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sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Está a decorrer, em Braga, a edição de 2014 dos Encontros da Imagem

Iniciou-se ontem mais uma edição dos   Encontros da imagem, a decorrer na cidade de Braga.

O programa desse evento pode ser consultado no site oficila :  Encontros da Imagem 2014

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Referendo na Escócia - uma vitória da democracia e uma derrota das actuais elites políticas europeias


Tem hoje lugar o referendo escocês que decide da independência ou não daquele país da Grã Bretanha.

Não deixa de ser curiosa a posição dos burocratas europeus, ameaçando a Escócia e os escoceses, caso optem pela independência.

A Comissão Europeia e a sua burocracia, fiéis serventuários do poder financeiro, sempre tiveram pavor pelas decisões democráticas dos seus cidadãos, cedendo apenas na eleição de um inócuo Parlamento Europeu, com poderes reduzidos.

Não deixa também de ser curiosa essa posição de pura chantagem contra os eleitores escoceses, se tivermos em conta a forma como a União Europeia apoiou que se retalhassem as fronteiras do leste do continente, ou a sua posição sobre a desintegração da Jugoslávia e a divisão, no seu próprio seio, da Checoslováquia.

Dois pesos e duas medidas que só revelam a desorientação dos políticos que nos governam, esquecidos que estão de um dos pilares da construção europeia, o da Europa das regiões, abandonada à voragem da especulação financeira e dos programas de "ajustamento".

Seja qual for o resultado, a União Europeia é já a grande derrotada deste referendo.

Não deixa igualmente de ser curioso e até divertido observar a argumentação dos conservadores britânico de Cameron contra os independentistas escoceses, quando muitos dos argumentos destes contra o domínio central britânico não diferem muito dos argumentos que o próprio Cameron usa demagogicamente contra a integração Europeia.

Também aqui, seja qual for o resultado, Cameron é já o grande derrotado, mas, mais do que ele, sai derrotada a herança politica thatcheriana, que contribuiu para acentuar o sentimento independentista escocês, já que a grande crise social em que a Grã-Bretanha mergulhou desde então, seguida pela demagogia "trabalhista" de Tony Blair, se fez sentir em larga escala na Escócia, a única região britânica que até hoje se mantém politica e coerentemente na oposição às políticas neoliberais implementadas desde então.

Seja qual for o resultado, é a democracia e a cidadania que saem reforçadas sobre a demagogia anti-democrática das actuais elites políticas europeias.

Para saber mais sobre o referendo escocês e sobre os seus efeitos, podem consultar o dossier do Público ,clicando no respectivo título.

O Expresso, por seu lado, inclui uma resenha das primeiras páginas dos jornais britânicos de hoje, onde se reflecte o dia histórico de hoje, que pode ser vista AQUI.

Podem também seguir, minuto a minuto, o que se passa na Escócia, ao longo deste dia do referendo, no The Guardian ou no Libération, clicando no título.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

"Reformar" a Democracia...ou quando os coveiros da dita se vestem de virgens imaculadas...


Sem partidos não há democracia.

Sem política não há cidadania.

Estas são duas verdades indesmentíveis.

O problema reside na forma não democrática como funcionam os partidos e no modo como a política se profissionalizou, afastando-se da cidadania.

Muitos daqueles que fizeram da política profissão e/ou que devem à política os  cargos, os rendimentos e a visibilidade que ocupam, cientes da velha máxima de  Abraham Lincoln segundo a qual podem “enganar toda a gente durante um certo tempo”, podem mesmo enganar “algumas pessoas todo o tempo”, não podem “enganar sempre toda a gente”, e apercebendo-se de que chegou o momento em que os cidadãos atingiram o seu limiar de tolerância par com as suas aldrabices, começam agora a movimentar-se no sentido de “reformar o sistema político”, tentando alijar as responsabilidades próprias na construção do sistema .

É assim que surgem propostas avulsas, aparentemente justas, para “reformar” os partidos e o sistema eleitoral e político, como a redução do número de deputados ou a criação dos círculos uninominais.

