Criança ainda, lembro-me do interesse e entusiasmo com que lá por casa se seguia o desenrolar das eleições norte-americanas.
Num país então a viver em ditadura, como era o caso do Portugal dos
anos 60, acompanhar o desenrolar da campanha americana e apoiar este ou aquele
candidato em ambiente familiar, era uma lufada de ar fresco no ambiente cinzento
e politicamente tenebroso do Estado Novo.
Era uma forma de aprendizagem democrática, proibida nas ruas e na
escola.
Lá em casa torcia-se sempre pelo candidato mais “liberal” do partido
democrático, Robert Kennedy em 1968 , McGovern em 1972.
Um dos primeiros acontecimentos de que me lembro foi o do assassinato
do presidente Kennedy em 1963, acontecimento que foi vivido lá por casa tristeza, situação que se havia de repetir com assassinato de
Robert Kennedy em 1968, o mesmo ano do assassinato de outra figura carismática
da política americana, Martin Luther King.
Quanto a McGovern, o candidato democrático que concorreu contra Nixon nas eleições de 1972, lembro-me de uma ocasião, no intervalo das aulas no liceu de Torres Vedras, em que formámos claques, com uns a gritar por Nixon, a maioria aliás, e um pequeno grupos, entre os quais me incluía, a gritar por McGovern, não que tivesse grande consciência das diferenças, como acontecia com toda a miudagem, mas por imitação do que ouvíamos lá por casa.
Foi um dos raros momentos de vivência “democrática” de que me lembro ter participado antes do 25 de Abril e admiro-me, ainda hoje, como esse pequeno
e breve acto de "rebeldia" inconsciente não teve consequências, talvez porque a “América”
fosse, apesar de democrata, um aliado da ditadura portuguesa.
Foi preciso esperar muito tempo, até à eleição de Barack Obama em 2009,
para sentir a alegria de festejar o resultado de um acto eleitoral nos Estados
Unidos.
Claro que, como se tem visto pela forma como essas eleições têm
decorrido nas duas últimas décadas, a democracia norte-americana não é assim
tão democrática nem é o modelo de legitimidade que a “América” gosta de vender
e impor ao mundo.
Primeiro, com a eleição de George W. Bush em 2001, batendo um dos
melhores candidatos democráticos de sempre, Al Gore, que tinha mais um milhão
de votos do que o candidato republicano, num processo muito duvidoso, como se
viu, principalmente, na Flórida, e que,
na Europa, seria considerado de fraudulento, e, depois, em 2017, com a eleição
de Trump, eleito apesar de ter menos de 3
milhões de votos que a candidata democrática, ficou evidente que a “democracia” americana
deixa muito a desejar.
E, neste campo, o pior ainda está para vir nas próximas semanas.
É preciso recuar ao século XIX para se encontrar duas situações
idênticas à duas que, em apenas 20 anos, elegeram um candidato republicano, com
menos votos do que o candidato democrático, pondo a nu o processo eleitoral dos
Estados Unidos, onde reina a injustiça e a falta de proporcionalidade.
Se juntarmos a tudo isto estudos recentes que revelam a fraude
eleitoral em larga escala em muitas eleições realizadas no século XX, estamos
perante uma “democracia” que não é muito diferente de outras “democracias” que
o ocidente costuma condenar de forma veemente.
Em termos de “democracia” os Estados Unidos não são exemplo para
ninguém.
A forma injusta como funciona a (falta da) lei da proporcionalidade, normal em
qualquer democracia europeia, faz dos Estados Unidos, não uma “ditadura de
partido único”, mas uma espécie de “ditadura bi-partidária”, ainda por cima construída
em prejuízo do Partido Democrático.
Apesar de todas as limitações dessa democracia muito imperfeita, torcemos
pelo candidato Joe Biden, apesar da sua falta de carisma.
Biden é, apesar de tudo, um homem decente, com uma história de vida
exemplar, ao contrário do seu adversário.
Trump é um arruaceiro irresponsável, mentiroso, arrogante, trafulha da pior espécie, uma pessoa
não confiável.
Esperemos que, apesar de todas as limitações, a justiça democrática
funcione desta vez, não só para bem do povo norte-americano, mas do mundo em
geral.
Por isso…Obviamente votaríamos Joe Biden!!
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