Há muitos anos conheci um amigo do meu pai, piloto da Força Aérea Portuguesa, homem da oposição, mas que, por razões profissionais, tinha combatido na Guerra Colonial, participando em bombardeamentos, na Guiné, sobre aldeias dominadas pelo PAIGC.
Ele
sabia que tinha participado em massacres sobre a população civil, obedecendo às
ordens do governo português e, porque não teve outra opção a não ser
participar nesses massacres, considerava que o mínimo que podia fazer era
denunciar esses crimes e desmentir a tentativa das autoridades do Estado
Novo de negarem a realização desses massacres, já que ele tinha
participado neles, a mando dos seus superiores hierárquicos.
Dizia
ele que, apesar de tudo, como lá de cima não via o resultado dos
bombardeamentos, não assistindo ao horror no terreno, como acontecia com tropas
de infantaria, tinha evitado ficar traumatizado para vida. Mas não desistia de
denunciar a situação junto de quem o ouvia.
Anos
depois, aí pela década de 1980, conheci um mercenário, também piloto da Força Aérea,
que tinha combatido na Força Aérea Israelita, e que confirmou a actuação
dessa força aérea, tendo participado em bombardeamentos sobre aldeias
palestinianas, a mando do governo de Israel. Também ele lamentava o sucedido e
tinha consciência que, nesses bombardeamentos, tinha massacrado populações
civis, e, por isso, sentia-se com legitimidade para denunciar as tentativas dos
governos de Israel de branquear a situação, o que lhe custou o emprego.
Nessa
guerra fratricida entre Israelitas e Palestinianos, nenhum dos lados tem as
mãos limpas de sangue, entrando-se num carrocel imparável de horror.
Como dizia Gandhi, entrando na lógica do "olho por olho, dente por dente", todos acabaram cegos.
Foi
isso que aconteceu, mais uma vez, no passado Sábado, coma actuação terrorista e
hedionda do Hamas em solo Israelita.
Israel
tem o direito de, neste caso em concreto, retaliar contra os terroristas do
Hamas, mas, se quer mostrar que é diferente, tem de actuar com discernimento e
de forma cirúrgica, evitando massacrar ainda mais a população palestiniana,
atirando-a para os braços dos extremistas islâmicos.
Com
os meios que tem, de apoio aéreo, de acesso a satélites e a armas sofisticadas,
com o uso da mais avançada tecnologia militar, apoiado pelos serviços de
informação dos Estados Unidos, Israel, se se quer demarcar da barbárie, tem o
direito de retaliar, mas tem a obrigação de evitar os massacres de outros
tempos.
Infelizmente
não é isso que temos visto, nas imagens de bombardeamentos à Faixa de Gaza, que
em tudo nos fazem recordar a acção dos nazis no Ghetto de Varsóvia.
Infelizmente, mais uma vez, assistimos ao velho princípio dos dois pesos e duas medidas, em que uns massacres são hediondos, e são, mas outros, se forem realizado por “amigos”, são “fofinhos”.
1 comentário:
Excelente artigo. Boa visão. Obrigada!
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