Os dias que rolam, numa visão plural, pessoal e parcial de um mundo em rápida mutação. À esquerda, provocador e politicamente incorrecto, mas aberto à diversidade...as Pedras Rolam...
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sexta-feira, 22 de dezembro de 2017
quinta-feira, 21 de dezembro de 2017
BLITZ…acabou o papel!
Acaba de sair para as bancas o último número da revista Blitz.
Revista fundada em 1984, então em formato de jornal e semanário,
tornou-se na principal revista de referência dos amantes da musica popular.
Por esse tempo, participando no movimento das rádios locais, a compra
regular das edições semanais do jornal era um momento fundamental para
acompanhar as novidades e revelações do mundo da musica, auxiliar fundamental
para quem mantinha programas de rádio que procuravam ser originais, embora
esses programas procurassem ser muito mais que um gira discos radiofónicas.
Graças ao Blitz descobri muitos dos grupos que me acompanharam como “banda
sonora” desses dias das décadas de 80 e 90.
Mais tarde o Blitz transformou-se em revista e mensário e deixei de a
acompanhar com a regularidade da sua fase anterior, até porque os meus
interesses se viraram para outros temas e me desiludi depressa das rádios
locais, que perderam toda a sua irreverência, criatividade e novidade.
Hoje o Blitz despede-se dos seu leitores, editando a última edição em
papel, embora mantendo uma edição digital.
E despede-se em grande, reproduzindo um longa e inédita entrevista com
o Zé Pedro, onde ele se refere ao célebre concerto dos Xutos, na praia de Santa
Cruz, ao qual me referi em post anterior (AQUI).
É com um excerto dessa referência que me despeço deste original
projecto editorial, mais uma vitima dos “novos tempos” digitais:
“Lembro-me que, num dois primeiros concertos que tivemos, com os Minas
& Armadilhas, no antigo Casino da Praia de Santa Cruz, as bandas dormiam no
palco. Tocávamos duas noites e nem saiamos dali. De manhã eu e o Kalú estávamos
a ressacar e, entre cervejas eu digo-lhe: “nós vamos ser a melhor banda de
Portugal. Ainda havemos de fazer a primeira parte dos Rolling Stones, vais ver.
Escreve aquilo que te estou a dizer: vamos ser abanda número 1 em Portugal”. E
isto no segundo ou terceiro concerto que demos. Não sei como explicar, mas
tinha essa convicção e incutia isso neles. E quando fizemos a primeira parte
dos Rolling Strones, o Kalú lembrou-se: “dissemos isto há anos!” (…)”.
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quarta-feira, 20 de dezembro de 2017
Seja qual for o resultado: …que viva a Catalunha, Rajoy nunca mais!
Portugal deve à Catalunha o facto de ser um país independente (…para o
bem e para o mal…!!).
Além disso, a Catalunha é uma das regiões mais criativas e
culturalmente dinâmica de toda a Península Ibérica.
O actual processo politico tem provocado grande instabilidade e
divisões insanáveis na sociedade catalã e está a destruir toda a dinâmica dessa
grande nação.
Por tudo isso, desejo que o actual processo eleitoral resulte num virar
de página na insustentável situação catalã, principalmente porque os catalães
merecem mais do que aquilo que lhes está a acontecer.
Provávelmente o resultado das eleições de amanhã não vai alterar o
equilíbrio de forças que se vive actualmente naquele país, com a sociedade
dividida salomonicamente entre “unionistas” e “independentistas”.
Se os “independentistas” mantiverem a maioria anterior e vencer um dos
seus partidos, o impasse vai-se manter e única solução é a negociação.
Esta situação será uma derrota para Rajoy e este só terá um caminho:
demitir-se e convocar eleições para a Espanha.
Se, pelo contrário, os “unionistas” tiverem maioria, mesmo parcial, a
situação vai agravar-se e o diálogo vai tornar-se impossível, com Madrid a
fazer gato sapato dos catalães, radicalizando os independentistas, conduzindo a
situação a um desfecho imprevisível.
