Este é mais um daqueles títulos falaciosos e tendenciosos, à “correio da manhã”, a que o Expresso nos tem vindo a habituar nas últimas duas décadas.
Está feito para dar força à voz daqueles que não acreditam no regime
democrático e que procuram todos os argumentos para o denegrir.
O título não é inocente, serve para alimentar o comentário fácil de cinco
tipos de gente que convive mal com a democracia e os seus defeitos:
- os saudosos da “democracia orgânica” do Estado Novo;
- os saudosos das “democracias populares” de triste memória;
- os ultra neoliberais que acham
que a “verdadeira democracia” só existe com a total privatização da economia e
sem direitos sociais;
- os defensores de uma “IV República” para os “portugueses de bem”;
- os anarcas de todas as tendências, estes talvez os únicos bem intencionados.
Para todos esses, por razões diferentes, não havendo uma “democracia
plena”, então a democracia em que vivemos não merece ser defendida.
Contudo, olhando com atenção para os dados da sondagem em causa, os
resultados não são exactamente aqueles que o título falacioso do Expresso
pretende.
De facto, se me colocassem a questão,
eu responderia aquela que foi, de facto, a opção mais votada: “Portugal é uma
democracia…apesar de ter pequenos defeitos” (47% dos inquiridos).
Não foi idêntica a essa a reposta de Churchill, uma das figuras mítica da democracia liberal?
Aliás, não deixa também de ser estranho que o dito inquérito não inclua
a possibilidade de uma resposta intermédia, entre o de a democracia “ter
pequenos defeitos” e o de a democracia ter “muitos defeitos”.
Para mim, a mais correcto era, exactamente, a resposta intermédia,
inexistente nesse inquérito algo tendencioso : “Portugal é uma democracia com
ALGUNS defeitos”, e por isso é preciso lutar todos os dias por melhorá-la, em
vez a denegrir.
O título correcto, se não houvesse intensão de manipular a informação, era " 57% acreditam que Portugal é uma democracia plena ou com pequenos defeitos".
Mas isso pouco interessa aos responsáveis pelo tendencioso título do Expresso, mais um bom contributo para a “causa” do Chega e afins.
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