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terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Ambiente: Tanta Raiva e Mentira por aí, à solta!



“ (…) E então olhei à minha volta
Vi tanta mentira andar à solta(…)
“ (…) E agora eu olho à minha volta
Vejo tanta raiva andar a solta (..)”

(José Mário Branco, extracto da canção “Eu vim de longe”)

Nunca pensei que a evidência das alterações climatéricas e a defesa da tomada de medidas para travar o desastre climático, levantasse tanta controvérsia entre comentadeiros e nas redes sociais.

Dos ataques pessoais aos ambientalistas, atingindo principalmente Greta Thundberg, à difusão em larga escala de fake news que tentam desacreditar a evidência cientifica da catástrofe ecológica que se avizinha (como umas fotos que por aí circulam, que tentam desmentir a redução de glaciares ou da água a correr em cataratas africanas, através da manipulação de imagens ou da reprodução de fotos antigas como se fossem actuais, ou as tentativas  de desvalorizar o efeito dos incêndios na Amazónia), tudo serve como arma de arremesso em defesa do “status quo” económico-social dominante.

Que à frente dessa campanha estejam os poderosos lobbies ligados às empresas petrolíferas e outras poluentes (aviação, automóvel, criação de gado, madeireiros, celuloses …), não é de admirar. Já nos anos 70, quando os ecologistas eram vistos como meros lunáticos , alguns autores que estudavam o tema alertavam exactamente para a forma como tais lobbies tentariam adiar as medidas de protecção ambiental durante o máximo de tempo possível.

Sabe-se hoje que existem mais de duas centenas de lobistas dessas empresas (para referir apenas os que estão legalmente registados) a actuar junto dos burocratas de Bruxelas, e a influência dessa gente junto de Trump e Bolsonaro, sem esquecer que noutros países poderosos, como na Rússia, na Índia e na China, esses lobies funcionam no seio do próprio poder político.

Ignorar a evidência científica ou , até, a própria experiência dessas alterações que qualquer um de nós já pode sentir no dia a dia, é um preocupante sinal do fomento da ignorância, da raiva ideológica e da má fé que cresce à solta, à nossa volta, principalmente nas redes sociais, cada dia que passa.

Sei que  é difícil aceitar que a catástrofe ambiental só pode ser travada com medidas drásticas, que vão implicar mudanças profundas na nossa maneira de viver.

Essas medidas passam por alterar a forma como usamos os meios de transporte, o uso de energias renováveis, alterações de hábitos alimentares, e, principalmente, o que custa a engolir a muita gente, travar o desenfreado consumismo em que todos caímos e que atinge uma dimensão desmesurada nesta época do ano.

Tentar negar as evidências, recorrendo a uma argumentação reles e desinformada, não vai evitar o que se anuncia.

Talvez alguns acreditem que isso vai ser um problema de outros países, dos mais pobres e das gerações futuras.

Ainda posso perceber essa atitude egoísta de quem não tem filhos e é suficiente velho para pensar que as consequências dos actos das últimas décadas não o vão atingir. Mas as gerações mais jovens nunca poderão perdoar os desvarios, as mentiras e a ignorância assumida das gerações que os antecederam.

Da velha sabedoria dos índios, recordo,  um velho ditado,que devia ser seguido por todos: “não são os nossos filhos que herdam a Terra de nós, nós é que herdamos a Terra dos nossos filhos”.

Não sei se, no meio da cegueira raivosa , da ignorância presumida e da intolerância ideológica em que navegam as redes sociais, alguns desses atingem a profundidade dessa frase.

Mas se algum deles parar para pensar nela, talvez sirva de alguma coisa tê-la recordado aqui.

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