Não tendo seguido em pormenor a sessão de hoje da leitura do processo contra José Sócrates, houve duas ou três coisas que, mesmo assim, percebi e ficaram evidentes:
- a total incompetência do Ministério Público pela forma como investiga os crimes de corrupção de
colarinho branco. Já tinha sido assim como BPN e com o caso dos “Submarinos”,
aconteceu agora com a “operação marquês”;
- a total incompetência do juiz Carlos Alexandre na forma
como conduziu a acusação, acusando primeiro e procurando as provas depois e deixando
escapar partes do processo para a comunicação social, que é o contrário do que
uma investigação competente deve fazer. Claro que ia dar buraco, como ficou
hoje evidente;
- Ivo Rosa fez aquilo que era possível fazer para salvar
ainda alguma coisa do processo, que foi eliminar o que é impossível provar ou
estava contaminado pela incompetência do Ministério Público e de Carlos
Alexandre, mantendo as acusações com fundamento, mesmo que menos espectaculares.
Foi assim que os Estados Unidos conseguiram apanhar Al Capone;
- Sendo quase impossível provar crimes de corrupção, Ivo
Rosa, de forma inteligente, manteve a suspeita social desses crimes cometidos
por José Sócrates, o que, aliás muito irritou o suspeito. Com isso, retirou a
Sócrates qualquer hipótese de sair “limpo” e voltar à vida política. Desta
forma, com subtileza, Ivo Rosa prestou um grande serviço ao país;
- Ficou provada a existência de crimes graves cometidos pelo
arguido, mas que já prescreveram, devido, mais uma vez, à incompetência do
Ministério Público e do juiz Carlos Alexandre, pela forma com este conduziu o
processo, mas também devido a esse absurdo princípio da “prescrição”, usado por
quem pode pagar a advogados astutos para arrastar processos. Neste campo, algo de
urgente tem de mudar na justiça, se querem preservar a sua credibilidade.
Ao contrário do que uma opinião apressada e sectária pode julgar, José Sócrates não se safou e agora, perante a solidez da acusação, mesmo que seja menos espectacular e mais restrita, vai ter mais dificuldade em escapar à justiça.
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