Mas, se os “unionistas” vencerem, vão ficar a dever essa vitória ao
crescimento eleitoral do “ciudadanos”, um partido da direita neoliberal, o mais
falacioso partido do actual panorama politico espanhol, e só poderá vencer à
custa da redução do PP e do PSOE à irrelevância politica.
Assim, esta será uma vitória de Pirro para Rajoy, que
ganhará…perdendo…e, a prazo, Rajoy só tem um caminho…a demissão e a convocação
de eleições antecipadas para a Espanha.
Resta, no meio da confusão, a inesperada serenidade do “Podemos” que,
nestas eleições, se perfila como partido charneira entre independentistas e
unionistas, o único que pode ter condições para aproximar as duas posições.
Assim, se nem “independentistas”, nem “unionistas” tiverem maioria absoluta, a
votação do Podemos será decisiva e a única a ter alguma utilidade.
Aconteça o que acontecer, o que desejamos para amanhã é …que viva a
Catalunha… e seja o inicio do fim de Rajoy…
segunda-feira, 18 de dezembro de 2017
sexta-feira, 15 de dezembro de 2017
quinta-feira, 14 de dezembro de 2017
Portugueses no Holocausto - uma exposição no CCB
"Trabalhadores Forçados Portugueses no IIIº Reich - memória, responsabilidade, futuro" é o título de uma exposição que está no CCB (sala no 1º andar da entrada sul) e pode ser visitada até 22 de Janeiro de 2018.
A exposição e os vários materiais aí revelados tem por base um trabalho de investigação académico, pioneiro, liderado pelo professor Fernando Rosas, realizado pelo Instituto de História Contemporânea da Universidade Nova de Lisboa, com base numa equipa de cinco investigadores, entre eles a torriense Cristina Clímaco.
A exposição revela o uso de trabalhadores forçados para apoiar a economia nazi, não só no esforço militar, mas também por muitas empresa alemãs, alguma ainda existentes.
Entre esses trabalhadores estiveram muitos portugueses e este é o tema fulcral desta exposição, que enquadra a situação destes no contexto da 2ª Guerra.
Embora nem todos os trabalhadores portugueses fossem forçados, muitos acabaram no esquema do trabalho forçado, que usava a rede de mais de 40 mil campos de concentração existentes na "grande Alemanha" como base de recrutamento.
Embora nem todos esses campos fossem campos de extermínio, sabe-se que cerca de 70 portugueses viveram, e muitos morreram, nestes campos.
Esta exposição procura assim homenagear os muitos portugueses que viveram o terror nazi.
A revista Visão História editou um número especial dedicado a esta exposição e que é um excelente auxiliar para acompanhar a visita.
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quarta-feira, 13 de dezembro de 2017
Honestidade e solidariedade …duas coisas “raríssimas”!
Começo com uma pergunta:
Alguém conhece uma Associação privada de Solidariedade Social que pague aos
seus dirigentes um ordenado de três mil euros e outro tanto de ajudas de custo,
e que pague a um consultor 63 mil euros anuais pela colaboração?
Eu pensava que ninguém conhecia, nem havia disso em instituições
privadas, financiadas pelo Estado, principalmente quando essas instituições
dizem ter um carácter solidário e caritativo.
Agora fico a saber que existe uma Instituição que pagava aqueles
valores à sua directora, Paulo Brito Costa, e a um consultor, que era, “por
acaso” o demitido secretário de Estado da Saúde Manuel Delgado e, ainda por
cima, a primeira usava muito do dinheiro dessa Instituição em proveito pessoal
e o segundo usava o seu poder para dar a essa Instituição e à sua mentora privilégios
que não estão acessíveis à maior parte das instituições do mesmo género, muitas
delas lutando pela sobrevivência diária.
E, o que é mais grave, é que desconfio que este caso não será o único!
E já agora, como é que gente tão bem relacionada no meio, desde o actual
Presidente da República ao actual Ministro da Solidariedade Social, passando
por Leonor Beleza e Maria de Belém, desempenhavam funções e colaboravam com aquela
Insituição e nunca deram por nada???
Penso que, se se puxar o fio à meada, muita àgua vai correr, e é toda uma
geração de políticos, economistas, gente do “jet-set”, interesses farmacêuticos
e financeiros, que nos conduziu ao descalabro dos últimos vinte anos, que terá
de prestar contas, indo fazer companhia a Sócrates, Delgados, Duarte Limas , e a “tecoformicos”
vários…
Se houver coragem é o fim definitivo do “centrão!
