O filme “I,Daniel Bake” do veterano realizador britânico Ken Loach,
venceu a palma de ouro do festival de Cannes.
O filme premiado é uma critica humana, mas ferozmente crítica, ao modo
como funciona a segurança social na Grã-Bretanha, fortemente destruturada pelo
modelo neoliberal imposto na época Thatchere continuado pelos governos
seguintes, mostrando as dificuldades que os serviços colocam para prestar
assistência aos mais desfavorecidos.
Ao receber a Palma de Ouro, Loach salientou que "receber este
prémio neste momento é muito estranho", recordando "as pessoas que
não têm comida na quinta nação mais rica do mundo, o Reino Unido."
Na sua intervenção denunciou o neoliberalismo que vigora na Europa, e
que nos conduz à catástrofe:
“Este mundo onde vivemos encontra-se numa situação perigosa. Nós
estamos a bordo de um projecto de austeridade que é conduzido por ideias que nós
chamamos de neoliberais, e que nos conduz para uma catástrofe”, denunciando as “práticas
neoliberais” que “lançam na miséria milhões de pessoas, da Grécia a Portugal”,
beneficiando apenas uma minoria “que enriqueceu de forma vergonhosa”.
Alertou também para a ascensão da extrema-direita um pouco por toda a
Europa:
“Aproximamo-nos de um período de desespero e com o desespero é a
extrema-direita que se aproveita.
“Alguns de nós, os que já temos alguma idade, lembramo-nos o que essa
extrema-direita fez”.
Loach não esqueceu o poder do cinema, recordando que "uma das
tradições do cinema é o de dissidência, representando o interesse das pessoas
contra os que são grandes e poderosos", desejando “que esta seja uma
tradição que possamos manter viva."
Apesar do seu tom pessimista ficou no ar a seu apelo:
“É preciso, neste mundo de desesperança, recuperar a esperança, dizer
que um outro mundo é possível”.
Ken Loach já apresentou 15 filmes no Festival, desde 1979, e já ganhou
anteriormente uma Palma de Ouro com o
filme "Brisa de Mudança"
(2006) e três prémios do júri com "A Parte dos Anjos" (2013),
"Agenda Secreta" (1990), e "Chuva de Pedras" (1993). Além
disso recebeu seis prémios paralelos do júri ecuménico (3) e da crítica
internacional, FIPRESCI (3).
A intervenção integral de Ken Loach na cerimónia de encerramento do Festival de Cannes, pode ser vista AQUI.
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