Afinal a manifestação de apoio à troika, convocada por um hipotético
grupo auto-intitulado “Obrigado Troika”,não passou de uma original e irónica
brincadeira organizada pelos promotores da manifestação do próximo
fim-de-semana, o grupo “Que se lixe a Troika!”.
Talvez por isso, e porque se deixaram enganar de forma indecente, os
órgãos de comunicação social procuraram disfarçar o ridículo em que caíram
silenciando maioritariamente esse “não acontecimento”.
Eu próprio acreditei na iniciativa, pois julgo que, infelizmente, até
existirá espaço para uma iniciativa a sério de apoio à troika, pois há muitos
que estão a ganhar com esta crise, basta olhar à nossa volta…
Já estava a imaginar uma manifestação liderada por Poiares Maduro, em
representação do governo, ombreando como o funcionário da União Europeia em
Portugal que redigiu o conhecido vergonhoso documento de chantagem e ataque às
instituições democráticas portuguesas, acompanhados por representantes das
embaixadas da Alemanha, Holanda, Finlândia e, porque não, de Angola e da China,
empunhando megafones de onde debitavam as palavras de ordem da manifestação:
“Portugueses trabalhadores e qualificados fora de Portugal, Já!”;
“Trabalho com direitos Não! Precaridade Sim!”;
“Nem mais um português com Pão, Saúde, Educação e Habitação!”;
“Os funcionários públicos e os pensionistas que paguem a crise!”;
“Sindicalistas? Vamos a eles, carago!”;
“Tribunal Constitucional para a Rua, já!”;
“Constituição? Só por cima do meu caixão!”;
“O povo não aguenta? Ai aguenta, aguenta!!!”;
“Salários, impostos, desempregados e reformados? Não pagamos! Não
pagamos! Não pagamos! Não pagamos…”;
“Estado Social? Querias…contenta-te com a sopa dos pobres!”.
Logo atrás, um grupo de banqueiros e grandes empresários, liderado por
Eduardo Catroga, Fernando Ulrich e
Ricardo Salgado, marchava à frente de milhares de especuladores bolsistas e de
accionistas de grandes empresas, onde estavam representados todos os membros
das empresas do PSI 20 que colocaram os seus impostos nos paraísos fiscais,
agradecidos pelos sucessivos perdões fiscais e pelo dinheiro do empréstimo da
troika, pagos por todos nós, que vieram salvaguardar o seu estilo de vida .
Podiam-se ver ainda muitos antigos gestores e accionistas do BPN.
Seguia-se uma ala liderada por Camilo Lourenço, César das Neves, Vitor
Bento, e Ricardo Arroja, formada por cerca de 500 manifestantes, que incluíam
os comentadores, economistas e jornalistas que circulam revezadamente por
jornais e televisões, a tropa de choque da propaganda em favor do memorando e
que nos tenta impingir o caminho único, massacrar-nos a convencer-nos da nossa
culpa por vivermos “acima das nossas possibilidades”, isto é, vivendo com mais
de 600 euros, ou ainda justificando-nos todos os cortes com a “falta de
dinheiro” (..mas…o dinheiro não foi queimado, não depende da meteorologia e, se
existe na Alemanha, país com a mesma moeda e fazendo parte do mesmo espaço
económico comum, porque é que não pode existir em Portugal ou na Grécia???...).
Vinham depois todos aqueles, mais alguns milhares, que conseguiram
ludibriar o fisco, e continuam alegremente a exibir os seus sinais exteriores de riqueza, prova de que é injusto
acusar a troika de empobrecer o país. Estes chegaram ligeiramente atrasados,
por dificuldade em estacionar os Ferraris, Jaguares , Porches e topos de gama,
ainda a cheirar a fresco..
Seguia-se uma impressionante ala de milhares de secretários de Estado,
gestores de institutos, fundações e empresas públicas, assessores,
representantes de conhecidos escritórios de advogados, representando o
empreendedorismo que a troika preserva.
Logo atrás milhares de anónimos militantes do PSD e do CDS que ainda acreditam no pai Natal nas
benesses do estado, na esperança de serem rapidamente promovidos a “boys” para
os muitos “jobs” que a troika vai criar com a sua política de
“desenvolvimento”.
A encerrar a manifestação, liderados pela srª Isabel Jonet, os milhares de pobrezinhos que o Paulo Porta
citou, que não participam em manifestações da CGTP , mas que marcaram a sua
presença nesta grande manifestação, na esperança de poderem partilhar a boda
aos pobres prometida para o final.
Chagados ao Largo Jean Monet, juntos da representação da Comissão
Europeia em Portugal, foram lida mensagens
de Durão Barroso, de Olli Rehn,
Angela Merkel, srª Lagarde e de, a partir de um sitio qualquer da
América Latina, de Cavaco Silva e Passos Coelho (Paulo Portas estava em lugar
incerto), de incentivo na luta contra a Constituição, contra o Tribunal Constitucional, contra os
Sindicatos e toda a oposição, contra os direitos sociais e contra os piegas de
toda a espécie, e de apoio caloroso ao grande trabalho de empobrecimento
colectivo e de salvação dos mercados financeiros, levados a cabo pela nobre
acção da troika e dos seus executantes em Portugal .
Terminada a manifestação, instalou-se a confusão à entrada do Gambrinos
e do Tavares Rico, aberto até altas horas da madrugada, até esgotar todas as
reservas de marisco e o whisky.
Como se vê, uma manifestação como aquela, levada a “sério” até que
podia reunir alguns milhares de manifestantes e estar bem compostinha…os 5% dos
portugueses que escapam ou beneficiam da crise acentuada pela acção da troika,
até podiam encher uma avenida ou … (sem malícia…) o Campo Pequeno…
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