Até ao próximo domingo 30 de Outubro podem visitar a 33ª edição do AMADORA BD.
Podem ver AQUI, uma vesita a essse espaço.
Os dias que rolam, numa visão plural, pessoal e parcial de um mundo em rápida mutação. À esquerda, provocador e politicamente incorrecto, mas aberto à diversidade...as Pedras Rolam...
Podem ver AQUI, uma vesita a essse espaço.
(foto revista Sábado)
Aprendi a respeitar e tolerar “adversários” com o meu pai, mas foi ao cruzar-me, ao longo de um dia inteiro, com o Dr. Adriano Moreira que aprendi, definitivamente, a praticar o respeito e a tolerância pelos que pensam politicamente diferente de mim.Foi a altura certa aquela em que me cruzei como “Senador”,
jovem como eu era, ainda imbuído de certezas e da “superioridade moral” das
minhas convicções.
Nesse diz desfiz preconceitos, sem abdicar das minhas
ideias, e tive o privilégio a assistir àquela que foi, talvez , a única aula de
que me lembro daquele curso, uma aula sobre estratégia atlantista.
Adriano Moreira é daquelas figuras que sempre souberam estar
à frente do seu tempo e nos ajudaram a construir uma democracia tolerante e nos
convidam a cultivar todos os dias a procura da compreensão do mundo à nossa
volta.
Faz falta a sua maneira sábia e abrangente de conhecer a
realidade histórica que nos rodeia, alargando o horizonte para além do que o
nosso “nariz” alcança.
Numa época dominada por fake news, imeditismos, parcialismo,
propaganda, intolerância, pensamento único, a sua visão abrangente e sábia, se já era rara, torna-se agora uma perda irreparável.
Que descanse em paz.
(proposta de capa, inédita, para o fanzine torriense Impulso)
A história da Banda Desenhada em Torres Vedras ainda está por fazer, pelo que registamos aqui apenas um breve apontamento que possa servir de base para que, futuramente, a história da 9ª arte nesta cidade possa ser feita.Convém, em primeiro lugar, que não se confunda a Banda Desenhada com o cartoon e a caricatura, nem mesmo com o cinema de animação, embora seja um “primo” próximo destas artes.
Em Torres Vedras existe uma boa tradição de caricaturistas e cartoonistas, pelo menos desde a edição do semanário humorístico “A Laracha”, editado pela primeira vez em 20 de Janeiro de 1929, do qual se editaram 10 números, onde aparecia uma caricatura por edição, a maior parte da autoria de Amílcar (Guerreiro), outras, em menor número, de Cruz Martins e de um tal Jacques.
Também o Carnaval de Torres foi um dos palcos onde se manifestou a veia artística, com recurso a caricaturas e cartoon´s, de muitos artistas torrienses, ao longo dos tempos, principalmente nos muitos folhetos de promoção dessa festa, tradição essa que conheceu o seu auge com a publicação da revista “O Barrete”, a partir de 1996.
Coube a estas duas associações o lançamento dessa revista, com uma tiragem de mil exemplares, impressa na Sogratol, uma revista de humor com textos, banda desenhada e cartoon´s da autoria de vários autores locais que foram passando, com maior ou menor regularidade, pelas páginas dessa revista.
Foram fundadores Antero Valério, Daniel Abreu, José Afonso Torres, Jorge Delmar, José Eduardo Santos, Jorge Humberto Nogueira, José Pedro Sobreiro, Luís Fortes e Valdemar Neves, aos quais se deve juntar o trabalho do Carlos Ferreira, não referido nessa primeira edição, mas que foi um dos principais responsáveis pelo trabalho de sapa que está por detrás da construção de um projecto com este.
Aos fundadores foram-se juntando outros autores, ao mesmo tempo que alguns dos fundadores íam ficando pelo caminho.
Na última edição, a 19ª, no ano de 2015 mantinham-se o Antero Valério, o Carlos Ferreira, o Jorge Delmar, o José Eduardo Santos e o José Pedro Sobreiro.
Joaquim Moedas Duarte (desde 2004), Joaquim Ribeiro (desde 2013), Luís Fili Rodrigues (desde 2005), Manuela Catarino (desde 2009) e Sérgio Tovar ( desde 2004) completam a equipa desta última edição.
A revista não foi publicada em 2001 e, em 2010, passou a ser patrocinada pela Promotorres. Desde 2011, a até 2015, foi editada apenas pela Associação do Património.