Os anos de Sócrates e da Troika, mais a propaganda neoliberal do “menos
Estado e mais negócios”, criaram uma
situação onde a honestidade, a verdadeira solidariedade e o respeito pelos mais
fracos se tornaram…uma coisa RARÍSSIMA!!!
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terça-feira, 12 de dezembro de 2017
segunda-feira, 11 de dezembro de 2017
Lu Nan, o fotógrafo da China esquecida
Lu Nan, fotógrafo chinês da
Magnum (ver AQUI) , pode ser descoberto agora em Lisboa. No Museu Berardo, em Lisboa, até 14 de Janeiro (ver mais clicando em cima).
domingo, 10 de dezembro de 2017
O tema da semana em Cartoon´s : Trump e Jerusalem
BêDêZine: O tema da semana em Cartoon´s : Trump e Jerusalem (clicar para ver mais)
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quinta-feira, 7 de dezembro de 2017
A “Minha Vida” com Os Xutos e Pontapés..
Acompanhei o percurso dos Xutos desde os primeiros tempos.
Ainda me lembro de, para grande pena minha, não ter na altura dinheiro para os ver, ainda uns quase ilustres
desconhecidos, no “Casino” de Santa Cruz, num verão lá para os finais da década
de 70 (provavelmente em 1979, já que esse foi o ano oficial da sua fundação).
Actuavam juntamente com outro grupo da época, os “Minas de Armadilhas”,
na altura os seus principais rivais no panorama “punk” nacional.
Apesar de não ter podido assistir a esse concerto, que foi um dos primeiros
dos Xutos ao vivo, a frustração de não os ter podido ver foi compensada pelo reencontro,
nas ruas de Santa Cruz, de um amigo, o Rui do D. Pedro V, (não me recordo do
apelido, mas vivia na Avenida de Roma e depois, com os anos perdi-o de vista…até
hoje), que era menager de um desses grupos (fiquei com a idéia que era dos
Xutos, mas talvez fosse dos Minas e Armadilhas !!??).
A partir de aí fui seguindo a carreira do grupo, bastante inovador, com
letras que retratavam bem uma juventude suburbana e a irreverência punk,
acabando por desembocar no sempre eterno rock and roll.
Não sei nomear todos os espectáculos dos Xutos a que assisti
posteriormente, geralmente em festivais, sem esquecer a sua presença sempre
habitual nos palcos das festas do Avante.
Recordo-me, contudo, de uma passagem de ano, penso que a de 1980 para
1981, no antigo refeitório da Cidade Universitária, onde os Xutos eram a banda
principal, mas que tiveram de interromper abruptamente a sua actuação, não sei
se ainda antes da hora da passagem de ano, e todo o pessoal foi evacuado do
pavilhão, porque alguém de ente o público tinha sido esfaqueado, num ambiente “normal”
entre a geração punk .
Entretanto ,vi-os pela última vez no Rock in Rio de 2012, já a banda
consagrada dos nosso dias, numa actuação que quase fez esquecer os grandes
nomes que já por ali tinham passado nesse dia (os Kaiser Chiefs e os James) e o
que actuou a seguir a eles , o grande Bruce Springteen…
Estou convencido que, apesar do desaparecimento trágico do Zé Pedro, a
banda tem todas as condições para continuar por muitos e mais anos.
Como alguém dizia, os Xutos são um daqueles grupos com quem mais de 90%
dos portugueses se cruzaram, pelo menos uma vez na vida, num qualquer
espectáculo ao vivo e para quem qualquer tema seu é um tema da nossa vida.
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quarta-feira, 6 de dezembro de 2017
Dijsselbloem em cartoon´s - uma figura que só deixa saudades aos cartoonistas
O Homem que liderou de forma desastrosa o Eurogrupo, tendo contribuído para aumentar as divisões e as desigualdades entre os Europeus, vai finalmente sair de cena no próximo dia 13 de Janeiro.
Os holandeses já correram com esse racista há muito tempo.
