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quarta-feira, 27 de setembro de 2017

AUTÁRQUICAS 2017 - o que é “ganhar” ou “perder”?


É abusivo fazer uma leitura nacional das eleições autárquicas, pois cada concelho e cada freguesia é uma realidade distinta que não encaixa na lógica partidária nacional.

Nestas eleições vota-se muito mais pela “obra feita” e pelo “valor” da personalidade dos candidatos do que por convicções políticas.

Contudo, se essa leitura é arriscada e abusiva, existem tendências que é possível detectar, pois, apesar de tudo, as listas partidárias continuam a ser dominantes, envolvendo os líderes nacionais na campanha, e  é a convicção dos candidatos que, em grande parte, os leva a candidatarem-se nas listas dos partidos políticos existentes e, principalmente nos grandes centros urbanos, onde o afastamento entre eleitores e eleitos é maior,  as opções politicas dos votantes são mais evidentes e marcantes.

O aparecimento de candidaturas independentes nos  últimos actos eleitorais é um dado novo a ter em consideração, mas o peso da máquina partidária ainda é dominante e o aparecimento de listas ditas “independentes” no acto eleitoral deste ano, onde dominam figuras que iniciaram a sua carreira nos grandes partidos do sistema e com uma atitude revanchista em relação aos partidos que os abandonaram, está a contribuir para destruir a imagem de isenção e independência de tais candidaturas.

Sendo abusivo e arriscado, aqui ensaiamos uma possível leitura nacional das próximas eleições autárquicas.

Assim, se em eleições democráticas, é óbvio que ganha quem tem mais votos, o significado destas eleições não é assim tão linear.

Para o PS ganhar as autárquicas é, no mínimo, manter a liderança da Associação Nacional de Municípios e garantir a vitória em Lisboa. No máximo é ultrapassar o resultado das últimas autárquicas, onde venceu em 149 municípios, ter um bom resultado no Porto e dominar a maior parte das capitais de distrito.

Se perdesse Lisboa, baixasse significativamente o número de Câmaras, ou tivesse um mau resultado no Porto (por exemplo não evitando uma maioria absoluta de Rui Moreira), este seria um mau resultado para o PS, mesmo que fosse o partido mais votado.

Quanto ao PSD, um bom resultado será, no mínimo, ultrapassar o número de 120 câmaras eleitas  e ser a segunda força mais votada em Lisboa. No máximo seria ultrapassar o número de Câmaras do PS, voltando a liderar a Associação Nacional de Municípios e ganhar Lisboa.

Se, pelo contrário, perder muitas câmaras, não conseguir ganhar em pelo menos metade das capitais de distrito, não ultrapassar as 100 câmaras eleitas e se for a terceira força política em Lisboa, este será um mau resultado e Passos Coelho estará condenado na liderança do partido.

Os sinais dados pelas sondagens, embora estas sejam muito falíveis no universo autárquico, revelam-se pouco animadores para Passos Coelho, dada a possibilidade de o seu partido ser ultrapassado pelo CDS em Lisboa e ter uma votação muito inferior à soma das candidaturas do BE e PCP no Porto.

O CDS, pouco representado em termos autárquicos, é o partido que menos tem a perder, e, por isso, mais pode ganhar com o seu resultado nestas eleições.

A situação do CDS é também menos clara, já que concorre em muitos lugares em coligação com o PSD.

Mas, se vencesse mais do que 5 Câmaras, conseguisse que a coligação com o PSD tivesse melhores resultados do que as candidaturas onde o PSD concorre sozinho e obtivesse um bom resultado em Lisboa (por exemplo, ultrapassasse o PSD), e se Rui Moreira vencer no Porto (candidatura apoiada pelo CDS), pode dizer-se que o CDS obtém um bom resultado.

Um mau resultado é gorarem-se as expectativas em Lisboa,  Rui Moreira ser derrotado no Porto e ser arrastado para um possível descalabro do PSD nas autarquias onde concorre em coligação.

A CDU, por sua vez, pode considerar um bom resultado manter cerca de 30 Câmaras , em especial as de Setúbal , Évora,  Beja e Loures, acrescentar novas conquistas e obter um bom resultado em Lisboa e no Porto.

Um mau resultado era conquistar menos de 30 câmaras, perder duas daquelas Câmaras emblemáticas e câmaras como Peniche ou Sobral de Monte Agraço ou outras de tradição comunista.

O BE pode cantar vitória se conseguir ganhar câmaras, eleger mais de 10 vereadores em todo o país, principalmente se estes forem fundamentais para formar maiorias em Câmaras de esquerda sem maiorias absolutas e eleger vereadores em Lisboa e no Porto.

Sai derrotado se eleger menos de 10 vereadores, nenhum em Lisboa ou Porto.

Quanto aos independentes, manter o Porto e ultrapassar as 10 Câmaras eleitas é a meta mínima para a credibilidade das mesmas, a não ser que essa subida seja feita à custa das vitórias dos “Isaltinos Morais” destas autárquicas. Neste caso até pode ter bons resultados mas ficam descredibilizados  para o futuro.

Um outro facto a ter em consideração é a abstenção. Uma abstenção inferior aos 45% fortalece e credibiliza este acto eleitoral.

Um aumento da abstenção, que ultrapasse os 50% é uma má notícia.

Veremos o que se vai passar.


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