Para além dos nomes citados foram muitos os autores que passaram pelas suas páginas, com destaque para João Sarzedas (2006-2013), Jaime Umbelino (1997-1999) ou José Almendro (1998-2007).
Colaboraram ainda, irregularmente, por vezes apenas numa ou duas edições, a Ana Palma, o Carlos Bartolomeu, o Jordão Pereira, o Jorge Ralha, o João Camilo, o Vitor Alexandre, o Carlos Carneiro, o José Sanina, o Marcos Ferreira, o Venerando António, o Nuno Raimundo, o Fernando Miguel, o Rui Matoso e o Tiago Ferreira.
(ver reprodução de todas as capas do Barrete AQUI)
Recentemente, um caricaturista torriense dessa revista, o professor José Sanina, viu uma caricatura sua selecionada para o World Press Cartoon de 2022.
O que diferencia a BD do simples cartoon é a dinâmica da sua narrativa, numa sequência de imagens (fixas e bidimensionais, o que, por sua vez, a distingue do desenho animado), onde a fala dos personagens é representado dentro de um “balão” ou filoctera.
Embora chegassem regularmente a Torres Vedras alguns dos grandes títulos históricos da divulgação de BD, como o “Mosquito” (1936-1953), o “Diabrete” (1941-1951), ou o “Cavaleiro Andante” (1952-1962), entre muitas outras revistas de quiosque, juntamente com as excelentes páginas dominicais do Primeiro de Janeiro (1948-1995), e quase todos os jornais publicassem diariamente “tirinhas” de BD, sem esquecer os suplementos como a “Nau Catrineta” no Diário de Notícias (1964-1974) ou o “Pim-Pam-Pum” no Século (1925-1977), não encontramos qualquer BD publicada localmente ou por autores locais, antes dos anos 70.
Podemos referir uma única excepção, a publicação de umas “tirinhas”, com as características gráficas da BD e o uso de balões, mas de tipo publicitário, da Casa Hipólito, no jornal do “Torreense” e no “Badaladas”, na década de 1950.
Foi o aparecimento em Portugal da revista Tintin, em 1 de Junho de 1968, que contribui para o crescente entusiasmo do alguns jovens torrienses pela Banda Desenhada, tentando imitar o que liam produzindo “revistas” caseiras de exemplar único, dadas a ler à família.
Essa técnica foi muito divulgada nas escolas, para reproduzir testes, e acabou por ser aproveitado para elaborar jornais escolares, onde se tornava possível a divulgação de Bandas Desenhadas amadoras.
Foi o que aconteceu em Janeiro/Fevereiro de 1971, no Liceu de Torres Vedras, com a publicação do jornal “O Padrão”, editado pelo “núcleo de jornalismo do Liceu Nacional D. Pedro V – secção de Torres Vedras”, ligado à Mocidade Portuguesa, o qual, nas duas primeiras edições, incluiu um suplemento, “O Padrão Ilustrado”, onde saíram 4 pranchas das “Aventuras de João Alfredo”, intitulando-se essa primeira, única e incompleta aventura “O Assalto ao Banco Nacional”, da autoria de Vaam.
Em 1972 surgiu o primeiro fanzine português de BD, o Argon e, em 6 de Janeiro de 1973, nascia o fanzine “Impulso”, editado pelo Liceu de Torres Vedras, usando a técnica do stencil electrónico, recorrendo aos recursos técnicos da escola para a reprodução de testes.
Expansão dos fanzines em Portugal deveu-se também a um certo abrandamento da censura, fruto da chamada “primavera marcelista”.
Quando da edição do Impulso apenas se editavam mais 4 fanzines em Portugal, para além do pioneiro “Argon”, editavam-se o “Quadrinhos”, o “Copra” e o “Saga”.
Em Janeiro de 1973 editavam-se em Portugal quatro revistas de BD com edição regular : para além do já citado Tintin, existiam o “Jornal do Cuto”, o “Jacto” e o “Mundo de Aventuras”.
Por sua vez, na imprensa editavam-se suplementos semanais colecionáveis de BD, como os citado “Quadradinhos”, “Pim-Pam-Pum” e “Nau Catrineta”.
O grupo que esteve na origem da edição do Impulso tinha em comum, para além da amizade pessoal, escolar e de vizinhança, de longa data entre alguns dos seus membros, o gosto pela leitura de Banda Desenhada e o desejo de editar aquilo que, de forma por vezes muito naif, cada um de nós ía fazendo.
