Toda esta polémica sobre os subsídios estatais a algumas escolas
privadas já começa a “cheirar mal”.
A forma irresponsável e oportunista como o tema tem sido abordado por
alguns políticos, comentadores e por parte da comunicação social, tem sido
muito pouco esclarecedora e limita-se a lançar “areia para os olhos” dos
incautos e ignorantes.
Claro que a forma como o Ministério da Educação geriu o tema também se
revelou desastrada, pondo-se a jeito para os disparates que tivemos de ouvir de
Passos Coelho e outros fiéis.
Em primeiro lugar o tema relaciona-se com a situação de menos de 80
escolas privadas, num universo de quase…três mil!!!!.
E em relação àquelas 80, só pouco mais de trinta é que serão afectadas
pelas medidas que o Ministério actual pretende tomar, corrigindo os abusos
cometido no governo anterior com o aval do ministro Nuno Crato.
Não deixa de ser curioso que aqueles que passam a vida com a boca cheia
das palavras “privatização” e “privado” e a falar contra o “Estado” venham
agora pedir que o Estado financie actividades privadas.
Se Passos Coelho encontrou no tema a sua boia de salvação e a prova de
vida de que precisa para sobreviver ao descalabro da sua governação e da sua
falta de ideias para o país, já se percebe menos a atitude da Igreja.
É que o que está em causa não é o financiamento das escolas privadas
que prestam um serviço público de qualidade, mas de escolas que concorrem
directamente com escolas públicas, financiadas por fundos …públicos!!!
É caso para se dizer que é tempo de “privatizar”, de uma vez , por
todas, o que é “privado”, ou não estão de acordo comigo, ó pessoal da “direita
radical neoliberal”?
Quanto à atitude da Igreja, só se percebe face à sua recente desorientação
“ideológica” pernte os desafios que o actul Papa Francisco tem vindo a colocar
aos status quo dessa mesma Igreja.
Antes de Francisco, a Igreja portuguesa até gozava de uma imagem de
liberal e “progressista”. A partir de Francisco parece ter sido ultrapassada
pela “esquerda” pelo próprio Papa. Mas isto é outra história, que, contudo,
pode explicar o envolvimento das mais altas figuras da Igreja portuguesa nesta
polémica.
Por último, uma palavra de
solidariedade para como Mário Nogueira e para os sindicatos dos professores, (mesmo
discordando de alguma retórica e de algumas das suas actuações), face à forma
descabelada como têm sofrido os mais ignóbeis ataques públicos , a pretexto do
debate entre escola pública e privada.
É caso para perguntar: a quem interessa fazer desta questão uma guerra entre ensino público e ensino privado?
Aconselhamos, a todos que
se queiram informar melhor sobre o tema, a leitura dos seguintes textos:
- “Utilidade, privilégio e abuso dos colégios com contrato com o Estado”,por Rui J. Baptista, in Público de 10 de Maio de 2016;
- “Os vícios públicos das escolas privadas” , por José Vítor Malheiros,
in Público de 12 de Maios de 2016;
- “Dinheiros públicos, vícios privados”, por Manuel Loff, in Público de
14 de Maio de 2016;
- “O campeonato da selecção e o campeonato da equidade”, por José VítorMalheiros, in Público de17 de Maio de 2016.
Ainda do lado daqueles que defendem
escola pública, não podemos deixar de referir a opinião da antiga
Ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues.
Podemos não ter concordado com a sua actuação enquanto Ministra da
Educação, e discordámos veementemente na altura, mas não há qualquer dúvida que
ela conhece profundamente o sector e tinha um projecto coerente para a
educação, mesmo que se discorde dele, no todo ou em parte.
Por isso a sua opinião é fundamental para perceber o que está em causa:
- “Renovar os compromissos na educação”, por Maria de Lurdes Rodrigues,
in Público de 17 de Maio de 2017.
Num perspectiva diferente, mas inteligente ( o que tem sido raro entre
os que contestam o Ministro da Educação), aconselhamos a leitura do seguinte
texto:
- “Contratos de associação, sim ou não? Nim”, por João Miguel Tavares,
in Público de 12 de Maio de 2016.
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