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sexta-feira, 3 de dezembro de 2021

A Minha pequena colecção de cromos


Não vou falar dos “cromos vivos” que nos passam os dias a sarrazinar na política, no comentário jornalístico ou em tantas outras ocasiões da nossa vida terrena.

Davam uma bela colecção, mas ninguém compraria uma caderneta onde um deles pudesse sair.

Refiro-me aos verdadeiros, aquelas pequenas imagens que saiam de um pequeno invólucro  que abriamos expectantes, à espera que surgisse aquele raro ou aquele outro que nos faltava para completar a colecção.

Dei por mim a pensar na minha infância a abrir saquetas, um momento sempre mágico e cheio de surpresas, uma magia que apenas encontramos na infância e que raramente conseguimos reproduzir na idade adulta, ao observar alguns quiosques, onde vou comprar jornais e revistas, e uma ou outra raspadinha, “forrados” a cadernetas de cromos, do futebol, à vida animal, dos heróis dos vídeos jogos, à fórmula 1.

Pus-me a notar que este é um pequeno hábito da magia da infância que continua a atravessar gerações, talvez o único.

As qualidades de impressão e a forma de os colar, mudou, para melhor.

Os temas não variam muito: os heróis do desporto, principalmente do futebol, os heróis da infância (estes, sim, mudaram), a História ou o mundo animal.

O entusiasmo é tal que até as grandes superfícies já aderiram ao fenómeno, oferecendo aos clientes colecções de cromos, uma forma habilidosa de os adultos se verem obrigados a comprar mais e no mesmo sítio para satisfazerem a birra dos petizes.

Fui à procura dos álbuns que guardei da minha infância e lá encontrei uma dúzia deles, alguns ainda incompletos, onde encontro a reprodução dos filmes da Disney, da Bela Adormecida, à Alice no país das maravilhas, este o mais antigo, herdado da minha mãe, uma colecção de cromos distribuída nos primeiros chocolates da Regina.

Entre os temas que encontrei, lá está a História de Portugal, o Património de Portugal, a Vida dos Animais, a História dos automóveis de corrida…

Entre as preciosidades, uma colecção de 60 cromos, com muito texto, intitulada O Homem no Espaço, cromos que eram incluídos nas sobremesas Royal, editada pelos anos 60 do século passado, com texto de Eurico da Fonseca, a voz e o rosto sempre associado à minha infância de espectador pasmado das emissões de televisão sobre as viagens da missão Apolo e outras, naquela que foi (e ainda é) a última grande aventura humana. Os desenhos dessa série são do consagrado autor português de histórias aos quadradinhos (para usar o termo tradicional) Vitór Péon.

Dessa dúzia de cadernetas que guardei, a maior parte foi editada pela Agência Portuguesa de Revistas ou pelas edições Íbis e Bertrand, mas também as há editadas por marcas de gelados, como  a Olá, ou pela revista Mickey.

Não encontrei uma colecção dedicada aos jogadores portugueses de hóquei em patins, que colecionei na minha infância, ou as dos jogadores de futebol, as mais populares.

Lembro-me, a propósito destas, que os cromos vinham embrulhados nuns rebuçados, comprados num quiosque de uma velhota ( a mãe do Tavares da Maçaneta, o pide mais “famoso” da vila), onde hoje está o da papelaria União, na Avenida, dentro de uma grande lata metálica.

Rumor ou não, dizia-se que o último cromo da caixa oferecia uma bola de futebol a sério. Isso levou um colega nosso a roubar dinheiro ao pai para comprar a caixa inteira, com esperança de, assim, conseguir a bola. Não me lembro se o conseguiu, lembro-me sim que levou uma valente tareia quando o pai descobriu o feito.

Uma das mais antigas colecções de que me lembro, e da qual guardo ainda 3 ou 4 cromos, era uma dedicada aos Beatles, a cores, num papel grosso, impresso na Inglaterra e que, antes das nacionais “Gorila”, eram distribuídos e incluídos nas primeiras pastilhas elástica surgidas em Portugal, em pleno auge dessa banda.

Para além da divertida troca de repetidos, entre amigos e colegas da escola, havia ainda um jogo para arrebatar cromos às outras crianças que passava por coloca-los numa superfície lisa, com a imagem para baixo, e depois, com a mão, dar uma palmada. Os que se virassem eram conquistados pelo sortudo que tinha conseguido o feito, uma situação que gerava, muitas vezes, conflitos, que às vezes acabavam ao sopapo.

Não deixa de ser surpreendente que, depois da televisão, da internet e dos jogos de computador, as velhas colecções de cromos tenham sobrevivido ao tempo.

Que seja longa a vida desse pequeno prazer de infância!

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