Como se viu nas manifestações deste fim-de-semana, a situação
venezuelana chegou a um impasse.
Existe uma divisão profunda na sociedade desse país provocada pele
falta de alternativas credíveis quer à corrupção e incompetência de Maduro,
quer à irresponsabilidade e incoerência de Guaidó.
Na rua, o chavismo vai perdendo força, mas ainda tem uma capacidade de
mobilização considerável, enquanto a oposição vai ganhando terreno, se bem que
a mobilização do dia 2 de Fevereiro tenha sido inferior à de 23 de Janeiro.
A forma como ambos os contendores têm usado a Constituição também não
abona nada a favor de qualquer dos lados.
Para a oposição, a Constituição (do tempo de Chavez) serve quando
ganham eleições, como aconteceu nas últimas eleições para o Parlamento, mas não
serve quando Maduro ganhou as primeiras presidências às quais concorreu, e
serve agora outra vez para justificar a aclamação de um presidente interino.
Para o chavismo a Constituição serviu para dissolver uma assembleia
legitima e convocar uma fantochada eleitoral para eleger um desacreditada
Assembleia Constituinte.
Dividida está também a comunidade internacional, com a Rússia e a
China, entre outros, a apoiar Maduro, para preservar a influência que ganharam e
o controle do petróleo do país, enquanto Trump procura recuperar o controle do
petróleo daquele país, desacreditando as intenções da oposição, com o seu apoio a Guaidó,
com quem combinou telefonicamente a acção da oposição, enviando um especialista
em golpes de Estado violentos na América Latina ( cada vez mais “o quintal” dos
Estados Unidos) para "ajudar" Guaidó .
A União Europeia caminha mais uma vez para, de forma irresponsável, ajudar à festa norte-americana, tal como fez
na ex-Jugoslávia, no Iraque, na Líbia, na Síria e na Ucrânia, com os resultados
conhecidos.
A possibilidade de diálogo e conciliação, que implicará sempre o
afastamento de Maduro e eleições livres para a presidência e para o Parlamento,
onde concorram em igualdade todos os lados em confronto, avançando com uma
ajuda humanitária urgente a toda a população, sob controle da ONU, da Igreja e
de ONG’s credíveis, esboroa-se a cada hora que passa.
Maduro continua irredutível, e oferece soluções de eleições e diálogo
desde que se mantenha no poder, e a oposição revela o sectarismo e intolerância
de sempre recusando qualquer diálogo.
Para resolver o impasse da
situação, avizinha-se cada vez mais uma saída
sangrenta, onde o primeiro a avançar ganha, perdendo a credibilidade e a
legitimidade que cada um exibe até ao momento.
Ou Maduro avança e vai provocar um banho de sangue, seguido de
perseguições em massa, levando, eventualmente, a um sangrento golpe de Estado,
à invasão do país pelos países vizinhos com o apoio norte-americano e a uma consequente Guerra Civil, ou avança a
oposição, conjunturalmente unida, mas com lideres que têm agendas diferentes,
iniciando um processo de caça aos chavistas, com apoio militar dos Estados
Unidos, do Brasil e da Colômbia,
seguindo-se uma Guerra Civil sangrenta que, pode durar mais ou menos ou se pode
alargar aos países vizinhos, dependendo muito da reacção da Rússia e da China.
No meio de tudo isto a União Europeia, que podia ter um papel activo na
solução do problema, sai mais uma vez mal na fotografia, deixando o
protagonismo para os Estados Unidos, a China e a Rússia.
O que é um facto é que as vozes do diálogo, da tolerância e da conciliação
(com destaque para a ONU e a Igreja), estão cada vez mais isoladas devido à incompetência
e intolerância dos dois lados, num mundo governado por crápulas como Trump, Bolsonaro,
Putin, Erdogan ou Jinping…
Esperam-se tempos negros para os venezuelanos e, provavelmente, para os
povos latino-americanos e, a prazo, para o resto do Mundo.
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