INTEGRIDADE : esta é uma palavra que escasseia no discurso político, no
discurso jornalístico e no discurso cultural dos nosso dias.
“À Procura de Sugar Man”, de Malik Bendjelloui é um documentário sobre o modo como se podem
conjugar a integridade, os valores e o
talento numa sociedade marcada pelo espectáculo constante, pelo carreirismo a
toda o custo e pela falta de respeito pelo ser humano.
O documentário, que ganhou o óscar, conta-nos a fabulosa história de
Sixto Rodriguez, um talentoso musico que gravou dois álbuns entre 1968 e 1970 e
que desapareceu tão depressa como apareceu.
Por um acaso da história, um dos seus álbuns chegou à África do Sul na
época do apartheid e o talento da sua musica e a crueza esclarecida das suas
letras representaram uma lufada de ar fresco, entre a jovem comunidade branca
que não se sentia bem naquela regime.
As músicas de Rodriguez começaram a circular clandestinamente entre
grupos de jovens brancos contestatários e o seu nome tornou-se tão famoso, na
África do Sul, como um Bob Dylan ou os The Beatles.
Contudo ninguém sabia do paradeiro de Rodriguez e circulavam as mais
incríveis lendas, tudo apontando para a sua morte trágica e precoce.
Com o fim do regime do apartheid
cresceu a curiosidade sobre o destino do musico.
O filme retracta exactamente a
investigação que alguns fãs de Rodriguez levaram a efeito, conduzindo-os a um
desfecho imprevisível.
Afinal Rodriguez estava vivo, morando num subúrbio da decadente cidade
norte-americana de Detroit.
E o contacto com Rodriguez revelou um homem que nunca se interessou
pela fama ou pelo êxito, consciente do seu talento, mas que levou uma vida
simples, trabalhando na construção civil, tendo tirado um curso de filosofia,
tendo criado três filhas a quem proporcionou cursos universitários e a quem
ensinou, ao longo da vida, os valores da integridade e da cultura, mas que
desconhecia o êxito e a importância que ainda hoje tem na África do Sul.
Na África do Sul, depois de o descobrirem na década de 90, realizou mais de trinta
concertos, enchendo estádios e grandes salas de espectáculo.
Mas o êxito que ele descobriu que tinha naquele país africano, duas
décadas depois de ter deixado de editar musica, não o deixou deslumbrado, viu
tudo aquilo com muita curiosidade e lucidez, doou todo o dinheiro que obteve
como os concertos e continua a viver na velha casa de sempre, procurando
continuar a viver a vida simples e anónima que sempre levou em Detroit.
A fama nunca o atraiu e, contudo, teve-a à mão, pois a sua musica é de
uma qualidade intemporal e as suas letra são de um profundidade avassaladora.
Talvez que a crueza dos seus
temas não se adaptasse ao optimismo dos anos 60.
Mas Rodriguez também nada fez para obter essa fama. Fez uma opção
consciente.
Entre a fama ou a simplicidade e a integridade da sua vida, preferiu a
segunda opção. Quando no filme alguém o questiona sobre a oportunidade que deixou escapar, sobre se não achava que
podia ter tido uma vida “melhor” ele acrescentou “melhor…ou não!”.
Quando vivemos num mundo onde as pessoas estão viciadas no êxito fácil,
tudo fazem para os seus quinze minutos de fama, onde, parafraseando uma
personagem de Woody Allen, se é famoso por ser famoso, onde a comunicação
social , principalmente a televisiva, promove a mediocridade em todas as áreas,
a história da vida de Rodriguez é um edificante história humana, que nos faz
recupera a esperança na humanidade.
…como eu percebo Rodriguez!
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