Contudo, a redução de deputados não altera nada, apenas reforça maiorias fictícias, beneficiando os grande aparelhos partidários e retirando a diversidade de opiniões representada pela presença de pequenos partidos.

O problema no parlamento passa por muita coisa, mas em especial, por duas situações: a falta de liberdade de voto dos deputados, sujeitos à disciplina partidária, e o facto de uma esmagadora maioria dos deputados estar no parlamento a representar lobbies financeiros, empresariais ou gabinetes de advogados, mantendo actividade extra parlamentar e beneficiando de um conjunto de privilégios muito para lá do razoável.

Sem se alterar essas situações, até podem reduzir para metade o número de deputados que os problemas de corrupção ética e oportunismo carreirista de uma grande parte dos deputados, não só se manterá, como se agravará, sem os pequenos partidos do “contra poder” presentes para fiscalizarem os excessos.

Quanto à outra proposta, a dos círculos uninominais, já aqui referimos ontem o que pensamos dessa proposta: apenas servirá para reforçar o caciquismo local e personalizar o vedetismo de "notáveis" fabricados pela visibilidade na comunicação social, vendidos como sabonetes.

Pelo contrário, os dois  aspectos cruciais para reforçar a democracia e aproximá-la dos cidadãos terão de passar, em primeiro lugar, pelo debate de ideias e projectos que os candidatos e os partidos devem apresentar aos cidadãos, sendo penalizados pelo incumprimento dos mesmos e, em segundo, pelo reforço da ética sobre a disciplina partidária.

Para além disso a política deve ser cada vez menos uma profissão e a garantia de uma carreira e cada vez mais um acto de cidadania. Para isso é necessário retira privilégios àqueles que exercem cargos políticos, seguindo alguns dos modelos existentes nos países nórdicos.

Um deputado deve ser um representante dos cidadãos, deve cumprir o programa e as ideias com que foi eleito e deve abandonar regularmente as funções políticas, regressando ao estatuto sócio-profissional que mantinha antes de exercer aquele cargo, tão rapidamente quanto possível, dando lugar a outros cidadãos, num sistema de rotatividade e inovação permanente.

Quanto aos partidos, estes não podem ter um discurso “anti-autoritário” e “liberal” para fora e funcionar como um micro sistema totalitário na sua organização e na escolha dos seus líderes.

Sem discutir estas situações, as “ideias” que andam aí a ser divulgadas por “notáveis” e profissionais da política não passam de meros discursos de circunstância, numa busca incessante para se manterem à tona  e disponíveis para cargos políticos no futuro, na esperança de não serem esquecidos no “novo” ciclo político que se avizinha, esperando, pelo contrário, que ninguém se lembre de indagar sobre a responsabilidade e os benefícios que a maioria deles teve no passado recente graças ao descalabro político-partidário que agora criticam e pretendem “reformar”.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

COMO SE A CRISE NÃO TIVESSE ROSTOS !!!! : Manifesto junta críticos do sistema político


A “crise” não tem rostos?

É fácil, hoje em dia, apontar, com alguma demagogia à mistura, as razões principais da crise:  o “despesismo” do Estado (ou daqueles grupos e interesses que controlam o Estado?), a corrupção dos políticos (ou a misturada entre alguns políticos e as negociatas com escritórios de advogados e o mundo da alta finança?), os “corporativismos” do funcionalismo público (ou os privilégios escandalosos de alguns que circulam entre o público e o privado, beneficiando das sua posições governamentais e dos seus altos cargos na administração pública, quase sempre sem concurso, por colocação político-partidária ?), as “altas” pensões pagas em Portugal (ou os pensionistas de luxo, como alguns ex-banqueiros e ex-políticos, nomeadamente os antigos administradores do Banco de Portugal?).

É fácil também recuperar Ramalho Ortigão ou Eça de Queirós para apimentar essas críticas e acusar os suspeitos do costumes: o rotativismo partidário, a Constituição e a própria lei eleitoral (Salazar “resolveu” os três problemas…).

