"Enquanto houver tratado orçamental, Portugal [e outros países
europeus que estão na mesma situação] não vai crescer".
Quem fez essa afirmação foi a antiga Ministra das Finanças e ex-lider
do PSD, Manuela Ferreira Leite, durante a
conferência "Economia de Pobreza", que ontem se realizou em
Lisboa no Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.
Manuela Ferreira Leite realçou ainda que "a política europeia tem
sido a causa da desgraça" em Portugal "e em toda a Europa".
O Tratado orçamental, recorde-se, impõe uma deficit de 3%, mas é a
questão do déficit estrutural que levanta mais polémica, dada a quase
impossibilidade de o calcular com rigor.
Também a questão dos 3% do deficit não é consensual, primeiro porque os
grandes países da União Europeia, como a França ou a Alemanha, nem sempre o
cumprem, dependendo das suas necessidades, e nunca foram penalizados por isso,
como, por outo lado, aquela percentagem não tem qualquer base científica, isto
é, porque 3% e não, 2% ou 5%???
Além disso, como aquela percentagem é calculada em relação ao PIB,
quando o PIB desce ou estagna, como acontece com os países que têm adoptado as
medidas de austeridade impostas pela troika, aquela percentagem sobe. Se
houvesse medidas de desenvolvimento económico e social, o PIB seria maior e o
mesmo valor representava uma percentagem menor.
Ao contribuírem para a estagnação, as medidas impostas pela troika
fizeram cair o PIB, aumentar a dívida e o deficit, aumentando a pobreza e o
desemprego, entrando-se assim num círculo vicioso do qual um país intervencionado
não consegue sair.
Neste momento, sem se questionar a saída do euro ou as medidas impostas
por Bruxelas, apenas têm existido duas vias, ou aceitar tudo o que é imposto
por Bruxelas, indo mesmo “além da troika” , aproveitando-se a situação para
impor um programa ideológico neoliberal que destrói direitos e obrigações
sociais, que foi oque fez Passos Coelho, ou tenta-se negociar com Bruxelas no
fio da navalha, procurando “redistribuir” a austeridade e retirar as medidas
meramente ideológicas impostas pelo “além da troika”, mas mantendo a economia quase estagnada, que é
o que o actual governo está a fazer.
Contudo, a manter as actuais medidas e continuando a impor o “tratado
orçamental” da forma cega como o tem feito o politburo de Bruxelas vai agravar
a situação de países como Portugal .
Por isso, questão é, cada vez
mais,se será este o projecto europeu que interessa aos cidadãos europeus,
àqueles que produzem, trabalham e pagam os seus impostos, que não estejam do lado do corrupto sector financeiro
que é o único beneficiado com tais políticas ???
Questionar a burocracia de Bruxelas e as políticas que impõe aos
cidadãos é cada vez menos uma questão meramente ideológica, de direita ou
esquerda, mas é cada vez mais uma questão de bom senso e inteligência, se é que
se quer salvar o projecto europeu.
Sem comentários:
Enviar um comentário