Sei que me vou meter num terreno movediço e me arrisco a sofrer as consequências.
Mas a forma com está a ser tratada a questão do assédio sexual pelo movimento #MeToo parece-me estar a ultrapassar todos os limites do bom senso.
Confundir um reles piropo com o verdadeiro assédio sexual parece-me ser um mau contributo para combater a violência contra as mulheres.
Não distinguir a chantagem profissional usada no assédio sexual com um qualquer arrebatamento machista momentâneo sem outra consequências que não seja a de envergonhar o próprio, parece-me ser um mau contributo para a causa feminista.
Foi para voltar a por o debate nos carris que Catherine Deneuve e outras mulheres francesas ligadas ao mundo das artes, da literatura e do espectáculo vieram assinar um manifesto contra o fundamentalismo que se vive neste momento no debate sobre essa questão.
A resposta javarda de trinta "feministas" (???) francesas àquele manifesto em nada contribui para o debate e só vieram dar razão às primeiras.
(leia-se a propósito aqui o que sobre o assunto se escreve no jornal espanhol Publico , no francês Liberation ou no português Publico ).
A violência doméstica, maioritariamente contra as mulheres ou a violação estão devidamente criminalizadas. É preciso apoiar a coragem de quem as denuncia e, até certo ponto, o movimento #MeToo deu um importante contributo.
A chantagem sexual exercida sobre mulheres no local de trabalho, chantageando-as com o desemprego ou na progressão da carreira, muito comum no mundo do cinema, das artes e do jornalismo, sendo mais difícil de provar, deve ser igualmente denunciada e criminalizada e foi por aqui que parece ter começado o movimento #MeToo.
Infelizmente rapidamente se passou do bom senso para o fundamentalismo puritano, onde tudo se confunde e onde quem grita mais alto é quem ganha a razão.
O movimento #MeToo teve o mérito de por a questão na agenda, mas a opinião de Catherine Deneuve e das suas colegas subscritoras é importante para repor a discussão em termos éticos.
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