Não sei porquê…ou até sei…mas os recentes casos de corrupção, divulgados
publicamente, levam-me a uma pergunta: porque é que pessoas, com cargos de
responsabilidade, com visibilidade pública, que, só em função dos cargos que
exercem, vivem muito acima das possibilidades do comum dos mortais, se envolvem nas malhas da
corrupção para aumentarem um pecúlio já de si generoso?
Claro que sei que existe uma justiça selectiva que alimenta inadmissíveis
fugas de informação, muitas vezes para desviar as atenções de outros corruptos
de tendência diferente e alimentando, mais do que a procura de justiça, um
certo desejo populista e mórbido de justicialismo….
Mas, nãos sei porquê…,ou até sei..., mas estes tristes casos de corrupção fizeram-me
recordar uma história, que aqui vou revelar.
Existiu um homem que, nunca pactuando com as injustiças deste mundo,
acabou por estragar a sua vida e acabou preso dois anos por razões
politicas e por denunciar e combater essas injustiça.
Esse homem refez a sua vida numa terra que lhe era estranha, que até
desconfiava do “estrangeiro”, mas a sua personalidade, de homem culto, activo,
preocupado com os outros, um bom profissional, um contabilista honesto e de
confiança levaram a que a sua personalidade se impusesse e se tornasse uma
pessoa considerada, mesmo pelos seus adversários políticos.
Bom profissional, desempenhou funções de responsabilidade na maior
empresa do concelho, sendo requisitado por outras empresas da região para, em
part-time, organizar a contabilidade de muitas dessas empresas.
A sua honestidade levou a que, apesar das suas funções de
responsabilidade, nunca tenha vivido acima das possibilidades médias de um
cidadão desses tempos difíceis, sujeitos à miséria generalizada e a uma
ditadura que impedia qualquer oposicionistas de conseguir singrar
profissionalmente.
Como ele era um contabilista encartado, a sua assinatura tinha valor
legal e era fundamental para algumas actividades fiscais e financeiras.
Um dia alguém o abordou. Era preciso a assinatura de um contabilista
encartado para fechar um negócio legal. Só que esse negócio era uma venda de
armas para África.
Em troca da assinatura, num processo que era legal, esse homem
receberia o equivalente nos nossos dias a um valor que dava para comprar uma
casa (ele que vivia em casa alugada), um automóvel (ele que se deslocava a pé)
, para umas grandes férias com a família (ele que só saiu uma vez do país para
ir Madrid e que passava férias com a família
numa praia a pouco mais de dez quilómetros da sua habitação) e ainda sobrava
algum dinheiro.
Mas o negócio era contra os seus princípios, o seu pacifismo , a
critica que fazia à guerra como principal factor de injustiça e maldade, tudo o
que ele abominava e sempre tinha combatido.
Por isso recusou-se a assinar. Quem o abordou para o negócio tentou
insistir, argumentando que o negócio fazia-se à mesma porque, se ele não
assinasse, outro qualquer contabilista assinaria, ganhando aquela quantia.
Ele manteve-se firme, continuou a viver de forma “remediada”, como
então se dizia da vida das classes médias, mas morreu com a sua consciência
tranquila.
Não sei porquê…ou talvez saiba…mas sempre que surgem estes casos de corrupção e de falta de ética económica e social,
recordo-me sempre daquela história..
Ah….o homem que referi acima…é meu pai!
1 comentário:
O dinheiro tem um poder de atracção quase invencível.
Sim, teu pai. Fizeste bem em recordar...
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