Só agora tive oportunidade de ler o tão badalado texto de Emmanuel
Macron sobre o futuro da Europa, “Por um Renascimento Europeu”.
O que li não justifica o alarido à sua volta.
É um texto vazio, retórico, cheio de frases óbvias, sem uma única ideia nova para salvar o trágico descalabro do
projecto europeu.
Baseia-se em três temas fundamentais: Liberdade, Protecção e Progresso.
Em relação à liberdade meia dúzia de frases feitas, que ficam sempre
bem em qualquer discurso bonapartista, culpando as “potências estrangeiras”
(??) e a internet pelo enfraquecimento
da democracia na Europeia.
No capítulo da “protecção”, revela a mais abjecta cedência, embora de
forma enviesada, ao discurso popular-nacionalista, enquanto, por outro lado,
faz uma referência óbvia, mas inconsequente, ao dumping social que tem corroído
o Estado Social europeu.
“Esquece-se” da responsabilidade que as chamadas “reformas estruturais”,
por si defendidas em França, têm tido para a desprotecção do factor trabalho.
“Esquece-se” igualmente da cedência das instituições europeias ao
sector financeiro, essa sim, a verdadeira causa pelo descrédito dos cidadãos
europeus em relação às Instituições Europeia e que os têm atirado para os braços
do nacional-populismo.
“Esquece-se” também de referir o papel dos paraísos fiscais no seio da
União Europeia que estão na origem das crescentes desigualdades fiscais que beneficiam
economicamente uns países em detrimento de outros, dentro da mesma comunidade e
até da mesma zona monetária.
Por fim, quando fala do “Progresso”, apresenta as soluções óbvias, mas
inconsequentes e cheia de frases retóricas que, espremidas, dão em nada.
Por exemplo, defendendo um “escudo social” que “garanta a mesma
remuneração no mesmo local de trabalho
e um salário mínimo europeu, adaptado
a cada país”[sublinhado nosso], tem a preocupação de, ao contrário do
que faz no resto do texto, pormenorizar que o mesmo salário não é extensível para
todo a Europa e para o mesmo trabalho, mas apenas para o “mesmo local”, o que é
bem diferente, o mesmo fazendo em relação ao salário mínimo, diferenciando para
“cada país”.
Ora, o que seria novo e admissível era que, pelo menos nos países com a mesma
moeda, que estão obrigados às mesmas regras financeiras e ao controle das “troikas”,
o salário devia ser igual em toda a zona euro para a mesma actividade.
Tanta preocupação em limitar essa aparente “boa” idéia revela que é
incapaz de questionar uma das causas do descrédito do actual projecto europeu
que é a diferença de tratamento nos direitos sociais entre vários países,
beneficiando sempre os mesmos países(Alemanha e…França) e os mesmos sectores sociais (grandes fortunas e sector financeiro e detrimento dos trabalhadores e reformados).
O resto é uma meia dúzia de verdades óbvias sobre o ambiente e a
economia digital, que ficam sempre bem, mas suficientemente
vagas para não tocar nos verdadeiros interesses que beneficiam do
descalabro ambiental (começando pelas opções energéticas francesas…) e da
economia digital (que pode destruir empregos e desvalorizar o factor trabalho, “coisas”
que pouco preocupam Macron).
Enfim, se é com este programa e este discurso que os “salvadores” do
projecto Europeu contam para “renovar” a Europa e entusiasmar os cidadãos
europeus pela sua construção, afastando-os dos braços do nacional-populismo que
corrói esse projecto, é de temer o pior cenário.
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