestação.
Um sentimento que eu observei em muitas pessoas foi o de
que, apesar de fazerem questão em estarem presentes, manifestarem
o sentimento que esta forma de luta já não resolve nada, tornando-se necessário
passar a um outro patamar de contestação.
De algum modo, esta manifestação foi uma das últimas
oportunidades dadas ao poder político e financeiro para “ouvir” a indignação dos cidadãos.
Se continuarem a
desvalorizar ou a ignorar essa indignação, sem apresentarem uma luz de
esperança que trave o desespero dos cidadãos, não sei o que é que vem a seguir,
mas tenho a certeza que a impunidade em que vivem terá os dias contados…
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