Mais do que nunca, O resultado final das eleições
presidenciais francesas, sendo uma incógnita, é decisiva para o futuro do
projecto europeu.
Uma vitória de Sarkozy é a condenação, a prazo, desse
projecto, pelo menos como ele foi imaginado pelos seus fundadores: um espaço
solidário, de bem-estar e de respeito pelos Direitos Humanos em toda a sua
plenitude (…convém sempre recordar que a Declaração Universal dos Direitos do
Homem subscrita pelos aliados no pós-guerra, tanto defende as liberdades
formais e a democracia, como os direitos sociais…).
Sarkozy tem-se comportado, na Europa como mero “cão de fila”
da austeridade autoritária imposta ao resto da Europa pela srª Merkel, e em França como instigador da xenofobia e de
políticas anti-socias.
Uma vitória de Hollande pode, no mínimo, quebrar o
unanimismo neo-liberal das actuais lideranças políticas europeias e pode ser
também um sinal de renovação na decadente social-democracia europeia, assim
saiba ele demarcar-se dessa nojeira que deu pelo nome de “terceira via” e que
conduziu a esquerda europeia ao descalabro actual.
Os resultados da primeira volta deixam tudo em aberto.
A simples soma aritmética dos resultados dos candidatos da
direita e da esquerda, dá uma vantagem forte a Sarkozy, apesar de ser
desmentida pelas primeiras sondagens realizadas depois da primeira volta.
Sarkozy tem, contudo, um problema: para conquistar o
eleitorado da extrema-direita de Marie Le Pen terá de desagradar ao eleitorado
centrista, que também tem uma palavra a dizer nestas eleições, apesar de esta
tendência ter sido uma das derrotadas da primeira volta ( o centrista François
Bayrou, que tinha sido o terceiro candidato mais votado na primeira volta de
2007, com mais de 18% de votos, não logrou desta vez pouco mais que 9% dos
votos, sendo ultrapassado pela direita radical e pelo candidato da esquerda
Mélenchon).
Aliás, a estratégia de Sarkozy de cativar a extrema-direita
acentuando o seu discurso radicalmente xenófobo, revelou-se desastroso, tendo
contribuído em parte para legitimar a Frente Nacional.
Também não é garantido que todos os votantes em Le Pen sejam
conscientemente de extrema direita,
votando por isso facilmente em Sarkozy. Recorde-se que toda a campanha da de
Marine Le Pen foi contra o euro, a União Europeia e a influência da Alemanha ,
ou seja, contra tudo aquilo que Sarkozy representa.
O mais provável é que uma parte considerável do eleitorado
da Frente de Le Pen se abstenha na segunda volta.
Outra parte do voto em Le Pen, mais que a assunção de um
projecto nacionalista e de extrema direita, deve ser entendido como um voto de
protesto contra o situacionismo, ou seja anti- Sarkozy.
Aliás, o voto de protesto, á direita e à esquerda, (Le Pen e
Mélenchon), foi, no seu conjunto capitalizando mais de 29% dos votos, mais do
que os 28,3% obtidos pelo vencedor desta volta, François Hollande.
Claro que Sarkozy vai usar todos os meios ao seu dispor, dos
mais obscuros aos mais previsíveis (um novo atentado “islamita” vinha “mesmo a
calhar”, para além da colaboração dos “mercados” na chantagem contra a esquerda
e o apoio da “velha” amiga Merkel…), para encurtar a pouca distância que o
separa do candidato socialista.
Vamos ter portanto quinze dias terríveis, mas decisivos para
a sobrevivência do processo de construção europeia.
Uma vitória de Sarkozy é o desastre a prazo.
Uma vitória de Hollande é, no mínimo, o regresso da
esperança aos cidadãos europeus.
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