Podemos concordar e subscrever por baixo algumas dessas críticas mas, nem sempre as soluções.

Uma das apontadas por essa gente é a da criação dos círculos uninominais. Conhecendo a situação política actual tal solução só iria incentivar e acentuar o caciquismo reinante em termos regionais (a situação na Região Autónoma da Madeira e em muitas câmaras aí estão para mostrar a falácia da personalização da política). Não me parece que a solução seja encher o Parlamento de "Isaltinos" Morais e "Joãos" Jardins.

Mas o mais incrível dessas posições, assumidas muitas vezes em “manifestos de notáveis”, como o recém lançado "manifesto dos 31" , é a candura como alguns dos subscritores se apresentam a defender uma “democracia de qualidade”, como se todos eles fossem virgens, sem passado na política recente ou sem responsabilidades no actual estado de coisas.

Aliás, cada vez mais, perante a falência do actual sistema partidário e de economia de casino se procura atribuir responsabilidades ao “sistema” e ao “regime”, branqueando as responsabilidades próprias e  históricas no actual estado de coisas.

É mais fácil acusar os “privilégios” de grupos socias e profissionais inteiros, ou a lei e a Constituição, do que assumir a incompetência dos próprios quando exerceram cargos com responsabilidade política. Muitos deles são o exemplo principal dos verdadeiros privilegiados deste sistema, beneficiando social, profissional e financeiramente da cativação de informação privilegiada, das ligações escandalosas e pouco éticas entre a política e os negócios e da excepcionalidade de chorudas pensões por cargos exercidos na política, na administração pública e/ou no Banco de Portugal.

O problema em Portugal não é o das leis e o da Constituição, mas a forma como essa gente a consegue contornar e aparecer com toda a candura a marcar a agenda mediática, apresentando como novo velhas receitas ou limpando as mãos das responsabilidades  que têm, como actores e/ou como beneficiários da actual cultura política e financeira que nos levou a esta situação de empobrecimento, de perda de direitos, de degradação do valor do trabalho e de descrença na democracia.

É caso para perguntar, quando vemos um manifesto criticando a situação, assinado por antigos ministros, antigos administradores do Banco de Portugal, antigos líderes políticos, beneficiários de cargos adquiridos por via de funções políticas, todos no passado recente defensores da austeridade e das suas consequências (cortes salariais e nas pensões, cortes nos direitos socias, empobrecimento generalizado da população trabalhadora …)se a crise não tem rostos e foi provocada por uma qualquer entidade divina e abstracta.

Tal como para subscrever um documento é bom ter em conta as letras pequenas, quando se lê um manifesto como o dos “31” é cada vez mais importante olhar com atenção para o  nome dos subscritores.

É que, apontar os sintomas e as soluções da crise é fácil. O difícil é separar os que sinceramente acreditam no que dizem daqueles, carreiritas e oportunistas de todas as áreas e espécies, que  procuram manter-se sempre na crista da onda e esgueirar-se das responsabilidades próprias na situação que criticam ou procuram apresentar-se como trazendo a solução para um problema pelo qual eles são dos primeiros responsáveis.


Manifesto junta críticos do sistema político - PÚBLICO(clicar para ler)

A JUSTIÇA AFINAL FUNCIONA : Contratar irmão de Paulo Pedroso custou a Lurdes Rodrigues 30 mil euros e pena suspensa

Alguns casos recentes, como a condenação dos arguidos do processo “Face Oculta” ou, agora, a condenação da antiga ministra da educação Maria de Lurdes Rodrigues, por violar, enquanto exerceu o cargo , os “princípios da livre concorrência, legalidade, transparência e boa gestão dos dinheiros públicos” no caso do contrato de João Pedroso para elaborar um trabalho, que podia ser executado por qualquer funcionário do ministério, mas pago a peso de ouro, apesar de nunca ter sido concluído, dão-nos alguma esperança em relação ao funcionamento da justiça em Portugal.

A reacção da antiga ministra à pena suspensa que lhe foi aplicada revela todo o desespero da arguida e a sua falta de postura de Estado, talvez porque estivesse habituada a uma postura arrogante e prepotente que assumiu enquanto ministra da educação.

