Em situações mal
esclarecidas e pouco claras, como a tentativa de assassinato de um antigo espião
russo em solo britânico, a pergunta que faço, em primeiro lugar, é: a quem
interessa essa acto?
Até agora não existem
provas credíveis sobre a origem desse crime ignóbil, embora a resposta mais
óbvia e mais fácil seja acusar Putin por estar detrás desse atentado às
relações internacionais.
Quando, sem provas credíveis,
se lança de imediato uma acusação, não baseada em provas credíveis e concretas,
recorrendo à velha técnica segundo a qual “uma mentira várias vezes repetida se
torna verdade”, com acusações ao “suspeito do costume”, devemos manter todas as
nossas reservas sobre qualquer conclusão apressada.
É sempre bom recorrer
aos exemplos da História, como o caso do incêndio do Reichtag ou, bem mais
recente, o caso das célebres armas de “destruição maciça” de Saddam.
Em ambos o caso a
técnica foi a mesma:
- encontrar um acusado
“credível”, os “comunistas” no caso alemão [até puseram no lugar um louco de
passado comunista], um ditador sanguinário, no caso do Iraque;
- apresentar “provas”
“credíveis”, que consigam enganar toda a gente, explorando receios e preconceitos
ideológicos, repetindo a “mentira” da “prova” até esta se tornar verdade;
- diabolizar os que
duvidam dessas “provas”, acuasando-os de serem mal informados ou aliados de
ideologias assassinas e de ditadores, impedindo assim, pela “superioridade
moral”, qualquer tentativa de análise contrafactual.
Em situações como a
do caso britânico, a pergunta não deve ser se Putin era capaz de o fazer, mas
em que é que esse acto o beneficiava, a não ser que se considera Putin um idiota.
A resposta a esta
última questão é a de que Putin era capaz de o fazer, mas em nada podia
beneficiar com esse acto, porque, pode-se não gostar de Putin e de tudo o que
ele representa, e nós já aqui escrevemos várias vezes que não gostamos, mas ele
não é um idiota.
O crime ocorreu em
plena campanha eleitoral russa, e a sua divulgação só podia prejudicar a sua
eleição.
Por outro lado, numa
situação de crescente isolamento da Rússia, devido ao caso Ucraniano e à sua
intervenção na Síria, não lhe interessava agravar essa situação.
Por último, se Putin estivesse
interessado em mostrar a sua força face ao “ocidente” tinha outras formas mais
sofisticadas e credíveis de o fazer.
Até agora não existe
uma prova credível do envolvimento russo nesse condenável acontecimento e tudo o
que tem acontecido é atirar areia aos olhos da opinião pública.
Então quem ganha com
esta situação?
Sem duvida o poder
politico britânico, que assim pode desviar as atenções do descalabro a que está
a conduzir o país, numa altura em que decorrem as negociações do Brexit.
Claro que isto não
quer dizer que tenham sido os serviços secretos britânicos. Mas existe um claro
aproveitamento politico de certos sectores políticos britânicos para ganharem
credibilidade internacional à custa deste lamentável caso.
Por detrás deste caso
podem estar serviços secretos de países inimigos da Rússia, máfias russas, "putinistas" descontrolados, adversários internos de Putin ou quem
queira agravar a já de si pouco credivel diplomacia russa.
Tudo é possível, mas
só um inquérito independente, que explore, sem preconceitos, todas as hipóteses,
e sem explorar apenas a pista dos “suspeitos do costume” é que pode tornar credível
uma explicação para a situação.
Até lá, todas as
conclusões e todos os aproveitamentos políticos da situação só servem para
destruir [convenientemente ?...} provas e agravar a já de si muito perigosa
situação internacional.
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