Pela minha parte não tenho qualquer dúvida sobre a falta de ética de
José Sócrates.
Também acredito que muitas das acusações que se conhecem contra ele são
verdadeiras.
Sobre o que penso de José Sócrates, basta explora os nossos tags sob a
designação de “anti-Sócrates”, publicado desde que este blog nasceu, em 2008.
Já me questiono é sobre a mediatização do caso.
Aquilo que vi nas reportagens da SIC não mostra nada de novo em relação
ao que já se sabia.
A única diferença reside no apelo ao mais reles voyeurismo para
aumentar audiências, explorando o mais abjecta tentação do populismo “anticorrupção”.
Também já aqui desmascaramos esta tentação num nosso post anterior.
A única coisa de novo foi uma visita às casas de luxo onde viveu José
Sócrates em Paris, facto conhecido, mas que agora ganha contornos de “casa dos
segredos”.
A outra coisa foi assistir à divulgação ilegal dos interrogatórios,
cujo conteúdo já era há muito conhecido, com a diferença que agora assistimos
aos mesmos ao vivo, com se de uma telenovela se tratasse.
Aliás, uma jornalista gabava-se e assumia em directo, na SIC, a
ilegalidade que cometeu, mas justificava-a com o “interesse público”.
Sempre detestei aqueles que justificam o mau-gosto, a mediocridade e a
ilegalidade em nome daquilo que eles acham que é “O gosto do povo” ou como o “interesse
público”, como se os jornalistas estivessem acima da lei…
Se, para mim, essas reportagem apenas serviram para aumentar audiências,
num canal que atravessa graves dificuldades financeiras, para José Sócrates
serviu para se agarrar à ilegalidade do acto e desacreditar a justiça, como já
começou a fazer.
Pela minha parte, distingo três coisas: a antipatia que sempre nutri
por José Sócrates; a corrupção ética dos actos de José Sócrates (não muito
diferente de outros políticos do “centrão”); a necessidade de um julgamento
honesto, transparente e fundamento sobre os actos de corrupção de que é
acusado.
Não sendo comparável o tipo de ilegalidades de que é acusado José
Sócrates que, a provarem-se, devem resultar em penalização exemplar, com o tipo
de ilegalidades da SIC, ambas partem de uma mesma origem: a generalizada falta
de ética que os envolve a todos, políticos acusados e jornalistas e, até ver, a
própria justiça.
Quanto a mim, involuntariamente, ao gabar-se da ilegalidade da
divulgação dos interrogatórios, cujas imagens só podem ter sido obtidas com a
conivência dos juízes envolvidos, os jornalistas da SIC prestaram um bom
serviço a José Sócrates.
Mesmo que esteja queimado politicamente, talvez Sócrates consiga safar
os seus milhões e o seu estilo de vida, porque, agora quem fica em cheque é o
próprio tribunal, que, além de ter de demonstrar que não pactuou com a ilegalidade
da SIC, terá agora de apressar a investigação e o julgamento para mostrar que
não resolveu facilitar a vida aos jornalistas porque se encontra num impasse no
que se refere à prova dos crimes.
Seguem-se cenas dos próximos capítulos…
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