Assim como outros diabolizam o tribunal Constitucional por incompetências próprias, a antiga ministra lança graves acusações ao funcionamento da justiça, esquecendo-se que tudo aquilo por que foi acusada se provou em tribunal.


Apenas um senão: não deixa de ser curioso que, quando o PS está no poder a justiça leva a condenação os crimes que envolvem gente do PSD (BPN, Isaltino Morais…) e quando é o PSD a estar no poder vemos condenados agentes políticos do PS….

Contratar irmão de Paulo Pedroso custou a Lurdes Rodrigues 30 mil euros e pena suspensa - PÚBLICO(clicar para ler artigo)

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Nos 35 anos do Serviço Nacional de Saúde - uma entrevista do jornal Público com António Arnaut:

Recordando o 35º aniversário da criação do Serviço Nacional de Saúde, o jornal Público entrevistou AQUI António Arnaut, o rosto daquela que foi a reforma mais bem conseguida da democracia portuguesa.

Infelizmente esta tem sido alvo, nos últimos anos, de tentativas para a destruir ou para a privatizar.

Nem tudo tem sido perfeito, mas o problema não é da sua implementação mas das várias tentativas de a desvirtuar para justificar a privatização da saúde.

Mesmo assim a saúde pública portuguesa continua a apresentar indicadores que colocam Portugal, nessa matéria, entre os melhores sistemas de saúde.

Faltou à democracia portuguesa políticos como António Arnaut, com convicção, acreditando nos seus projectos, integros e combativos, capazes de levar avante as reformas necessárias para desenvolver socialmente o país.

É pena que, na educação e na justiça, nunca tivesse surgido um homem como Antóni Arnaut.

Em baixo, apresentamos uma pequena selecção de cartoons que retratam, não só o muito que ainda está por fazer nesse sector, mas também os perigos e o resultado em que se pode transformar o SNS, caso as actuais políticas neoliberais da União Europeia e deste governo consigam vingar: 










quinta-feira, 11 de setembro de 2014

"Os portugueses que morreram no 11 de Setembro" (Jornal Sol):


Uma interessante referência a uma história pouco conhecida, a dos portugueses que morreram no 11 de Setembro de 2001, artigo publicado no jornal Sol e transcrito por Paula Cabeçadas, no blogue Suite de Idéias:

RECORDANDO UM DIA TRÁGICO - Duas datas, dois lugares, dois atentados terroristas: - Santiago 1973; Nova Iorque 2001:



Costa versus Seguro, ou o PS na "era do vazio"...

Os debates até agora realizados entre os dois “candidatos a primeiro-ministro” do PS têm sido muitos “esclarecedores”, exactamente porque.... não esclarecem nada.!!!

Sobre aquilo que ambos irão fazer de diferente em relação ao actual governo, ficamos a saber o mesmo…: um escuda-se no ataque pessoal e na defesa da honra perdida (Seguro); outro em frases vagas e vazias (como a defesa do “empreendedorismo jovem” e outras “ideias” que querem dizer coisa nenhuma, mas estão na moda…) e numa distante (quase arrogante) postura de estado, de quem acredita  que vai ser o próximo primeiro-ministro de Portugal (Costa).

Seguro tem a seu favor apenas o facto de ser o que melhor se demarca da trágica herança socrática.

Costa “promete” continuar a política de Sócrates, mas "melhorada", uma espécie de “polícia bom” dessa triste herança política do PS.

No essencial o PS continua igual a si mesmo…a versão portuguesa da irrelevância ideológica, política e social, rendida ao neoliberalismo da moda, da “social-democracia” europeia.

No dia em que se comemora mais um aniversário da morte de Salvador Allende, um dos últimos verdadeiros socialistas, talvez fosse bom que os candidatos à liderança do PS…dissessem qualquer coisa de socialista…

Costa ou Seguro ? ...prefiro estes "marretas":

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Portugal, o tal país que "está melhor", foi o país que mais desinvestiu na Educação

A triste notícia vem hoje publicada no Jornal de Negócios : Portugal é o país da União Europeia que mais desinvestiu na Educação.

