Vasco Pulido Valente, um dos mais inteligente e informados cronistas da má língua e da boçalidade nacional, endeusado por uma miríade de seguidores, a maior parte destes ao nível da mais abjecta mediocridade e/ou desonestidade intelectual, escolheu a sua última cronica no Público, que pode ser lida AQUI , para desancar num dos seus mais fiéis e competentes discípulos, o historiador Rui Ramos.
Como dizia uma professora minha no ISCTE, que o conhecia bem, Vasco Pulido Valente, "às vezes" consegue ser brilhante e esta crónica é um desses casos raros, no meio do lixo bem escrito a que nos tem habituado nos últimos tempos.
Vasco Pulido Valente é , aliás, um caso estranho de popularidade entre jornalistas, comentadores e historiadores que têm como único objectivo imitá-lo o melhor possível.Por mim, sempre preferi o original ao imitador...
Como historiador, Vasco Pulido Valente vive da reciclagem daquilo que escreveu pelas décadas de 60 e 70, em artigos de jornais e revistas, estudos que para a época eram de facto inovadores, mas hoje estão muito datados e ultrapassados, artigos transformados, décadas depois, aumentando o tamanho da letra e acrescentando uma ou outra nota, em êxitos de livraria, como se fosse algo de novo, aproveitando a sua fama mediática, só possível em países onde "quem tem um olho é rei".
Como professor, não conheço ninguém que tenha sido seu aluno, nem se existiu alguma cadeira dirigida por si. Durante dois anos cruzei-me diárimente, várias vezes ao dia,com o gabinete que ele tinha no ICS e, ao contrário de outros professores/investigadores desse Instituto, nem uma vez me cruzei com ele ou sequer vi afixada uma pauta ou anunciada uma disciplina por si leccionada. Posso estar a ser injusto, mas foi com esta realidade que me confrontei nesses dois anos.
Para além de uma obscura e rápida passagem por uma secretaria da àrea da cultura, resta então a áurea crida à volta das suas crónicas de mal-dizer, roçando muitas vezes a mais reles boçalidade do ataque pessoal, embora, ao contrário de outros que lhe procuram imitar o estilo, o faça com um estilo e uma elegância de escrita muito peculiar e original.
Rui Ramos, um dos mais bem informados historiadores da nossa história contemporânea, segue o estilo de Pulido Valente, na forma cirúrgica como utiliza os factos e as fontes para lhes retirar o efeito ideologicamente desejado (veja-se a forma brilhante como, numa sua síntese sobre a história portuguesa do século XX, transformou o Estado Novo num quase oásis de "liberalismo", em contraste como o "terrorismo" da Primeira República e do PREC pós 25 de Abril).
Tal como Pulido Valente, só Rui Ramos se aproxima, com habilidade e brilhantismo, daquele, no modo educado como tortura as fontes, que conhece muito bem e de forma rigorosa, para delas lhes retirar a verdade dos factos que mais lhe interessa ideologicamente.
Rui Ramos é assim um dos raros imitadores de Pulido Valente, que dele se consegue aproximar no brilhantismo da escrita, na qualidade da documentação utilizada e na vastidão cultural que emana da sua escrita.
Talvez por isso se explique o facto de Vasco Pulido Valente tentar "travar" a ascensão do "díscípulo", não vá ele ofuscar-lhe o lugar...
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