Por vezes, interrogo-me se a actual geração de jornalistas estudou numa escola de jornalismo ou, se não terá estudado, antes, numa escola de produção de telenovelas!!!
A forma como se tem vindo a dramatizar a apresentação do próximo Orçamento
de Estado, mais parece, de facto, uma telenovela do que um trabalho lúcido de
informação, como seria de esperar por parte dos órgãos de comunicação social.
Ou talvez a escola seja a escola do ministro da propaganda nazi, Goebels,
aliás um excelente professor para quem quer aprende como funcionam, eficazmente, a
propaganda e a publicidade.
Uma das técnicas desta “escola” é aquela, segundo a qual, uma mentira
várias vezes repetida se torna verdade, ou, adaptando aos dias de hoje, várias
frases descontextualizadas e meias verdades repetidas até à exaustão e ampliadas
pelo megafone de vários comentadores encartados, acaba por condicionar a própria
realidade.
Aquilo que sempre foi perfeitamente normal na apresentação de
orçamentos, em especial quando não há governos de maioria absoluta, como
aconteceu em mais de 3/4 de governos democráticos, que é apresentar um
projecto, que depois pode ser alterado após negociações, sempre duras, entre os
partidos parlamentares, foi transformado numa novela tágico-cómica, como,
aliás, se tem transformado qualquer caso e casinho nos últimos tempos.
O problema é quando esse ambiente de doidos, criado por uma comunicação social ávida de
escândalos e espectáculos para aumentar audiências, contamina a vida política
dos partidos ditos “sérios”.
É ver o frenesim que reina nos partidos da direita tradicional, só com
a possibilidade remota de voltarem ao poder nos próximos tempos (principalmente, o de controlarem os dinheios da "bauka", que é o que os move....).
Pode-se dizer que a direita anda com a pontaria desafinada, pois se
alguém foi atingido pela agitação provocada à volta do Orçamento, não foi o
orçamento, mas a liderança e o interior dos próprios partidos de direita.
O aparecimento de dois candidatos, um no CDS, outro no PSD, ambos com
experiência política e pessoas cultas, mas com um discurso extremista, fanaticamente
ideológico e revanchista, não augura nada de bom para o futuro desses partidos,
a não ser retirar campo de manobra à extrema-direita.
Se ambos ganharem a liderança desses partidos, o PS vai agradecer, pois
o voto centrista vai fuigir desses partidos.
À esquerda espera-se, pelo contrário, bom senso. Para quem acha, dentro
do BE e do PCP, que estes perdem pelo
facto de facilitarem a vida ao orçamento socialista, a realidade das últimas presidênciais
e das autárquicas, aí está para o desmentir, ao contrário da falácia de algum
jornalismo e de alguns comentadores, interessados em provocar o caos à
esquerda.
Basta ver o que aconteceu a esses dois partidos à esquerda do PS, pelo
facto de terem tomado decisões diferentes em relação ao último orçamento.
O BE, que votou contra o orçamento, pensando beneficiar à custa do PCP
e do afastamento em relação ao PS, teve duas estrondosas derrotas nesses actos
eleitorais, perdendo quase tudo o que tinha conquistado no tempo da geringonça.
Pelo contrário, o PCP, que aprovou o orçamento, tendo perdido alguma
coisa, perdeu pouco, e aguentou-se, estabilizando dentro do histórico. Mesmo
onde perdeu ou não conseguiu aumentar, como em Loures ou em Almada, continua uma
força política considerável e com capacidade de dar cartas por
muito tempo.
No caso das presidênciais e das autárquicas em Lisboa, mais no segundo
que no primeiro caso, até conseguiu um bom resultado com João Ferreira.
As perdas do PCP não se devem à sua “aliança” com o PS, mas a uma crise
mais estrutural, de falta de renovação e de adaptação aos novos tempos.
Foi, pelo contrário, a sua capacidade de negociação, ganha com a "geringonça", que travou a sua perda de influência e lhe pode dar, no futuro, um novo alento.
Espera-se, por isso, que à esquerda, ao contrário do frenesim que vai à
direita, reine o bom senso.
Este Orçamento não é o ideal, se houver bom senso ainda pode ser aperfeiçoado nas negociações à esquerda, mas a alternativa é a realização de eleições antecipadas, que iriam beneficiar o PS (e o Chega), aprovando-se depois um orçamento menos social, e para o qual o PS, sentindo-se traido pela sua esquerda, seria tentado a negociar à direita, ou, na hipótese remota de uma vitória da direita, um orçamento revanchista, do ponto de vista social, e integrando o resto do “ir além da Troika” que não foi cumprido, com prejuízo para reformados, trabalhadores, pequenas e médias empresas, do país em geral.
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