Encontrei esta pequena relíquia num antiquário presente na Feira Rural de Torres Vedras, já alguns anos.
Editado a cores, intitula-se “Cartilha de Hospedagem Portuguesa” e foi editada pelo Secretariado da Propaganda Nacional em Abril de 1941 “da era de Cristo e 15 da era do Portugal Renascido”.
O objectivo desta “cartilha”, editada pelo organismo titulado por António Ferro, enquadra-se na sua preocupação de “modernização” dos costumes para melhor servir a propaganda do Estado Novo. Nela incluem-se “adágios novos para servirem a toda a hospedaria que não quizer perder a freguezia”.
Estamos no início do desenvolvimento do turismo, mas, talvez mais do que isso, talvez se procurasse responder à procura do país por parte de refugiados ao nazismo, então dominante na Europa, que por cá se hospedavam até poderem abandonar o continente.
Os “dizeres”, escritos em quadra por Augusto Pinto, eram ilustrados, de forma pedagógica, por Emmérico Nunes.
Emmerico Nunes era um dos mais destacados autores de ilustrações humorísticas, um pioneiro da Banda Desenhada portuguesa, criador, entre outras, em 1915, da série "Quim e Manecas" no Século Cómico, série que manteve até 1953.
Nascido em Lisboa, em 6 de Janeiro de 1888, de pai português e mãe alemã, iniciou-se na ilustração apenas com dez anos no semanário humorístico “A Risota”.
Estudou na Escola de Belas-Artes de Lisboa, sendo aconselhado por Malhoa a ir estudar arte para Paris, para onde parte em 1906.
Nessa cidade frequenta a Académie Julien e conclui os estudos na École des Beaux-Arts.
Percorre a Europa em 1910: Inglaterra, Holanda e Bélgica. Acompanha-o Manuel Bentes, um dos expoentes do primeiro modernismo português.
Em Lisboa participará, com as suas caricaturas, nas primeiras exposições modernistas.
Divide a sua vida entre a Alemanha e Portugal, regressando com a Guerra.
Voltará à Alemanha depois de terminada a Guerra.
Será colaborador do ABC-ZINHO, jornal infantil dirigido por Cottineli Telmo.
Regressará definitivamente a Portugal por recear o crescimento do nazismo na Alemanha.
Em 1926 começa a colaborar na "Ilustração"e no "Magazine Bertrand" .
Tal como muitos modernistas portugueses, acaba a colaborar nas actividades artísticas promovidas pelo Secretariado da Propaganda Nacional, fundado em 1933 e dirigido por António Ferro.
É assim que integra a equipa de decoração do pavilhão português na Exposição Universal de França, colabora no pavilhão nacional na Feira Internacional de Nova Iorque e participa na Exposição do Mundo Português, em 1940.
É neste contexto que colabora nesta “cartilha” para educar as boas maneiras entre as hospedagens portuguesas.
Faleceu em Janeiro de 1968, em Sines.
1 comentário:
Olá Venerando!!!!
eheeheheheheh
esta cartilha está um "must"!!!!! olha se a ASAE a recupera!!!!!!!
Lindo este post!!!!
Tu tens cada "preciosidade"!!!!!!
Bom fim de semana!!!!
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