Chegou a hora de os governos europeus
“enfrentarem as suas responsabilidades”. Foi neste termos que Jonh
Dalhiusen, responsável da Aministia Internacional na Europa e na Ásia Central,
se referiu à tragédia que mais uma vez aconteceu no Mediterrâneo.
A “Europa” e grande parte dos seus governos tem graves responsabilidades na situação que
resulta do aumento de insegurança, nas guerras incontroláveis e no caos
económico e social em que o Norte de África, a África central e o Médio Oriente
estão envolvidos.
Foi a “Europa”, nomeadamente através daquele que foi o seu líder máximo
nos últimos dez anos, Durão Barroso, que apoiou a guerra do Iraque que conduziu
à actual situação no Médio Oriente e disseminou as sangrentas guerras
religiosas que se espalharam por aquelas regiões.
Foi a “Europa” que, desrespeitando a ONU, destruiu os equilíbrios no
Norte de África, por via da forma irresponsável como apoiou a acção da NATO
contra o ditador Kadhaffy, deixando populações inteiras entregues ao caos e à
mais absoluta miséria.
Foi a “Europa” que, mercê das suas políticas de austeridade, resolveu retirar
o apoio financeiro ao programa de resgate e salvamento “Mare Nostrum”, aplicado
em 2013 e abandonado passados poucos meses, porque os parceiros europeus da
Itália se recusaram a partilhar os gastos dessa operação.
Uma das razões das tragédias diárias no Mediterrâneo prende-se com o
facto de “navios mercantes mal equipados” estarem a ser “enviados para cumprir
funções, para as quais não foram preparados”, como afirmou um repórter do
jornal Times of Malta, exactamente porque países como a Itália e Malta,
ameaçados financeiramente pelas políticas de austeridade impostas pela União
Europeia, sem apoio para operações e meios de equipamento caros, têm estado
práticamente sozinhos a actuar em acções de salvamento e resgate.
As guerras, que se acentuaram pela desagregação e descritibilidade da
ONU, levada a cabo por George Bush jr no principio do século, com o apoio de Durão Barroso, Tony Blair e Aznar,
levam populações inteiras a terem de se deslocar à procura de melhores
condições de vida e, essencialmente, de um futuro e de paz.
Ainda no último Sábado o representante da Agência da ONU para os
refugiados em Itália culpava a “retórica extremista e irresponsável” contra a
imigração pelas falhas nas operações de resgate, acrescentando que, neste “momento,
em muitos países europeus, o diálogo político e a retórica são bastante
extremistas e irresponsáveis” devido ao medo de perderem eleições que estão
calendarizadas para os próximos tempos, como é o caso britânico, o país que tem
sido o principal responsável por se andar a adiar o apoio eficiente aos países
que têm de enfrentar o drama.
A União Europeia é também responsável por ter feito do Mediterrâneo a
principal via da imigração clandestina, ao apoiar e fomentar autêntico muros
fronteiriços nas fronteiras terrestres de Espanha, Grécia e Bulgária.
A afirmação do presidente da Câmara da ilha grega de Kos é o exemplo
máximo da mentalidade com que muitos políticos europeus encaram a situação ao
afirmar, na semana passada, que “não dava nem uma garrafa de água aos
refugiados que chegam à ilha, porque estes afastam os turistas” (!!!!).
De uma União Europeia refém do poder financeiro, poder este construído através
da miséria de povos inteiros, através dos negócios de armamento e onde circula
o dinheiro dos traficantes que estão por detrás da organização das vagas de
imigrantes que são lançados no Mediterrâneo a caminho da Europa, não será de
esperar qualquer resolução série a permanente para o problema, quanto muito algumas afirmações
de circunstância e medidas avulso.
Procurem os responsáveis pela miséria africana, pela desintegração do
Iraque, do Afeganistão, do Paquistão, da Líbia e da Síria e encontrarão os
verdadeiros responsáveis , pela fuga em massa de populações inteiras que se
afogam depois no Mediterrâneo…mas isso não interessa aos políticos europeus nem
ao sistema financeiro que eles representam, nem à comunicação social por eles
controlada.
A tão apregoada globalização só é defendida para a circulação de capitais
e para a deslocalização de grandes empresas. Os povos, esses estão condenados a
viver na miséria, sem poderem fugir, ou arriscando a vida em travessias
mortais.
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