As redes sociais proliferam de acusações de Corrupção e de debates sobre
quem é mais ou menos corrupto, com frases pequenas, cheias de insinuações e
insultos, esquecendo-se de um pormenor: a presunção de inocência.
Mas para os demagogos que proliferam nas redes sociais pouco interessa a
verdade ou a mentira e muito menos a discussão serena.
Uma comunicação social sensacionalista, misturada com uma classe
politica despida de valores éticos e uma ignorância generalizada são o terreno
fértil para a proliferação de demagogos e populistas.
Claro que foi uma geração de políticos, formados nas “jotas” e na
manipulação de fundos europeus, oportunistas de carreira, exibindo a vaidade
para disfarçar o vazio de ideias e sempre prontos a fazer favores a qualquer
negociante engravatado a nadar em dinheiro, que deu o mote aos demagogos que
dominam as redes sociais.
Claro que a corrupção é um grave problema nas democracias actuais. É
mesmo um perigo, a prazo, para a própria sobrevivência da democracia.
Claro que não existe uma “corrupção de direita” e uma “corrupção de
esquerda”, nem a corrupção do meu “amigo” é melhor que a do meu “inimigo”.
Os “gritadores” das redes socias, “impolutos”, sempre prontos a
apontar a “corrupção do vizinho” e a
desculpar a “corrupção lá de casa” dividem-se em grupos:
-aqueles que confundem campanhas de desinformação com verdade dos
factos. Antes de alguém ser julgado, encontra escarrapachado todo o processo
nas primeiras páginas dos jornais sensacionalistas. Apesar de dar uma má imagem
da justiça portuguesa e dos jornalismo que assim actua, tudo vale para vender
jornais e para um qualquer juiz ganhar protagonismo mediático. Mesmo que se
venha a ser provada a inocência, o visado acaba ali a sua vida pessoal;
-aqueles que nivelam igualitariamente o presidente da junta que faz um favor a um amigo, o
vereador que passa por cima da burocracia
para acelerar uma obra necessária, um ministro que desvia fundos
públicos ou toma decisões para favorecer uma empresa para onde vai trabalhar
quando abandona a politica, até ao burocrata de Bruxelas que toma decisões que
prejudicam os cidadãos para salvar bancos corruptos. Tudo isto é condenável,
mas nem tudo pode ser colocado ao mesmo nível;
- aqueles que confundem “corrupção” com o que é eticamente condenável.
Uma situação pode ser eticamente condenável, mas pode ser legal. Toda a
austeridade que sofremos para salvar bancos e banqueiros “corruptos” era eticamente
reprovável…mas era legal. O problema aqui reside muitas vezes na ambiguidade da
lei, que protege o grande corrupto, que tem dinheiro para arrastar processos
até à sua prescrição e para pagar a bons advogados que o “safem”, enquanto o “pequeno”
corrupto acaba desfeito nas malhas da lei;
-aqueles que acham que a culpa é da democracia e que “antigamente”
(leia-se, por cá, no tempo de Salazar) é que era bom. Esquecem-se que muito
daquilo que é condenável em democracia, não o era em ditadura. Salazar construi
o seu domínio alimentando uma oligarquia financeira e económica por meios que,
à luz das leis actuais, seriam crime de corrupção, desculpando ou silenciando a
corrupção dos seus apaniguados e impondo-se aos tribunais que, em qualquer
ditadura, seja qual for a sua cor politica, não são independentes da decisão
dos ditadores.
E se, mesmo assim, o “caso” se tornasse público, lá estavam a Censura e
a PIDE prontas a actuar para silenciar o “escândalo”. Na ditadura, ao contrário
da democracia, “não existe” corrupção, nem pobreza, nem crime, porque tudo isso
era proibido de divulgar, principalmente se, em causa, estivessem partidários
da ditadura, na Salazarista ou noutra qualquer. A diferença é que, apesar de
tudo, em democracia os tribunais, apesar de todas as pressões, ainda são
independentes e não existe censura e tudo, mesmo o que pode ser mentira ou não
provado, acaba no conhecimento público.
Mesmo aqueles que defendem que o ditador nunca foi rico, esquecem-se de
que este, para além de proteger os corruptos do regime, não se tinha de
preocupar com o dinheiro para pagar as suas contas, alguém pagava por ele. Aliás
o ditador preocupava-se mais com a manutenção do poder do que com o dinheiro. E
que maior acto de corrupção existe do que aquele que o manteve no poder, sem
controle democrático, construindo leis e uma Constituição para o perpetuar no
poder e ao seu regime, e que submeteu o país à miséria mais abjecta, um país
que apresentava níveis de saúde e educação do terceiro-mundo e obrigou o país a
uma guerra sem fim e desgastante, situações que ainda hoje todos estamos a
pagar?
No Portugal democrático a corrupção não tem cor politica, embora atinja
mais as formações politicas que estão próximas do poder, o chamado centrão.
A grande corrupção politica no Portugal democrático começou com o
cavaquismo e a forma como foram geridos os fundos europeus que então chegaram
em “barda” a Portugal. Não por acaso, quase todos os ministros desse tempo
acabaram envolvidos nos grandes processos de corrupção (o BPN foi apenas a
ponta do iceberg), embora se tenham “safo” quase todos graças à demora dos
tribunais e à influência que exerceram sobre o poder judicial.
A grande corrupção politica agravou-se no tempo de Sócrates, estando ainda
a decorrer processos sobre a actuação desse politico.
A mim não me surpreendeu a situação judicial de Sócrates. Não tenho grandes
dúvidas sobre a sua falta de ética e sobre os crimes de que é acusado. O que me
surpreende é como, usando os mesmos critérios para criminalizar esse antigo
primeiro-ministro, não existem outros políticos do centrão a
contas com a justiça. Neste caso parece que estamos perante um caso de justiça
selectiva. Outros aspecto estranho neste caso é a demora em levar esse politico
à barra do tribunal, pois aquilo que veio a público já tinha dado vários
processos. Aqui parece-me que o interesse não é fazer justiça mas usar um
processo para fazer politica partidária. E não me venham falar na independência
da procuradora, Joana Vidal. Desde que a vi “desfilar”, em pleno
passos-coelhismo, numa Universidade (?) de Verão da JSD, que ficou tudo dito
sobre a sua independência!!!
O governo de Passos Coelho não melhorou a situação. Além do constante espezinhar
ilegal da Constituição para agradar aos “mercados” do corrupto poder
financeiro, também têm vindo a público vários processos que o envolvem ou a
ministros seus, mas que têm sido silenciados ou acabando prescritos, como o
caso dos “submarinos” (este vindo do tempo de Durão Barroso), o caso dos vistos
Gold, o “apagão” das finanças ou os esquecidos casos dos “Panama Papers” e
da Tecnoforma!!!!
Mas, muitas vezes, os grandes corruptos nem são os rostos mais
conhecidos. Estes mantem-se muitas vezes no anonimato, manipulando a politica,
as finanças e a economia. Basta consultar as listas de grandes devedores ao
fisco ou dos que recorrem aos paraísos fiscais, onde proliferam os ilustres
desconhecidos, alguns deles, acredito, testas-de-ferro de gente mais conhecida.
A corrupção existe, é o grande cancro da democracia, mas não se resolve
com gritaria histérica, com sectarismo ou, ainda menos, com uma ditadura.
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