Foi hoje a sepultar um dos mais prestigiados economistas portugueses,
José da Silva Lopes.
Ao contrário da maior parte dos economistas e antigos ministros das
finanças, transformados em comentadores políticos, Silvas Lopes, mesmo quando
não se concordava com ele, e no nosso caso discordávamos muitas vezes, manifestava
as suas opiniões de forma credível,
assentando num vasto conhecimento económico, numa experiência pessoal muito
rica e diversificada e numa sensibilidade cultural e social sinceras.
Silva Lopes não se limitou a “fazer opinião”, teve um papel activo e
determinante em períodos históricos difíceis da vida portuguesa ao longo
das últimas décadas, agindo com pragmatismo e equilíbrio.
Ainda antes do 25 de Abril teve um papel determinante junto do
Ministério da Economia do Estado Novo, negociando a adesão de Portugal à EFTA, em 1959, contribuindo para a transformação
económica do país que levaria, paradoxalmente, a tornar o regime salazarista obsoleto,
incapaz de acompanhar essa
transformações e gerando as contradições interna que levaram ao seu derrube.
Ligado à oposição moderada no final do regime, preconizada na SEDES,
foi nomeado secretário de Estado das Finanças do 1º governo provisório saído do
25 de Abril, acendendo a Ministro das Finanças nos dois primeiros governos
provisórios, o 2º e o 3ª, presididos por Vasco Gonçalves. Nestas funções foi o responsável
pela criação do salário mínimo e do subsidio de Natal. Conduziu ainda o
processo de nacionalizações que se seguiu ao 11 de Março de 1975.
Apesar das dificuldades e de remar muitas vezes contra a maré, o seu
papel à frente daquele ministério, em período tão conturbado, pautou-se pelo bom
senso, evitando situações financeiras dramáticas.
Fez ainda parte do IV governo provisório, como ministro do Comércio Externo,
a pedido de Vasco Gonçalves, que procurava manter algum equilíbrio nesse
governo, mas acabaria por se demitir, acompanhando a saída do PS do governo.
Com a estabilização democrática nos finais de 1975, foi nomeado para
dirigir o Banco de Portugal.
Ao longo da sua vida continuou activo no mundo da banca, mantendo-se
uma das vozes mais ouvidas pela comunicação social.
Fazia parte do grupo de economistas e ex-ministros das finanças que
defendiam as actuais medidas de austeridade, mas de forma pragmática, sem o
fanatismo de outros, e criticando por vezes os excessos do actual governo na
aplicação dessas medidas.
Deixou obra escrita, destacando-se uma excelente síntese de história
económica, “A Economia Portuguesa desde 1960”, onde se conjuga a sua
experiência pessoal com a mais profunda investigação sobre a época.
Era um espírito independente e lúcido, qualidade cada vez mais rara
entre os seus pares e aqui lhe prestamos a nossa sentida homenagem.
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