Por cá não deixa saudades e representou o pior que existe entre os burocratas de Bruxelas.
É caso para dizer..."adeus, até nunca mais".
Aqui se recorda a sua "acção", que quase conduziu à destruição do euro e da Europa e que tanto sofrimento causou em Portugal , numa recolha de cartoon´s, que retratam bem essa tenebrosa figurinha:
sexta-feira, 24 de novembro de 2017
Torres Vedras e as Cheias de 25 de Novembro de 1967
VEDROGRAFIAS: Torres Vedras e as Cheias de 25 de Novembro de 1967 (clicar para ler)-
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quarta-feira, 22 de novembro de 2017
NOS ÚLTIMOS DIAS DA UNIÃO SOVIÉTICA – 5 (conclusão)– (Agosto de 1991) Regresso a Moscovo .
Chegámos
a Moscovo por volta da 7.30 do dia 3 de Agosto de 1991.
Voltámos
ao hotel “Saliut” (Fogo de Artifício). Depois do pequeno-almoço, voltámos à Praça
Vermelha.
O
ambiente em Moscovo pareceu-me mais alegre, menos frio e triste do que na
semana passada, Talvez seja do sol e do calor de Verão que se faz sentir.
Também
me parecia haver mais gente nas ruas e maior variedade e quantidade de produtos
à venda. Será porque é principio do mês e de férias? Ou será que já nos
habituámos ao ritmo de vida soviético?
Dei
uma volta pelos “armazéns do povo”, o GUM. Havia segurança reforçada, provavelmente
por causa da visita de George Bush. Cruzamo-nos com grandes grupos de turistas
espanhóis.
Na
Praça Vermelha passou por mim um grupo de indivíduos bem vestidos, a serem
filmados e das entrevistas à televisão. A figura em destaque no grupo
pareceu-me o Boris Ieltsin, presidente da República soviética da Rússia, mas
não tenho a certeza. Tentei indagar junto de um dos elementos da comitiva, mas
este olhou para mim com se tivesse visto um extraterrestre e continuou o seu
caminho.
Muitos
noivos recém casados escolhem a Praça Vermelha para as fotografias.
No
centro da Praça existe um murete circular, onde eram decapitados os inimigos
dos czares. Hoje as pessoas atiram moedas da o interior do murete e fazem um
desejo.
De
vez em quando ouvem-se os apitos da policia a abrir alas para deixar passar carros
topo de gama em alta velocidade que entram para lá dos muros do Kremlin.
Regressamos
ao hotel para almoçar. Eu vim carregado com um saco cheio de bonitos crachats,
com símbolos soviéticos e outros motivos menos políticos.
Custou-me tudo, no
GUM, cerca de 60 rublos, uns 300 escudos [hoje pouco mais de uns euros].
À
tarde fomos visitar o Museu de Arte Pushkin, com uma colecção de arte temporariamente
bastante abrangente, da arte Suméria aos Impressionistas europeus.
Uma
sala reproduzia em tamanho natural vários monumentos e objectos de arte da Suméria, do Egipto, da Grécia, …até ao renascimento Italiano, tudo
com uma preocupação didáctica.
Tinha
muitos outros objectos, este originais, de arte egipcia, incluindo múmias e
sarcófagos.
Uma
sala exibia uma variada e valiosa colecção de pintura russa.
Mas
o que mais me entusiasmou foi a sala com originais da pintura vanguardista
europeia, do final do século XIX ao principio do século XX: Cezanne, Gauguin,
Kadinsky, Matisse, Picasso, Paul Klee e Miró. Picasso e Matisse tinham uma sala cada um, totalmente
dedicada à sua pintura. Também vimos uma obra original, mas inacabada, de
Toulouse-Lautrec.
Voltámos
ao Hotel por volta da 17.30, todos bastante cansados.Eu ainda aproveitei para
dormir antes do jantar.
Hoje
ficámos pelo Hotel e aproveitarmos para recuperar da noite mal dormida da
viagem da noite anterior e da “andarilhação” do dia.
Manhã
do dia 4 de Agosto.
