Estou à vontade.
Tenho votado algumas vezes no Bloco de Esquerda (BE), talvez tantas
como no PCP e um pouco menos no PS.
Não alinho na absurda comparação entre o “Chega” e o “Bloco”, nem
confundo “radicalismo” com “extremismo”.
Ser-se radical é uma coisa, ser-se extremista é outra.
O PCP e o BE são radicais, no bom sentido, goste-se ou não, que é o de “ir à raiz dos problemas”, ser
incisivo, convicto, ter valores de que não prescinde e bater-se coerentemente
por ideais, coisa fora de moda, eu sei, mas que muito prezo.
Por isso, confundir radicalismo com extremismo, só por ignorância,
má-fé e preconceito ideológico.
Como já explicou José Pacheco Pereira numa das suas últimas crónicas do
Público, goste-se ou não deles, o BE e PCP evoluíram do radicalismo por vezes
próximo do extremismo para o respeito e a integração nas instituições da
democracia liberal, mesmo que recorram por vezes a uma retórica que parece
contrária a esses valores.
Já o “Chega” tem como objectivo subverter o sistema democrático,
apontando como modelo a seguir o dos países de Vilvegrado , os tais da “democracia
iliberal”(está escrito no seu programa) e defende uma série de atitudes
socialmente aberrantes (basta dar uma vista de olhos pelo seu programa).
Espanta-me por isso que a evolução recente do BE seja a de alinhar pelo
mero protesto, como se viu agora pela desaprovação do Orçamento de Estado, um
dos Orçamento mais “à esquerda” do regime democrático. Não sendo o ideal há
sempre a possibilidade de se abster, não o de votar ao lado da direita, uma
direita que ainda por cima navega ainda mais à direita do que estamos
habituados.
Na história da esquerda portuguesa, se tivermos comparação possível no
extremismo de esquerda como extremismo de direita do “Chega”, ele só se pode
fazer com os anarquistas dos primeiros tempos, os bombistas das FP-“25 de Abril”,
a retórica dos maoistas do MRPP ou do PCP(ml), nunca com o PCP ou com o BE,
muito menos na história recente desses partidos.
Por isso espanta-me a recente evolução do BE.
Será que o BE se quer transformar no “Chega” da esquerda, embarcando no
discurso da intolerância e do populismo descabelado, embora de sinal contrário?
Esperamos bem que não e que seja uma mera desorientação momentânea face
à gravidade da situação em que se vive.
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