É abusivo fazer uma leitura nacional das eleições autárquicas, pois
cada concelho e cada freguesia é uma realidade distinta que não encaixa na
lógica partidária nacional.
Nestas eleições vota-se muito mais pela “obra feita” e pelo “valor” da
personalidade dos candidatos do que por convicções políticas.
Contudo, se essa leitura é arriscada e abusiva, existem tendências que
é possível detectar, pois, apesar de tudo, as listas partidárias continuam a
ser dominantes, envolvendo os líderes nacionais na campanha, e é a convicção dos candidatos que, em grande
parte, os leva a candidatarem-se nas listas dos partidos políticos existentes
e, principalmente nos grandes centros urbanos, onde o afastamento entre
eleitores e eleitos é maior, as opções politicas dos votantes são mais
evidentes e marcantes.
O aparecimento de candidaturas independentes nos últimos actos eleitorais é um dado novo a ter
em consideração, mas o peso da máquina partidária ainda é dominante e o
aparecimento de listas ditas “independentes” no acto eleitoral deste ano, onde
dominam figuras que iniciaram a sua carreira nos grandes partidos do sistema e
com uma atitude revanchista em relação aos partidos que os abandonaram, está a
contribuir para destruir a imagem de isenção e independência de tais
candidaturas.
Sendo abusivo e arriscado, aqui ensaiamos uma possível leitura nacional
das próximas eleições autárquicas.
Assim, se em eleições democráticas, é óbvio que ganha quem tem mais
votos, o significado destas eleições não é assim tão linear.
Para o PS ganhar as autárquicas é, no mínimo, manter a liderança da Associação Nacional de Municípios e garantir a vitória em Lisboa. No máximo é
ultrapassar o resultado das últimas autárquicas, onde venceu em 149 municípios,
ter um bom resultado no Porto e dominar a maior parte das capitais de distrito.
Se perdesse Lisboa, baixasse significativamente o número de Câmaras, ou
tivesse um mau resultado no Porto (por exemplo não evitando uma maioria
absoluta de Rui Moreira), este seria um mau resultado para o PS, mesmo que
fosse o partido mais votado.
Quanto ao PSD, um bom resultado será, no mínimo, ultrapassar o número
de 120 câmaras eleitas e ser a segunda
força mais votada em Lisboa. No máximo seria ultrapassar o número de Câmaras do
PS, voltando a liderar a Associação Nacional de Municípios e ganhar Lisboa.
Se, pelo contrário, perder muitas câmaras, não conseguir ganhar em pelo
menos metade das capitais de distrito, não ultrapassar as 100 câmaras eleitas e
se for a terceira força política em Lisboa, este será um mau resultado e Passos
Coelho estará condenado na liderança do partido.
Os sinais dados pelas sondagens, embora estas sejam muito falíveis no
universo autárquico, revelam-se pouco animadores para Passos Coelho, dada a
possibilidade de o seu partido ser ultrapassado pelo CDS em Lisboa e ter uma
votação muito inferior à soma das candidaturas do BE e PCP no Porto.
O CDS, pouco representado em termos autárquicos, é o partido que menos
tem a perder, e, por isso, mais pode ganhar com o seu resultado nestas eleições.
A situação do CDS é também menos clara, já que concorre em muitos
lugares em coligação com o PSD.
Mas, se vencesse mais do que 5 Câmaras, conseguisse que a coligação com
o PSD tivesse melhores resultados do que as candidaturas onde o PSD concorre
sozinho e obtivesse um bom resultado em Lisboa (por exemplo, ultrapassasse o
PSD), e se Rui Moreira vencer no Porto (candidatura apoiada pelo CDS), pode
dizer-se que o CDS obtém um bom resultado.
Um mau resultado é gorarem-se as expectativas em Lisboa, Rui Moreira ser derrotado no Porto e ser
arrastado para um possível descalabro do PSD nas autarquias onde concorre em
coligação.
A CDU, por sua vez, pode considerar um bom resultado manter cerca de 30 Câmaras , em especial as de Setúbal , Évora, Beja e Loures, acrescentar novas conquistas e obter um bom resultado
em Lisboa e no Porto.
Um mau resultado era conquistar menos de 30 câmaras, perder duas
daquelas Câmaras emblemáticas e câmaras como Peniche ou Sobral de Monte Agraço ou outras
de tradição comunista.
O BE pode cantar vitória se conseguir ganhar câmaras,
eleger mais de 10 vereadores em todo o país, principalmente se estes forem fundamentais para formar
maiorias em Câmaras de esquerda sem maiorias absolutas e eleger vereadores em
Lisboa e no Porto.
Sai derrotado se eleger menos de 10 vereadores, nenhum em Lisboa ou
Porto.
Quanto aos independentes, manter o Porto e ultrapassar as 10 Câmaras
eleitas é a meta mínima para a credibilidade das mesmas, a não ser que essa
subida seja feita à custa das vitórias dos “Isaltinos Morais” destas
autárquicas. Neste caso até pode ter bons resultados mas ficam
descredibilizados para o futuro.
Um outro facto a ter em consideração é a abstenção. Uma abstenção
inferior aos 45% fortalece e credibiliza este acto eleitoral.
Um aumento da abstenção, que ultrapasse os 50% é uma má notícia.
Veremos o que se vai passar.
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