A ONU precisa urgentemente de recuperar a credibilidade de outros tempos.
Recorde-se que foi a ONU, quando funcionava como palco das grandes
decisões mundiais, visando a preservação da paz e o equilíbrio entre as nações,
sendo o primeiro grande centro de controle dos efeitos negativos da
globalização (através de instituições como a UNICEF, a UNESCO, a OMS, a OIT ou a FAO, entre muitas outras), que
evitou várias guerras nucleares, durante a guerra fria, conseguiu algum
equilíbrio, enquanto teve influência, na problemática região do Médio Oriente,
acompanhou de forma activa, os grandes movimentos descolonizadores em África e
na Ásia e evitou muitas crise humanitárias, ao mesmo tempo que foi sempre uma
referência na defesa dos Direitos Humanos.
Claro que nem tudo coreu bem, principalmente pela manutenção e pela influência de um grupo restrito de membros permanentes (Grã-Bretanha, França,
Estados Unidos e União Soviética (hoje Rússia), aos quais se juntou mais tarde
a China) com direito de veto.
O descalabro da influência da ONU começou quando ela era mais
necessária, após o fim do bloco de leste e da União Soviética, a guerra da
Jugoslávia e, mais recentemente, a guerra do Iraque e a actual situação que se
vive no Médio Oriente.
Quis o Ocidente, mormente a União Europeia e América de Bush,
substituir-se, com o recurso à NATO, ao papel da ONU, que se limitou a
desempenhar um papel secundário na cada vez mais perigosa situação
internacional.
A eleição de um novo secretário-geral surgiu assim como uma última
oportunidade de recuperar para a ONU a influência de outros tempos e a própria
esperança de dar um futuro mais equilibrado e de paz à humanidade.
Foi assim que surgiu pela primeira vez um método de escolha
transparente e um candidato credível.
Esse candidato credível, pela sua visão humanista, pela sua experiência
no contacto com os mais graves conflitos mundiais, pela sua capacidade de
diálogo, pelo seu profundo conhecimento do funcionamento da ONU, é o português
António Guterres, não por acaso o melhor primeiro-ministro que Portugal teve
desde que entrámos para a União Europeia.
Contudo, mais uma vez, movem-se nos bastidores as jogadas
antidemocráticas do costume, conduzidas pelos mesmos de sempre (Comissão
Europeia e politburo de Bruxelas , comandados pela Alemanha, assessorada pelos
seus satélites do costume, o chamado grupo de Visegrado e outros do seu sonhado
“espaço vital” a leste), recorrendo à costumada linguagem “politicamente
correcta”, de ter, pela primeira vez, uma mulher à frente da ONU, representando
os “países do leste” (um conceito que pensava que estava enterrado com o fim da
guerra fria e com a adesão de alguns desses países à União Europeia!!!....).
É assim que surge, na recta final (nos últimos cem metros da maratona,
para citar o nosso Presidente Rebelo de Sousa) uma candidatura para tentar
afastar Guterres, uma vice-presidente da Comissão Europeia, apoiada por esta e
pela srª Merkel, a srª Kristalina Georgieva.
A sua candidatura levante vários problemas:
Para já surge em resultado de uma guerra interna da política búlgara,
com a “direita” a apoiar essa nova candidatura e a “esquerda” a recusar-se a retirar a
sua candidata, Irina Bokova, guerra essa que parece condenar à partida a
veleidade das duas candidatas, até porque um país só pode apresentar um
candidato;
Depois, esta é uma jogada de alto risco da Comissão Europeia e da
Alemanha, que pode dividir, ainda mais, a própria União Europeia e pode
retirar, de vez, caso a sua candidata
venha a ser derrotada, a intenção da Alemanha ascender à Comissão permanente da
ONU;
Finalmente, essa candidatura, se for levada a sério pela ONU, é uma
machadada final na procura de transparência que se pretendeu obter com o novo
processo de candidatura, à qual os outros candidatos se submeteram, e na
credibilidade da própria ONU.
Recorde-se que a antepassada da ONU, a Sociedade das Nações, foi destruída
por situações deste género, com a contribuição também da Alemanha, cuja destruição e
descrédito conduziram à Segunda Guerra Mundial.
Mais do que uma candidatura, estamos perante mais uma golpada de uma
instituição que está habituada a funcionar sem respeitar a vontade democrática
dos cidadãos e habituada às jogadas de bastidores, a Comissão Europeia.
Surgindo essa candidatura de uma das grandes famílias politicas
europeias, o Partido Popular Europeu, à qual pertencem o PSD e o CDS, será
curioso observar a reacção destes partidos.
Será que em público, para não parecer mal, vão dizer que apoiam
Guterres, mas em privado, vão seguir a atitude de Barroso, que é que
descredibilizar e boicotar o candidato português?
Seja qual for o resultado, é o descrédito total da Comissão Europeia e
do politburo de Bruxelas
…aguardam-se cenas dos próximos capítulos!
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