A
manhã inicia-se com a visita ao Túmulo de Lenine, na Praça Vermelha. Havia uma
longa fila para entrar e muita segurança. O ambiente era pesado, e avisaram-nos
que era proibido tirar fotografias e tínhamos de visitar o túmulo na máxima
ordem e em silêncio. O interior do túmulo de mármore preto e vermelho é
impressionante pela sobriedade e pela luz difusa. O corpo embalsamado de Lenine
encontra-se no interior de uma vitrina, guardada por quatro soldados estáticos.
É um ambiente pesado e solene. Parece a entrada de um túmulo egipcio. Ao que se
diz, Lenine nunca quis este túmulo, preferindo ser enterrado junto da sua mãe.
Contudo o culto da personalidade imposto por Stalin acabou por não respeitar o
desejo do primeiro líder soviético.
À
saída, ao ar livre, no seguimento do edifício do túmulo, passamos pelos túmulos
de outrso líderes soviéticos, como os respectivos bustos. Lá estão Stalin,
Brezenev, Tchernenko, Andropov, entre outros. Em gavetões junto aos muros do
Kremelin estão outras personalidades ligadas à revolução ou aos feitos emblemáticos
do regime, do escritor John Reds a Gagarin e outros astronautas.
Fomos
depois vistar a Igreja de S. Nicolau, uma dos mais emblemáticos monumentos da
praça vermelha, com as suas cúpulas coloridas. O interior está coberto de
ícones pintados a fresco.
Almoçámos
no Hotel Russia nessa mesma praça.
Depois
do almoço dei uma volta a pé pelas redondezas da Praça Vermelha, bebi uma
pepsi-cola num café, andei a ver os quiosques que vendem de tudo, idênticos a
tantos outos espalhados pela cidade.
Apesar de inestéticos, são o embrião da crescente iniciativa privada permitida
pela Perestroika e complementam as faltas que se fazem sentir nas lojas
estatais.
Embrcamos
depois numa viagem pelo rio Moskva (Moscovo), ficando com outros panorama da
cidade. Embora as vistas nãos sejam tão interessantes como as que tivemos na
viagem no rio de Kiev, observámos a existência de muitos espaços verdes, alguns
cheios de gente que os utilizam com se fossem praias. Muita gente a circular
pelos jardins desses espaços, em fato de banho, a apanhar sol ou a banhar-se no
rio.
Voltámos
ao Hotel para jantar e de seguida, com outras pessoas do grupo, fomos viajar de
metros até a Praça Vermelha para a ver iluminada. É um belo espectáculo, com
estrelas iluminadas, todos os edifícios cheios de luz e muita gente a passear.
Regressando
ao Hotel. A televisão do quarto tem acesso a quatro canais. Num deles passa a
série pirosa “O Barco do Amor”, dobrado em russo. Filmes e séries televisivas
são dobradas, mas com uma característica diferente da que conhecemos.
O som
original e as conversas originais passam em fundo, e a dobragem é feita
oralmente por cima do original, o que gera alguma confusão.
Hoje
é domingo, 5 de Agosto de 1991 e é o nosso ultimo dia na União Soviética.
O
dia é livre e resolvi aproveitar para visitar Moscovo por minha conta, usando o
metro para me deslocar.
Tinha
feito um roteiro com as estações de metro mais icaracteristicas e com as que
íam ao lugares mais interessantes.
Comecei
pelo metro que me levou às respectivas casas museu Tolstoi e Puskin, pois ficam práticamente
em frente uma da outra.
Tolstoi,
o autor da Guerra e Paz, tem no museu com o seu nome vários objectos de uso
pessoal, manuscritos, quadros e fotografias.
O
mesmo sucede com a casa Pushkin, um poeta importante da União Soviética.
Os
palacetes dessas casas-museu são bastante bonitos, com tectos ricamente
cobertos de pinturas.
Depois
dessa visita, aventurei-me sozinho para visitar 15 estações de metro eu tinha
escolhido previamente.
O
preço de cada viagem era uma pechincha, o que me permitia sair à rua, para
observar as redondezas, e voltar para pagar outra viagem. Aqui não existe
bilhete, entra-se no metro colocando uma moeda.
Num
dos lugares onde sai à rua, deparei-me com o famoso edifício sede do KGB, com
um ar algo sinistro.