A notícia sai no mesmo dia em que se sabe que 17% dos jovens com idades compreendidas entre os 15 e os 29 anos, não estudam, nem trabalham, o país da OCDE a apresentar o pior resultado neste domínio.

Se acrescentarmos a tudo isto,  a permanente humilhação dos professores ( redução salarial  de mais 16%, precaridade profissional, provas de acesso disparatadas...), o grande aumento de desemprego entre os professores, a campanha negra contra a escola pública, o encerramento de escolas,  a emigração em massa de jovens qualificados (qualificação paga pelos portugueses...) , percebemos qual é o tal país que "está melhor" idealizado por esta gente inqualificável que nos tem governado na última década, não só por cá, mas também na União Europeia!!!

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

A GRANDE FALÁCIA (mais uma...) :Portugal recupera 15 lugares no índice global de competitividade

Ácerca da divulgação de mais um relatório sobre o "índice global de competividade"(
Portugal recupera 15 lugares no índice global de competitividade - PÚBLICO) , jà AQUI escrevemos, em 2009, o que pensamos destes "índices".

Além da autêntica falácia que eles representam, há que recordar que a tão propagada "evolução" da "competitividade" em Portugal foi conseguida, em grande parte, graças à "flexibilidade laboral" e às "reformas" do governo, ou, traduzindo por miúdos, pela desvalorização do trabalho, com cortes salariais e perda de direitos, pelo aumento de impostos, pelo empobrecimento geral da população.

Mesmo assim não deixa de ser curioso que, apesar das tão propagadas "reformas", a classificação de Portugal nesse malfadado índice, o 36º lugar, continua longe do 23º lugar ocupado em 2002, quando os portugueses viviam "acima das suas possibilidades" e o "Estado" estava "controlado" pelas "corporações de sindicatos e profissionais" e os funcionários públicos eram uns "privilegiados"!!!!

Ainda sobre a falácia desse rakings, aqui fazemos nossas as palavras de Santana Castilho sobre a ditadura dos instrumentos de avaliação, aquilo que ele designa como uma versão moderna de fascismo:

“ (…)
“Há hoje um verdadeiro poder oculto, uma autêntica ideologia dominante, que nos invade a vida: para onde quer que nos viremos, somos interpelados por instrumentos de avaliação. Mas as práticas avaliativas, desde que enquistadas em modelos burocráticos e universais, ou são instrumentos de poder e de controlo social, alegadamente para tornar mais eficiente o funcionamento das nossas instituições, ou não passam de modismos improdutivos, macaqueados por uma sociedade que pensa pouco e obedece demasiado.

Na administração pública e no governo do país há uma casta de fundamentalistas da aritmética política que, fazendo da estatística guião e da econometria bíblia, tudo querem reduzir a rankings. Como se o interior das pessoas, os problemas da educação, da saúde ou da justiça, entre tantos que afectam os humanos, fossem assim solucionáveis.

Noutros tempos, os invasores eram combatidos. Na cultura avaliativa que hoje impera, são muitas vezes os «invadidos» que endeusam o conceito e que facilitam e solicitam a acção dos «invasores». Neste contexto, as tecnologias modernas de comunicação e informação assumem particular relevância, pondo todos a observar todos, numa devassa inimaginável da privacidade de cada um e numa actividade de controlo social exercido em cadeia. Os teóricos desta moderna avaliação têm uma propensão monstruosa para tudo gerir com a aplicação de modelos, que reduzem culturas e contextos díspares à mesma escravatura de resultados.


Entendamo-nos. Desde sempre, todos os chefes competentes e todos os chefiados honestos concordaram com a necessidade de avaliar para gerir bem. Mas dificilmente alguém me convencerá de que é útil aplicar medidas de desempenho estereotipadas, normalizadas e gerais a tudo o que é diverso. Ou que se pode tudo medir e tudo indexar a resultados, índices e rankings. É esta cultura de avaliação tendente a constituir-se como autoridade única, radical, que paulatinamente vai unificando práticas, vigiando e suscitando veneração, que contesto. É a relevância que se lhe atribui que repudio. É a passividade da sociedade face a uma certa versão moderna de fascismo que me preocupa”.