A edição do “Impulso” contou com o apoio do então reitor do liceu, o Dr. Semedo Touco, homem liberal e compreensivo, e que nos garantiu, não só o suporte técnico, mas também o suporte financeiro para a edição desse fanzine, sem nunca ter intervindo nos conteúdos deste.
O fanzine tinha uma tiragem média de 150 exemplares e um custo de cerca de mil escudos (cinco euros) por edição, dois terços dos quais eram suportados pela escola e o restante pelas vendas. Inicialmente o “Impulso” vendia-se ao preço unitário de dois escudos e meio (pouco mais de …um cêntimo), mas o seu preço foi subindo ao longo do ano, 3$50 a partir do nº3, 5$00 a partir da 4ª edição.
Fizeram parte da equipa do “Impulso” o Vaam, o seu irmão Mário Luis, o Carlos Ferreira, o João Nogueira (Janeca), o Mário Rui Hipólito, o Manuel Vilhena, o Calisto, o José Eduardo Miranda Santos (Zico), este exterior à escola mas amigo dos restantes, e que possui uma das mais variadas e extensa colecções de álbuns e revistas de BD que todos liam avidamente.
Ao grupo de vizinhos e amigos de longa data, juntaram-se dois prometedores autores de BD, o Joaquim Esteves e o Antero Valério, sem dúvida os que, de todos nós, possuíam melhores qualidade artísticas. Mais tarde juntaram-se à equipa o Jorge Barata e o António Trindade.
O Carlos Caetano também andou com o grupo, mas acabou por não integrar a colaboração.
Entretanto começaram a colaborar, nuns casos com textos sobre BD, noutros com desenhos, outros amigos de outra regiões do país, como o José de Matos-Cruz, o Carlos Pessoa, o Jorge Magalhães, o Al Bonjour, o Carlos Nina, o A. Vilarinho e a Maria Clara.
Do Impulso foram editados 5 números ao longo de 1973, feitos com a “revolucionária” tecnologia de então , o “stencil electrónico”, existente no liceu para a feitura dos testes escolares, contando então com a preciosa colaboração do Emílio Gomes que dominava essa tecnologia e ensinou a todos o seu uso.
Como todos se envolveram na vida associativa e política em 1974 e 1975, só voltaram, e pela última vez, a editar o “Impulso” em 1976, agora financiado pelo Cine-clube de Torres Vedras.Refira-se ainda que, em finais de Outubro de 1976, a equipa do Impulso organizou a primeira exposição de BD realizada em Torres Vedras e uma das primeiras no país, integrada no 8º Encontro Nacional de Cine-Clubes.
Em Janeiro de 1973, o mais velho do grupo tinha 16 anos, quase 17, e os mais novos tinham cerca de 11 anos.
(Ver mais sobre o Impulso AQUI).
Nas suas páginas surgiu também a primeira entrevista conhecida com Vasco Granja, dirigida pelo “Zico”, e que gerou alguma polémica com o fanzine “Aleph”.
Em Novembro de 2008 o Antero Valério editou o livro de cartoon´s e banda desenhada “Como se tornar um docentezeco”, reunindo a sua abordagem critica à acção da ministra da educação Maria de Lurdes Rodrigues, cartoon´s que mereceram reprodução em cartazes de manifestações de professores realizadas nessa época.
Nessa ocasião foi editado um número único de um novo fanzine torriense de BD, o “Bêdêzine”, editado pela Cooperativa de Comunicação e Cultura.
José Basto publicava, nesse ano de 1985, uma BD humorística no suplemento “Espaço Novo” do jornal “Badaladas”.
A capa desse número Zero do “BêDêzine” foi da autoria do consagrado autor nacional Arlindo Fagundes e contou ainda com a colaboração de um histórico da BD nacional, o José Ruy, este com um texto sobre a condição de autor de BD em Portugal e um desenho original .
Uma pequena menção a João Sarzedas, nascido em Lisboa em 9 de Fevereiro de 1943, mas que se estabeleceu profissionalmente em Torres Vedras em 1979, falecendo em 27 de Julho de 2013.
Com o seu irmão Fernando, colaborou activamente como cartoonista e autor de BD nos dois primeiros números do fanzine Aleph, editados ainda antes do 25 de Abril, respectivamente em Julho de 1973 e Março de 1974.