Para
me orientar, porque as indicações estavam todas em russo, tinha que perder
algum tempo a comparar os nomes, letra a letra e depois procura a linha correcta. E lá me desenrasquei.
Não
há praticamente uma estação igual, todas ricamente decoradas , uma espécie de catedrais
subterrâneas, o orgulho dos moscovitas.
As
estações dão quase todas coberta de mármore, com grandes candeeiros de belo
design, algumas com pinturas em mosaico ou esculturas. As mais bonitas são as
das estações de “Kiev” e “Leninegrado”.
Voltei
a atravessar a pé a Praça Vermelha para ir almoçar ao Hotel Russia e, depois de
me despedir dessa praça, que vou ver talvez pela última vez na minha vida,
voltei a apanhar metro até à Rua Arbat, que percorri detrás para a frente
várias vezes.
Aí
voltei a encontrar de tudo. Muita gente a vender artesanato, entre o qual as
célebres Matrioskas, das tradicionais à mais originais com temáticas várias, músicos
a tocar vários tipos de instrumentos e géneros, artistas plásticos expondo e/ou
vendendo os seus trabalhos (alguns, provavelmente, serão famosos daqui a uns
anos..), acções de protesto contra a situação politica na União Soviética,
muitos artistas a pintar retratos ao vivo, caricaturistas e, principalmente,
muita gente, turistas ou não (hoje é Domingo).
É
uma rua difícil de descrever, uma feira da ladra em ponto grande.
Nas
ruas aparecem muitas pessoas a vender latas de caviar e garrafas de vodka.
Comprei duas garrafas a uma velhota, com aspecto de camponesa. Só provei o
vodka em Portugal e foi o melhor que até hoje provei.
O
dia terminou com o regresso ao hotel e um jantar de despedida, com champagne e
bebidas típicas da Rússia, incluindo ainda um espectáculo de folclore russo,
com cossacos a dançar e a musica alegre típica destas paragens.
Amanhã
levantamo-nos às 4 da manhã, saímos do Hotel por volta das 5 horas (três em
Portugal) para irmos para o aeroporto para a viagem de regresso a Portugal.
Cheguei
a Lisboa por volta da 11 horas da manhã
do dia de Agosto de 1991 e, só
aqui, fui incomodado pela policia que, no aeroporto, me mandou sair do grupo e
me levou para um gabinete para revistar cuidadosamente a minha mala. Pensava que
era por causa das garrafs de vodka que trazia, mas o problema deles era como os
gorros russos, que foram revistados e revirados várias vezes. Finalmente
deixaram-se sair….ero o belo país do “cavaquismo”…
Esta
viagem não teria sido possível se não tivesse sido desafiado pelas minhas
colegas e amigas Noémia Santos e Paula Viegas, com quem partilhei alguns dos
momentos acima descritos.
No
grupo, nós os três e o Carlos de Alcochete, que conheci na viagem, eramos os
mais novos. O resto do grupo era composto por gente mais velha (talvez com a
idade que tenho hoje, mas alguns a rondar os 80), algumas pessoas já tinham
feito a viajem uns vinte anos antes.
O
ambiente que se respirava entre as pessoas com que nos cruzámos na União
Soviética era de mudança e esperança.
A
liberdade começava a fazer o seu percurso e, se o caminho a fazer podia ter
sido diferente, o que era evidente é que ninguém pretendia voltar para trás.
Foi
isso que, cerca de 15 dias depois de termos deixado aquele país, um grupo de
militares caquéticos e stalinistas não percebeu e, ao tentar afastar Gosbachev do poder, apressou,
com esse acto irresponsável, o fim de um regime que já não tinha fôlego para
dar às pessoas uma vida melhor e digna.
A
história daquele país deu, desde então muitas voltas, e hoje volta a viver um
impasse.
A
única certeza é que o mundo que visitei
naqueles dias de 1991 desapareceu de vez.
Ficam
as recordações que, por aqui, com base num diário que então escrevi, tentei reproduzir
o mais fiel possível à forma como senti esses momentos de pura descoberta, num
mundo que era totalmente diferente do que conhecia até então.
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