(Santana Castilho, "Uma certa versão moderna de Fascismo", Público 27 de Agosto de 2014)

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Que rica crise

Segundo noticias ontem divulgadas, a venda de carros de luxo tem vindo a aumentar nos últimos meses em Portugal, com  a Porche a crescer 70% e a Ferrari...140%...

A notícia, aliás, mereceu meras notas de roda-pé na imprensa e nem foi referida na informação televisiva.

Sobre ela não se ouviu uma palavra dos comentadores do costume, sempre tão prontos a acusar os portugueses que vivem "acima das suas possibilidades" ou os funcionários públicos e pensionistas pelos seus "privilégios".

É caso para dizer...que rica crise!!!



segunda-feira, 1 de setembro de 2014

O regresso (ao passado?)


No dia em que se comemora o 75º aniversário da invasão da Polónia pelos nazis (logo seguida pela invasão do leste desse martirizado país pelas forças soviéticas de Stalin, é bom recordar), e quando se comemora, igualmente, o centenário do início da Primeira Guerra Mundial, quando se julgava que a guerra na Europa era mera curiosidade histórica, voltam a rufar os tambores da guerra no velho continente.

O mês de Agosto foi fértil em acontecimentos preocupantes.

Dois governos de cariz neofascista e autoritário, o Ucraniano e o Russo, que assentam o seu poder na manipulação da opinião pública, no crescimento do militarismo, na repressão e humilhação das oposições, no desrespeito pelos mais elementares direitos humanos, apoiados financeiramente por oligarcas mafiosos que cresceram à sombra do apodrecimento dos restos da antiga União Soviética, digladiam-se no leste empobrecido da Ucrânia.

E o mais grave de tudo é que, no ocidente, não se vêem forças independentes, capazes de mediarem o conflito ou de condenarem com veemência as duas facções mafiosas em confronto. Pelo contrário, tomam partido por uma das facções, armam-nas e financiam-nas, em conivência pelos crimes contra a humanidade, já concretizados ou que se irão acentuar com o agravamento do conflito, cometidos por ambos os lados, como o abate de um avião civil de passageiros, o desfile humilhante de prisioneiros de guerra, ou o bombardeamento de cidades onde vivem milhares de civis, para além de várias atrocidades cometidas por milícias de ambos os lados.

Também o médio-oriente, aqui mesmo à porta, está a ser sujeito a conflitos onde se cometem as mais atrozes barbaridades que envergonham toda a humanidade.

E, mais uma vez, a passividade da comunidade ocidental, a irrelevância da ONU (desmantelada, diga-se em abono da verdade, por Bush e Tony Blair no inicio deste século, para justificar intervenções ilegais dos seus governos no Iraque e noutras zonas, política aliás continuada recentemente pela NATO na Líbia), os erros e a incompetência das acções ocidentais nessa região (Palestina, Iraque, Líbia e Síria e, em breve, Irão…) colocam aquela região a ferro e fogo, para sofrimento de milhares, senão milhões de habitantes.

Se a tudo isto juntarmos uma crise financeira a ser paga pelos cidadãos europeus que trabalham e cumprem com as suas obrigações e que mergulha a Europa numa situação de empobrecimento acentuado, uma crise sanitária em África que em breve se estenderá ao ocidente e a crescente corrupção de políticos e o domínio crescente do poder financeiro sobre as decisões democráticas, para além da irreversibilidade, atingida em meados de Agosto, da crise ambiental, estão lançados todos os ingredientes para transformar o mundo de hoje e o seu futuro próximo numa imenso desastre humanitário sem retorno.

Enfim, com esta imagem pessimista iniciamos mais uma época de trabalho.

Esperando que as mais negras previsões não se concretizem, daqui desejamos a todos um bom regresso à realidade…