Era um apaixonado pela Banda Desenhada e pelo cartoon, artes que desenvolveu ao longo da sua vida, dedicando-se profissionalmente às artes gráficas.
Ainda antes do 25 de Abril, e no período imediatamente a seguir, colaborou em várias outras publicações, como o Jornal do Exército, ou no famoso suplemento humorístico do Diário de Lisboa, "A Mosca", e numa revista feminina liderada por jornalistas como Helena Neves e Fernando Dacosta.
Em Abril de 1974 editou o seu primeiro livro de banda desenhada, “Luz Verde Para Tuntas”.
Em Torres Vedras continuou a dedicar-se à sua actividade preferida, o cartoon e a Banda Desenhada, que repartiu como outra paixão sua, a actividade policiária e charadista, sendo membro da Associação Policiarista, tendo realizado várias ilustrações e mais de 50 capas do orgão oficial daquela associação, "Célula Cinzenta".
Foi colaborador nos jornais Badaladas e Frente Oeste, fez parte da organização da já mencionado Exposição de Banda Desenhada de Torres Vedras, realizada em finais de 1985, e co-responsável pela edição do fanzine “BêDêzine”.
Foi contudo na já mencionada revista “O Barrete” que evidenciou todas as suas qualidades enquanto cartoonista e autor de Banda Desenhada.
Vítima de doença prolongada, ainda teve tempo para deixar pronto o livro de cartoon´ intitulado "Sorria com Eólicos na Paisagem" é editado a título póstumo em 7 de Fevereiro de 2015, que tem como temática uma realidade muito marcante na zona oeste, a profusão de moinhos eólicos, numa região com uma longa tradição de moinhos e azenhas para moer o trigo.
Recorde-se ainda que, entre 20 de Junho de 1975 e o início de 1976, se publicou, durante cerca de 30 semanas, uma série de “tirinhas” de Banda Desenhada, nas páginas do jornal local de Torres Vedras "Oeste Democrático", intitulada “Rei Minimus” da autoria de Vaam.
Regularmente, a partir dessa década de 1970, encontram-se várias bandas desenhadas em jornais escolares editados pelas escolas locais.
Recorde-se ainda que, em 2008, a Banda Desenhada foi o tema escolhido para o Carnaval de Torres Vedras desse ano:
Seria igualmente interessante comemorar o cinquentenário do fanzine Impulso, em 2023, com a reactivação da organização regular de “Exposições”, “Encontros” ou salões de BD.
Vejam reportagem fotográfica da exposição AQUI.
Não deixa de ser tragicamente irónico que hoje, dia 21 de Setembro,
seja o “Dia Internacional da Paz”, declarado como tal pala ONU, exactamente no
dia em que só se fala em guerra, devido a mais um panfletário e belicista
discurso do ditador Putin.
A minha esperança é que o feitiço se vire contra o “feiticeiro” (Putin)
e o povo russo se levante de vez contra a guerra.
O grave é que os povos, muitas vezes, levam tempo a acordar, como
aconteceu em Portugal, onde só “acordou” após 13 anos de uma guerra injusta, e
não se pode estar tanto tempo à espera que os russos “acordem, até porque, o
que se perfila para substituir Putin é ainda pior.
Além disso, o agravante da situação actual é que estamos a falar de uma
potência nuclear.
Claro que o discurso belicista do outro lado também tem ajudado à festa,
principalmente por parte da NATO e dos Estados Unidos, que aproveitam a
situação para “vender” o seu “produto” e “entalar” a União Europeia.
Pior ainda, a dificuldade em resolver esta situação é que esta guerra
não pode ter vencedores nem vencidos, mas também não pode acabar a beneficiar o
infractor (a Rússia de Putin).
No meio disto, as únicas personagens com “tino” e capazes de fazer
alguma coisa pela humanidade (o papa Francisco e o secretário-geral da ONU,
António Guterres) não têm qualquer poder de intervenção.
Paradoxalmente, a “esperança” de pôr cobro ao conflito e evitar mais
destruição reside em países como a China e a Turquia, ambos governados por
regimes ditatoriais e autocracias que não são muito mais recomendáveis do que o regime
criado por Putin.
No fundo, no fundo, deviamos continuar a insistir na defesa da paz, mas
uma paz que não pode ser defendida à custa da Ucrânia e do seu povo.
A “curva” está cada vez mais apertada, mas costuma-se dizer que é nas “cusrvas
apertadas” que surgem os grandes “condutores”.
