Nódoas Perenes
Comentário de Manuel de Carvalho
“Mais de 500
hectares subtraídos ao património do Estado e vendidos, sem concurso, a 78
escudas por m2, despachos de ministros autorizando cortes de sobreiros dias ou
horas antes de serem substituídos ou financiamentos partidários de mecenas com
identidades tão transparentes como a de um tal Jacinto Leite Capelo Rego são
insídias quê nunca existiram.
"A Companhia da Lezírias (CL)mantém o seu
património, Duarte Silva, Costa Andrade e Nobre Guedes nunca despacharam sobre
sobreiros, não há auditorias da Inspecção-Geral das Finanças a falarem de actos
lesivos do interesse público e Jacinto tem rosto e morada. 0 processo Portucale
acabou ontem [dia 12] nos tribunais.
"Mas os factos que trouxe à luz do dia perdurarão
como mais um exemplo do país falhado que se construiu nos últimos 20 anos.
“A Justiça há-de ter, como sempre, mil e explicações
processuais para justificar os arquivamentos e as absolvições. Os suspeitos
dirão, como sempre, que se fez justiça.
"Mas quem acompanhou todo este processo,
desde que um homem politicamente desajeitado mas corajoso como Gomes da Silva o
iniciou, não pode ficar tranquilo. Porque um país decente não descuraria as
evidências de dolo na forma como se retiraram da esfera publica 509 hectares da
CL, quando já se sabia que a Ponte Vasco da Gama passaria a 20km. Nem abdicaria
de questionar o estranho hábito de os ministros despacharem abates de
sobreiros, enquanto se encaixotam papéis. Nem fecharia os olhos às dádivas
extravagantes de personagens de anedota.
“A desresponsabilização política e os limites da acção
judicial não apagam o caso Portucale. A nódoa existe e, em vez de a limpar, o
sistema dissimulou-a.
"Não foi um infeliz incidente: foi uma vergonha”.
In Público de 13
de Abril de 2012
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