De há cem anos a esta parte que os anos terminados em “8” parecem
fadados para marcar a história que vivemos.´
Embora não seja dado a “adivinhações” ou a “previsões” astrológicas, não
possuindo qualquer dom premonitório, dei por mim a reflectir sobre a
importância dos anos terminados em 8, como aquele que agora se inicia.
Recuando apenas ao principio do Século
XX, 1908 foi marcado por um acontecimento fulcral para o futuro de Portugal , o regicídio de Fevereiro que acelerou a decadência
inevitável da monarquia, que recebeu a estocada final dois anos depois.
À distância dos nossos valores de hoje esse acto condenável foi, na
época, para muitos, um sinal de esperança por um tempo novo, o da República,
que acabaria por se revelar menos promissor do que alguns julgavam. Isso não
impediu que, por exemplo, poucos dias após o regicídio, ainda com os corpos “quentes”
do rei e príncipe herdeiro , Torres Vedras assistisse ao primeiro grande
Carnaval de rua, vivido com entusiasmo, muito por iniciativa das elites
republicanas locais.
Dez anos depois, outro ano fulcral, o de 1918, encerrou a mais violenta
guerra que a Europa até então tinha conhecido, terminando com a vã esperança
que aquela fosse a última de todas as guerras, acabando com os grandes Impérios
europeus e anunciando um “radioso” futuro “socialista”.
Mais dez anos volvidos e o ano de 1928 seria marcado por cá com a
“eleição” de Carmona para presidente de Portugal, em 25 de Março, terminando
com as esperanças dos Republicanos de que o 28 de Maio de 1926 fosse um mero
interregno regenerador do regime republicano. Com a eleição de Carmona, no ano
em que o fascismo italiano já levava 6 anos de vida, afirmou-se o novo regime
como uma ditadura militar que rompia definitivamente com a “desordem” e a
instabilidade da 1ª República e conduziria o país ao Estado Novo salazarista…
Mais negro ainda se perfilava o horizonte de 1938, com a afirmação
plena de Hitler, sombra negra a pairar
sobre uma Europa amedrontada, com os nazis a anexar a Áustria, conseguindo
encostar os “aliados” à parede levando-os a abdicar de tudo nos acordos de
Munique, sentindo-se à vontade para iniciar a perseguição aos judeus, que teve
com tiro de partida a ignóbil “Noite de Cristal” de 9 de Novembro, ao mesmo
tempo que o nazi-fascismo se mostrava em toda a sua força em Espanha, onde os
Republicanos sofriam uma estocada final na Batalha do Ebro e com o inicio do
cerco a Barcelona em 23 de Dezembro.
Depois de uma Guerra sangrenta de 6 anos, chegava-se a 1948, novamente
em clima de guerra, a pairar no horizonte quando com o bloqueio a Berlim,
iniciado por Estaline em Junho desse ano, dava início formal à “Guerra
Fria”, ano igualmente marcado pela fundação de duas novas nações que, 70 anos
depois, continuam hoje a provocar instabilidade e imprevisibilidade no inicio
deste 2018: Israel, independente em 14 de Maio de 1948, e a Coreia do Norte,
fundada em 9 de Setembro desse mesmo ano.
1958 marca novamente o destino português, quando um general sem medo,
Humberto Delgado, com o apoio de toda a oposição, abala o regime salazarista
que inicia aí o seu caminho de decadência e instabilidade, que se agravará
pouco depois com o inicio da Guerra Colonial.
Essa decadência encontra um aliado numa cadeira que se partiu em 3 de
Agosto de 1968, arrastando o ditador para uns delirantes dois anos, que foram
de ténue esperança com Marcelo Caetano, mas onde o medo da recuperação de
Salazar levou os seus ministro a tratarem com ele com se ainda mandasse.
Esse foi também o ano do auge da guerra do Vietname, nuns Estados
Unidos em ebulição, com os assassinatos de Luther King e Robert Kennedy a
ensombrarem a eleição de Nixon como presidente, enquanto na Europa os
estudantes se revoltavam num Maio que fez abalar as estruturas conservadoras e
as verdades feitas de “trinta gloriosos”, onde a juventude se afirmou como uma
força a ter em conta. E embora a maior parte dos lideres dessa geração tenham
acabado engravatados a gerir negociatas e a defender o neoliberalismo, o mundo
ocidental nunca mais foi o mesmo. Foram também os estudantes que na
Checoslováquia, em Agosto, iniciaram um movimento que, apesar de calado pela
força das armas, abalou em definitivo as estruturas de um “socialismo real”
cada vez mais repressivo e anquilosado.
Ainda nesse extraordinário 1968, na noite de Natal, pela primeira vez
uma nave tripulada, a Apolo 8, faz a
circum-navegação da Lua, preparando o caminho para a chegada do homem ao nosso
planeta irmão no ano seguinte.
Em 1978, enquanto por cá a Revolução dos Cravos ia arrefecendo, a
Igreja conhecia um ano delirante, conhecendo três papas em três meses: Paulo VI
morre em 6 de Agosto, João Paulo I sucede-lhe e governa um mês e dois dias,
morrendo em circunstância mal esclarecidas e o papado foge ao controle da
Igreja italiana dando o lugar, pela primeira vez, a um bispo vindo do leste comunista,
o polaco João Paulo II.
Gorbachev, em 1988, no seu terceiro ano de poder, abandona neste ano a “doutrina
de soberania limitada” a que estavam sujeitos os países do leste, abrindo
caminho para a revolução democrática nesses países, que terá o seu auge no ano
seguinte com o derrubar do muro de Berlim. Também por iniciativa do homem da
perestroika, a União Soviética inicia em 15 de Maio a sua retirada do
Afeganistão, abrindo caminho ao fim de uma guerra sangrenta que tinha provocado
o declínio soviético, mas também à ascensão de um então ilustre desconhecido,
de seu nome…Bin Laden…
Em 1998 já a União Soviética tinha desaparecido e vivia-se a anunciada euforia
do “fim da história” que ia marcar o “cantado” novo século que se aproximava,
euforia que em Portugal foi marcado pela realização da Expo 98. Parecia que
Portugal entrava finalmente no mundo dos ricos e dos países desenvolvidos, com
dinheiro a jorros de fundos europeus, fomentando as negociatas e a euforia
consumista. A cobrança veio depois.
Em 2008 iniciava-se a crise financeira que terminou com o “sonho” de um
caminho glorioso para o capitalismo neoliberal e iniciou o declínio de uma
Europa cada vez menos solidária e refém do crescimento da xenofobia e do
populismo de extrema-direita.
E chegamos a 2018, no meio de 40 conflitos militares sangrentos, de uma
instabilidade global em termos económicos, sociais a políticos e, apesar de Guterres
à frente das Nações Unidas ou de um papa chamado Francisco, com o Mundo liderado
pela mais incompetente, ignorante e
perigosa geração de políticos, onde se destacam nomes como Trump, Putin,
Erdogan, Assad, Duterte, Netanyahu, Orban, Poroshenko, Rajoy, Maduro, Kim Jong-Un, e tantos
outros, cada um a concorrer para ver quem é mais perigoso ou incompetente….
2018, tal como todos os anos terminados em “8” promete não cair no
esquecimento da história, e, embora tudo pareça indicar que o vai ser pelas
piores razões…pode ser que nos surpreenda!
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