Não vislumbro nenhum “condutor” capaz de ultrapassar a “curva”, mas cada um de nós pode tentar dar uma “forcinha” na defesa da paz, para que, mesmo em tempo de guerra, não se perca de vista esse grande objectivo da humanidade ou, depois da “guerra”…não haverá humanidade!
Pessoa amiga, que conhecia alguém que frequentava uma “igreja” evangélica local, contou-me que esse alguém lhe contou que, no final da “missa”, o “padre” circulava pela “igreja”, com um cesto na mão, a apregoar: “quem tem põe [dinheiro], quem não tem tira”.
Até que, certo dia, alguém resolveu tirar dinheiro do cesto, sendo
imediatamente interpelado pelo “padre”, que, fixamente frente a essa pessoa ía
repetindo “quem tem põe, quem não tem tira!”, ao que essa pessoa replicou : “mas
eu não tenho (dinheiro), por isso estou a tirar!”.
Recebeu de imediato resposta do “padre”: “mas agora tem e por isso tem
de pôr o que tirou”.
É assim que eu, como pensionista, me tenho sentido em relação ao actual
debate sobre a actualização das pensões.
Tendo antecipado a minha reforma há 8 anos, depois de vários anos com
cortes frequentes no ordenado, por imposição da “troika” e do “brutal” aumento
de impostos do passos-coelhismo, recebi uma reforma que foi metade daquele que
me garantiram quando comecei a trabalhar, com a agravante de ter sido empurrado
para essa decisão, para não perder ainda mais e de, mesmo reformado, pagar de IRS
e ADSE muito mais do que estava previsto, de acordo com a lei que ainda estava em vigor nos
últimos anos da minha carreira.
Até, certo ponto, tudo bem, foi uma decisão minha, fiz contas ao que
podia cortar, mas acreditava que a lei iria ser cumprida e não ía, mesmo com o
rendimento mais baixo do que aquele que previa a poucos anos do final da
carreira, perder o poder de compra que essa pensão me garantia.
Infelizmente vivemos no país onde a lei só é cumprida para “tramar” os
cidadão e beneficiar o Estado e os poderosos, pois, quando essa lei beneficia o
cidadão comum ( o que trabalha ou vive da pensão), logo se arranjam mil e um
argumentos, ou para a não cumprir ou para mudar a lei, geralmente com efeitos
retroactivos, se for para tramar o cidadão.
Ora é isso que se passa com a situação da actualização das pensões.
Os cortes que sofremos nos cálculos das pensões, de acordo com a lei de
2005, são para toda a vida, mas a lei que calcula a actualização das
pensões já não conta para toda a vida.
Desde que me reformei, há 8 anos, a minha reforma nunca foi
actualizada, como previa a lei, com o recurso às mais variadas desculpas “económicas”.
A primeira vez em que havia possibilidade de cumprir a lei, como acontece agora, esta só é cumprida
pela metade, falando-se até na sua alteração para “beneficiar o infractor”.
Note-se que a desculpa para não cumprir a lei, que é a de seguir as
recomendações da União Europeia para não aumentar salários nem pensões de
acordo com a inflação, não é seguida no que respeita às carreiras dos funcionários
da União Europeia, como se lia ontem no artigo “A reforma encapotada da
segurança social” do economista Ricardo Cabral, no jornal Público:
“Sabe-se que a Comissão Europeia recomenda aos governos dos Estados-
membros que não indexem os salários dos funcionários públicos [ e as pensões] à
taxa de inflação, para evitar uma “espiral inflacionista”. No entanto, de
acordo com a revista Politico, os funcionários da Comissão Europeia (baseados
na Bélgica e no Luxemburgo) vêem os “salários ajustados anualmente para
compensar aumentos do custo de vida. Mas este aumento pode ocorrer duas vezes
por ano e ser aplicado retroactivamente, se a taxa de inflação sobe acima dos
3% no período de referência, que foi o que ocorreu (…). A indexação é corrigida
das alterações ao poder de compra de funcionários públicos em dez
Estados-membros da União Europeia”, que perderam 1,1% do poder de compra nesse
período (esses dez países não incluem Portugal). Assim, em Junho de 2022, os
salários dos funcionários da Comissão Europeia foram aumentados em 2,4%,
retroactivamente a janeiro de 2022. E serão aumentados de novo em dezembro de
2022”.
