Entre os vários livros que fui lendo nos últimos meses, algures entre a
ficção e o ensaio histórico, passou-me pelas mãos um pequeno volume histórico,
da autoria do norte-americano Paul Maracin, “A Noite das Facas Longas”.
O autor, antigo investigador criminal no Gabinete do Procurador de San
Diego e actual colaborador no The Wall Streeet
Journal, tem-se dedicado na sua reforma à investigação sobre a IIª
Guerra Mundial.
Neste livre analisa a ascensão dos nazis ao poder e a luta entre facções
do Partido Nazi que desembocou nessa noite de 30 de Junho para 1 de Julho de
1934, que foi uma noite de ajuste de contas entre Hitler e os seus rivais
internos no Partido Nazi, em especial contra Röhm e as SA, mas que aproveitou
para ajustar contas contra todos os que se tinham oposto a Hitler ao longo da
sua vida política.
A grande burguesia alemã, o sector financeiro e o exército, que até aí
olhavam para Hitler com alguma condescendência e desconfiança, viram na
eliminação das SA um sinal de “civilidade” de Hitler, que eliminava e
domesticava assim a ala mais populista, irrequieta, e “obreirista” dos nazis, que até aí os
servira na perseguição aos sindicatos, aos socialistas e aos comunistas e que
agora se tornava “um deles”, sem os indisciplinados membros das SA a incomodar
a “normalidade” das suas vidas.
Mas o que mais me impressionou neste livro foi, na breve biografia que
o autor traçou dos mais destacados líderes do nazismo, alguns pontos em comum
entre alguns deles: a aversão ao trabalho, a utilização da política como forma
de ascensão social de muitos deles e arrogância do seu carácter sem ética
social.
A maior parte deles eram pessoas falhadas, que, em circunstâncias
históricas normais, nunca teriam passado do anonimato e teriam, provavelmente,
levado a vida normal da pequena burguesia e das classe mais desfavorecidas.
Como é que uma sociedade culta e esclarecida, como era a alemã do
principio do século confiou o poder a esse tipo de gente é uma incógnita que
ainda hoje continua a motivar intensos debates entre historiadores, sociólogos
e politólogos.
O que mais me impressionou foi, com as devidas distâncias históricas, algumas
semelhanças nos percursos pessoais na actual geração de políticos europeus com
a carreira política das elites nazis.
Gente medíocre, que quase nunca trabalhou ou geriu uma empresa, ou,
quando o fez, foi totalmente incompetente e desastrosa, sem um conhecimento da história
europeia, pouco dados à cultura, ascendendo ao poder à sombra do mais abjecto
oportunismo e carreirismo politico, navegando entre as juventudes, as
concelhias e os congressos partidários, com falta de ética social, que olham
para os cidadãos ora como meros “eleitores”, “contribuintes” ou números
estatísticos.
Esta gente se tivesse vivido em plena Alemanha dos anos 30 não
desdenharia participar e dar o seu contributo para levar os nazis ao poder.
Hoje o nazismo é politicamente incorrecto, e, à distância, sabemos do
criminoso desfecho da sua política.
Mas os nazis eram gente “normal”, ambiciosa, bem comportada perante o
poder dos mais fortes, apoiado pelo poder financeiro, tal como muito dos
políticos que dominam as instituições e os governos europeus dos nossos dias.
Tal como aqueles, a maior parte dos actuais lideres políticos europeus
têm o mesmo desprezo pelos cidadãos em geral e por alguns grupos em particular.
Hoje os trabalhadores, os funcionários públicos e os pensionistas
substituem os judeus como a “escória” a abater por esses novos políticos, como
os “bodes expiatórios” das incompetência das suas desastrosas políticas
económicas e socias.
Hoje não usam camisas negras ou castanhas, mas uma postura formatada
que não dispensa a nova farda do fato e gravata, vivendo das aparências.
Hoje não têm a máquina propagandista de Gobbels , mas uma miríade de
jornalistas e comentadores, principalmente nas televisões, a tratar da
propaganda ao seu programa único de “combate” à austeridade, ao défit e de
salvação do corrupto sistema financeiro, seguindo a valha máxima nazi segundo a
qual, uma mentira várias vezes repetidas acaba por se tornar verdade.
Mas hoje, tal como ontem, desprezam as leis e as constituições, os
compromissos com os cidadãos, as liberdades e garantias socias.
Mas hoje, tal como ontem, limitam-se a obedecer ao sector financeiro,
sem ética ou vergonha, que os coloca no poder para melhor servir os interesses
desse sector, que não se importa de negociar com criminosos, desde que obtenham
lucros.
Hoje não é preciso assassinar ninguém, a não ser em casos extremos,
para levar a àgua ao seu moinhos, basta ameaçar com o desemprego, com a
penalização salarial, com o confisco puro e simples dos rendimentos das
pessoas, ou com o medo de um futuro sem esperança para os cidadãos e seus
familiares.
Hoje não é preciso levar ninguém para campos de concentração, basta
retirar direitos sociais e lançar milhões no desemprego e ao empobrecimanto para retira o futuro e
a esperança de vida aos cidadãos.
Hoje não é preciso invadir países com exércitos para os saquear, basta impor um resgate
financeiro para saquear um país.
Hoje, um homem com Hitler sentir-se-ia bem na pela de qualquer banqueiro,
comissário europeu , de qualquer burocrata do BCE…
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