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segunda-feira, 16 de abril de 2012

Respigo da Semana - Manuel de Carvalho e a Justiça em Portugal


Nódoas Perenes

Comentário de Manuel de Carvalho

 “Mais de 500 hectares subtraídos ao património do Estado e vendidos, sem concurso, a 78 escudas por m2, despachos de ministros autorizando cortes de sobreiros dias ou horas antes de serem substituídos ou financiamentos partidários de mecenas com identidades tão transparentes como a de um tal Jacinto Leite Capelo Rego são insídias quê nunca existiram. 
"A Companhia da Lezírias (CL)mantém o seu património, Duarte Silva, Costa Andrade e Nobre Guedes nunca despacharam sobre sobreiros, não há auditorias da Inspecção-Geral das Finanças a falarem de actos lesivos do interesse público e Jacinto tem rosto e morada. 0 processo Portucale acabou ontem [dia 12] nos tribunais. 
"Mas os factos que trouxe à luz do dia perdurarão como mais um exemplo do país falhado que se construiu nos últimos 20 anos.
“A Justiça há-de ter, como sempre, mil e explicações processuais para justificar os arquivamentos e as absolvições. Os suspeitos dirão, como sempre, que se fez justiça.
"Mas quem acompanhou todo este processo, desde que um homem politicamente desajeitado mas corajoso como Gomes da Silva o iniciou, não pode ficar tranquilo. Porque um país decente não descuraria as evidências de dolo na forma como se retiraram da esfera publica 509 hectares da CL, quando já se sabia que a Ponte Vasco da Gama passaria a 20km. Nem abdicaria de questionar o estranho hábito de os ministros despacharem abates de sobreiros, enquanto se encaixotam papéis. Nem fecharia os olhos às dádivas extravagantes de personagens de anedota.
“A desresponsabilização política e os limites da acção judicial não apagam o caso Portucale. A nódoa existe e, em vez de a limpar, o sistema dissimulou-a. 
"Não foi um infeliz incidente: foi uma vergonha”.

 In Público de 13 de Abril de 2012

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