Assim é fácil à União Europeia pedir “sacrifícios” aos seus cidadãos e
apoiar o discurso ilegal dos governos em relação à reposição do poder de compra
dos trabalhadores e pensionistas.
Não sei porquê, mas tudo isto me faz lembrar a anedota com que comecei esta crónica.
Infelizmente é isso que se tem assistido como “arma” de combate contra
Putin, confundindo o ditador russo com o povo russo e a sua cultura.
Podemos perceber a raiva dos ucranianos, mas já não podemos perceber
que essa raiva seja alimentada, de forma disparatada, pelos seu líderes
políticos e, ainda menos, pelos aliados da causa ucraniana (alguns desses
“aliados” alimentaram a máquina de guerra russa, aceitaram chorudos negócios
como oligarcas russos e ainda beneficiam do gaz e do petróleo russo!!!)..
Ainda menos percebemos o alinhamento da União Europeia e das suas
lideranças com esse tipo de discurso e atitude.
Aliás, proibir cidadãos russos de se deslocarem ao “ocidente” é uma
forma de os manter sujeitos à propaganda de Putin. Saindo do país, mesmo que em
turismo, pelos contrário essa era uma oportunidade desses cidadãos ficarem a
conhecer outras versões do que se passa na Ucrânia, podendo divulga-las, quando
regressassem ao país, contribuindo para desacreditar a versão que Putin tenta
vender na sua comunicação social.
No caso português até temos um bom exemplo para “não ir na cantiga” da
perseguição de tudo o que é russo.
Nos anos 60 e início dos de 70 do século passado, o ditador português,
Salazar, incapaz de ver os sinais dos tempos ( e deles foi avisado por gente
que lhe era fiel, como Marcelo Caetano ou Adriano Moreira), foi incapaz de
resolver o problema colonial, envolvendo o país numa guerra sangrenta e
criminosa, condenada por grande parte da comunidade internacional, nomeadamente
na ONU.
Se a atitude dos países democráticos, que condenavam a Guerra
Ultramarina, fosse a mesma que hoje tomam em relação aos russos, os nossos
emigrantes, em França, na Alemanha, na Suíça, no Canadá, teriam sido
perseguidos e intimidados pelos governos, pela imprensa e pelos cidadãos desses
países, recordando que a maior parte dos emigrantes eram apolíticos e alguns
até apoiariam o regime de Salazar e a Guerra Colonial.
A diferença é que, nesses tempos, tínhamos o “ocidente” governado por
grandes líderes, que sabiam distinguir valores, e hoje ele é governado por
figuras liliputianas, incultas, apenas preocupadas com audiências televisivas e as "opiniões" nas redes sociais.
Não deixa também de ser curioso que, muitos dos que não se cansam, e
bem, de perorar contra atitudes
xenófobas, são os mesmos que argumentam, com a mesma veemência, defendendo
atitudes russófobas.
Percebe-se assim que a sua critica à xenofobia não passa de uma atitude
de puro oportunismo, para “parecer bem” e alinhar com o “politicamente
correcto”, mas, perante os russos, duplamente vítimas do ditador Putin e da
“perseguição” do “ocidente”, esses “líderes” , “pensadores” e “influenciadores”
quebram o verniz e são xenófobos como aqueles que criticam.
No fundo, no fundo, a russofobia é a xenofobia dos ditos “democratas”
ricos e “livres pensadores”.
Podia acrescentar ao título que …e nós arrastados com ela!.
De facto, pertenço à geração que nasceu com Isabel II como rainha e
chegou aos dias de hoje, nos primeiros anos da “terceira idade”, a tê-la como
referente de quase 70 anos.
O meu primeiro “contacto” com a rainha começou quando colecionava selos,
onde encontrava o seu perfil desenhado em muitos deles, ainda antes de saber quem era aquela figura.
Penso que, tal como se dizia no século XX em relação à Rainha Vitória,
que, nascida em 1819, reinou de 1837 a 1901, e marcou a chamada era vitoriana, ou
a geração vitoriana, a minha geração vai ficar conhecida por “geração isabelina”.
São raras as figuras mundiais que sirvam com “referentes” para
caracterizar o “tempo longo”, o tempo que vem do final da 2ª Guerra até aos
nossos dias (do início da 3ª Guerra??).
