Este caso da Tecnoforma é “apenas” mais um caso de compadrios políticos, de uso indevido de dinheiros públicos, de estratagemas de engenharia financeira, de fuga ao fisco, e de falta de ética na gestão da “coisa pública”, de que nos vamos habituando a ouvir falar, quando alguém resolve, com coragem e risco profissional, como o fizeram os jornalistas do Público, fazer uma investigação a sério sobre as ligações passadas e a história da ascensão pessoal da nossa elite política dos últimos vinte anos.
Claro que, comparativamente com o caso BPN, isto é apenas uma pequena migalha, provavelmente menos elaborada e mais “naïf”, mas não deixa de ser uma história pouco edificante sobre o modo como a nossa elite política constrói a sua carreira. Mais preocupante ainda porque ela revela como se geriram os dinheiros públicos e se utilizaram os fundos europeus ao longo das últimas décadas.
Revela também o estado da nossa justiça que permite que tudo o que é agora relatado sobre a Tecnoforma se tenha passado nos limites da legalidade.
Já se sabia que a lei é feita pelos mesmos que dela beneficiam, ou serve apenas aqueles que têm poder financeiro e político para contratarem “bons” advogados e para arrastarem processos até á sua prescrição.
É caso para dizer que, em Portugal, o crime, desde que seja financeiro, com dinheiros públicos e envolvendo grandes valores, compensa sempre, como se vê pelos cargos ocupados hoje em dia pelos envolvidos nesse caso, nada menos que um primeiro-ministro, um ministro de Estado, um ex-líder partidário e conhecido comentador político, e outras figurinhas de segundo plano, mas todos com o seu futuro financeiro garantido.
Este é apenas mais um caso, mas existem milhares de outros casos idênticos por esse país fora, envolvendo politicos do centrão, dinheiros públicos e fundos europeus. Afinal estes fundos não serviram apenas para destruir a nossa agricultura, a nossa pesca e a nossa industria. Serviram também para enriquecimentos eticamente ilícitos ou para promover carreiras políticas.
E é por tudo isso que os portugueses, os que sempre trabalharam, cumpriram com os seus deveres fiscais, pagaram do seu bolso os seus estudos e os dos seus filhos, são os que agora estão a pagar acima das suas possibilidades, estão a sofrer um tratamento de empobrecimento e perdem a perspectiva de um futuro para este país e para os seus filhos .
Percebe-se agora porque é que a situação da Islândia é escamoteada do discurso dos políticos e dos comentadores “camilolourencianos” que enxameiam a nossa comunicação social.
Nesse país, casos como aquele deram direito a prisão, e os responsáveis tiveram de pagar dos seus bolsos os desvarios. Com isso, a Islândia saiu da crise e do endividamento e é um dos países com mais sucesso no mundo actual. Claro que tem a vantagem de estar fora do euro e da União Europeia, outra verdade que também não convem muito que se saiba por cá…
Na Islândia, os responsáveis estão na prisão. Por cá, os seus "equivalentes" ocupam o poder político, financeiro e económico, apoiados pelo braço armado de alguns comentadores que moldam a opinião pública e que tudo farão para desacreditar o jornalismo sério do jornal Público.
Hoje começamos a saber para onde foi tanto dinheiro dos fundos europeus. Um dia ficaremos a saber para onde foi o dinheiro “emprestado” pela troika, que estamos todos a pagar como o nosso trabalho, os nossos impostos e a nossa vida…
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