A Liberdade foi o principal feito do 25 de Abril.
A partir dessa data, cada um pensou ser possível construir o país que imaginava, daí ser tão difícil a unanimidade sobre a interpretação desse acontecimento.
Penso que o espírito de Liberdade e Esperança que varreu o país nesses dias distantes de 1974 é muito difícil de explicar aos que não o viveram. Daí a dificuldade em encaixar e interpretar esses acontecimento à luz de um qualquer modelo teórico histórico-sociológico pré formatado
O 25 de Abril foi um golpe de Estado, uma revolução, uma festa? É comparável à Tomada da Bastilha, à Revolução Russa, à libertação do pós-guerra, ao Maio de 68? Foi tudo isso e…nada disso!
O ponto de partida foi para encontrar uma solução para a Guerra Colonial, juntando-se, por influência de alguns militares mais esclarecidos, o objetivo de conquistar a liberdade e a democracia.
Mais tarde aplicou-se o objetivo dos três D’s: Descolonizar, Democratizar, Desenvolver.
A Descolonização nem sempre correu bem. Seria difícil fazer melhor, dadas as contingências da época. Devido à teimosia do Estado Novo, a partir da segunda metade dos anos 60 qualquer descolonização pecaria por tardia e enfrentaria a situação trágica que lhe ficou associada, para além dos interesse político-estratégico-económicos que a condicionaram. Internacionalmente vivia-se o mundo da “guerra fria” e os interesse em jogo eram gigantescos para uma pequena nação como Portugal. De qualquer modo é de louvar o modo como o país, no meio de uma revolução, conseguiu absorver, sem grandes tragédias, cerca de meio milhão de portugueses oriundos das colónias e mais o regresso apressado de milhares de militares.
…Além disso, as jovens nações lusófonas começam, a pouco e pouco, a encontrar o seu caminho e a ultrapassar as dificuldades, apesar de tropeções como aquele que se vive atualmente na Guiné Bissau..
A Democratização foi cumprida, embora se possa discutir o monopólio dos partidos na sua construção e a fraca intervenção cívica da população, problema que não será estranho à trágica situação atual, mas que é também uma herança do autoritarismo cultural e educativo do salazarista. Um dos grandes feitos dessa democratização foi o aprofundamento do Poder Local que tem sido uma das componentes mais dinâmicas da vida democrática no pós 25 de Abril, mas que está sob fogo cerrado da actual vaga contra-revolucionária.
O Desenvolvimento não terá sido o que muitos almejavam, mas, comparativamente como os 48 anos anteriores, o país conheceu grandes avanços nos últimos 38 anos. Basta comparar todos os índices económico-sociais, nomeadamente em áreas como as da saúde, da educação e do bem-estar em geral. Quem tiver visão curta pode não se aperceber dessas melhorias, até porque a última década tem sido de estagnação, assistindo-se a uma crescente tentativa de destruir tudo o que se conquistou em termos socias por parte de velhos interesses, herdeiros dos mesmos que sustentaram a ditadura salazarista durante quase meio século.
Hoje muitos se interrogam se será necessário um novo 25 de Abril. Para mim o essencial do 25 de Abril , com avanços e recuos, vai sendo cumprido, mas será aquilo que quisermos fazer dele, nomeadamente no aperfeiçoamento da democracia participativa e no combate à corrupção e às desigualdades que impedem o saudável desenvolvimento económico e social.
Hoje, para responder ao oportunismo contra-revolucionário dos que defendem que se deverá ir “além da troika”, nós, os que continuamos a acreditar na esperança e nas “portas que Abril abriu”, devemos responder-lhes, não com um novo 25 de Abril, mas contribuindo para construir um país… para “além de Abril”…
“Além de Abril” é respeitar a liberdade, defender o aperfeiçoamento da democracia e um desenvolvimento económico-social justo e sustentável, mantendo acesa a chama da esperança.
Só assim poderemos continuar a afirmar : “25 de Abril, Sempre”!
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