Não sendo monárquico, considerando até que a monarquia é uma aberração
dos tempos modernos, penso, contudo, que a monarquia “só ficava bem”, num
sítio, na Inglaterra, talvez porque pertenço à geração que, vendo desaparecer
várias referências históricas e assistindo a uma evolução histórica
vertiginosa, sem igual na História humana, via na Rainha de Inglaterra uma
espécie de referente seguro de continuidade e…”estabilidade”.
Não deixa de ser um mau presságio que essa referente nos deixe neste
momento, quando a humanidade enfrenta várias ameaças, da Guerra atómica total
aos caos ambiental.
É também um mau presságio para a Europa, mas principalmente para a
Grã-Bretanha, que Isabel II nos tenha deixado dois dias depois da tomada de
posse da nova governante britânica Liz Truus, figura patética, desonesta,
oportunista e malformada, uma espécie de Trump de sais, para pior.
Também não deixa de ser de mau presságio que o novo rei se intitule
Carlos III, pois os dois Carlos anteriores não tiveram um final feliz. O
primeiro, reinando em clima de guerra civil, acabou executado. O Segundo
Carlos, esteve exilado no inicio do seu reinado, então dominado pelos “republicanos”
de Cromwell . Ao regressar marcou o seu reinado com graves conflitos com o
parlamento, chegando mesmo a governar em ditadura. Enfrentou grandes pestes no
seu reino e o célebre incêndio de Londres. A causa da sua morte ainda hoje é motivo de debate,
defendendo alguns que foi envenenado. Fica também para a história o seu
casamento com Catarina de Bragança, filha de D. João IV, a única rainha inglesa
nascida em Portugal.
Para já, seja qual for o futuro da monarquia inglesa, a “Época Isabelina” fica marcada por grandes acontecimentos e transformações históricas e será a referência comparativa com a época pós-Isabel II.
A propósito da defesa da justa causa Ucraniana, contra a criminosa invasão russa de um país soberano, tenho encontrado, muitas vezes pela primeira vez ao longo da minha vida, muita gente que não costumo encontra a defender “causas justas”.
Entre os mais velhos, muitos nunca os encontrei a criticar a criminosa
Guerra, francesa primeiro, norte-americana depois, do Vietname.
O mesmo posso dizer em relação à condenação dos crimes da França na
guerra de independência da Argélia, ou dos muitos crimes do “ocidente” nas mais
variadas guerras coloniais do século XX.
Também houve muitos que nunca encontrei a condenar a Guerra Colonial
portuguesa. Alguns até tenho visto por aí a justifica-la e até a negar os
crimes de guerra nela cometidos.
Também não têm sido vistos a defender a causa palestiniana contra o
Estado cada vez mais criminoso de Israel (assim considerado recentemente pela
Amnistia Internacional).
Quando da criminosa e ilegal invasão do Iraque, com as consequências
conhecidas, ou dos criminosos bombardeamentos da NATO na Sérvia, ou dos crimes
cometidos por tropas ocidentais no Afeganistão ( e para nada, como se viu
recentemente com o regresso dos fanáticos Taliban´s ao poder), ou da violentíssima
Guerra do Iémen, liderada pelo grande aliado norte-americano no Médio Oriente,
o criminosos regime da Arábia Saudita, com armas ocidentais, também nunca os vi
por aí.
Nem os vejo na defesa do povo curdo, usado como moeda de troca pela
NATO para que a Turquia aceite a entrada da Finlândia e da Suécia nessa
organização.
O mesmo posso dizer quanto à ausência da qualquer sinal de indignação
em relação às intermináveis guerras africanas, alimentadas pelos mais variados
imperialismos (Chinês, russo, norte-americano, francês, inglês…) e pelos tão
endeusados “mercados financeiros” e da industrias do armamento (aliás, até há pouco,
foram as industrias de armamento ocidental que alimentaram a máquina de guerra
de Putin).
Sim, já sei, para muitos de vocês o “ocidente” não comete crimes de guerra, apenas “danos
colaterais”!
Mas ainda bem , estou feliz por, finalmente, ver muitos de vocês a abraçar
uma causa justa, a justa causa da defesa
do povo ucraniano contra a criminosa invasão russa.
Como o crescimento do belicismo internacional nos leva a temer, esta
não é nem vai ser a única guerra injusta das próximas décadas ( se é que, em pleno
século XXI, existem “guerras justas”!!), e, por isso, espero continuar a vê-los
indignados com as próximas guerras e próximos crimes de guerra, venham eles de
onde vierem.
Bem-vindos pois à defesa das boas causas!