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quinta-feira, 26 de junho de 2025

O Mark Rutte já anda por aí? Já andam a angariar para as despesas com a defesa?

 


NATO, Rutte e Oliveira da Figueira

 

(cartoon de Vasco Gargalo)

“No contexto atual da aposta no rearmamento desenfreado, que fará com que “a Europa pag[ue] em GRANDE, como deve” (nos termos da mensagem que o secretário-geral da NATO enviou a Trump), isto significa vender-nos “o medo como motor económico e, pior de tudo, é fazê-lo passar por uma boa ideia” (Marga Ferré, Público.es, 28.4.2025) e vendê-lo como catalisador da economia, ocultando ou relativizando o que desde o início só os mais descarados assumiram: “O Estado social europeu acabou” e, para pagar o rearmamento, haverá que cortar nas pensões de reforma, porque “não se pode pedir aos jovens que peguem em armas e [ao mesmo tempo] cuidar dos velhos num determinado estilo. Os governos terão de ser mais severos com os idosos”. Ora, como “as democracias ricas precisam de uma crise aguda para desencadear uma verdadeira mudança”, porque “é quase impossível convencer os eleitores a fazerem reformas drásticas enquanto o seu país não estiver a atravessar uma crise aguda” (Janan Ganesh, FinancialTimes, 7.3 e 2.1.2025), o que é preciso é criar essa crise.

“É aqui que entra o securitarismo. “Para criar medo, precisam de um monstro, de um Outro a odiar, de um inimigo ameaçador. Para os portadores do ódio belicista, esse Outro contra o qual se armam, esse inimigo aterrador (seja ele qual for, terrorismo fundamentalista, migrantes, Rússia, Irão, China…) tem um alcance muito vasto e é invulgarmente flexível” (M. Ferré)”.

[Manuel Loff, “Os frutos da política do medo”, in Público de 25 de Junho de 2025].

As duas frases acima transcritas, do artigo de Manuel Loff, resumem tudo o que se tem passado nos últimos dias nas chancelarias ocidentais e no politburo da União Europeia, culminando na vergonhosa bajulação a Trump na cimeira da NATO.

Por muito que nos prometam que os tão badalados gastos militares não vão corroer e destruir as estruturas do “estado social europeu”, é evidente que essa promessa é impossível de cumprir, tendo em conta a percentagem do PIB alocado à defesa. Sé em Portugal, já o sabemos, 2,1% corresponde a mil milhões de euros de gastos públicos anuais, que vão duplicar até aos 5% nos próximos anos, já se percebeu que esse valor não vai surgir do nada, vai implicar cortes, os do costume: pensões, salários, saúde, educação e  direitos sociais.

Ora, se tivermos em conta que o chamado “Estado Social Europeu” era a principal bandeira apresentada pela União Europeia que justificava a sua “superioridade civilizacional”, com a sua destruição ou enfraquecimento pouco restará desse projecto.

Sabemos que há décadas que os sectores financeiros, que dominam a burocracia europeia, procuram devorar em seu proveito o valor desse “Estado Social”, pelo menos desde os tempos da troika, projecto de “cativação” descaradamente e publicamente defendida pela actual responsável para área financeira da Comissão Europeia, a nossa bem conhecida “troikista” Maria Luís Albuquerque, coadjuvada nessa intensão por outra conhecida troikista, Christine Lagarde.

Para a mentira estar completa, também não falta outro conhecido troikista, o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, a confirmar a “necessidade” de destruir o “Estado Social” :” os cidadãos dos países-membros da NATO devem "aceitar fazer sacrifícios", como cortes nas suas pensões, na saúde e nos sistemas de segurança, para aumentar as despesas com a defesa e garantir a segurança a longo prazo na Europa”[afirmação proferida por Rutte no Parlamento Europeu em 12 de Dezembro de 2024], acrescentando: "Hoje apelo ao vosso apoio, a ação é urgente. Para proteger a nossa liberdade, a nossa prosperidade e o nosso modo de vida, os vossos políticos têm de ouvir as vossas vozes. Digam-lhes que aceitam fazer sacrifícios hoje para que possamos estar seguros amanhã" (in Líder da NATO pede aos europeus que "façam sacrifícios" para aumentar despesas com a defesa, na página da Euronews de 12.12.2024).

Essas afirmações são coerentes com a acção política desse troikista, enquanto primeiro-ministro da Holanda (1), de cujo governo fazia parte o nosso conhecido Dijsselbloem, que acusava os europeus do Sul de gastarem dinheiro em “copos e mulheres”.

Não se percebe, contudo, como é que se defende “a nossa liberdade, a nossa prosperidade e o nosso “modo de vida” cortando no Estado Social Europeu, já que tem sido este o principal pilar e o garante da nossa liberdade, prosperidade e “modo de vida” Europeu. Dizem que Rutte é formado em História, mas nunca deve ter lido Churchill que, quando, em plena 2ª Guerra , vendo-se obrigado a fazer duros cortes nas despesas, quando, numa reunião do seu gabinete, “alguém sugeriu que fossem feitas reduções significativas no orçamento da Cultura, Churchill recusou. O argumento: sem cultura "por que é que estamos a lutar?" (leia-se Jornal de Negócios, 30 de Janeiro de 2013).

O mesmo podemos dizer hoje para os defensores de cortes no “Estado Social”. Sem o pilara Social Europeu para que é que vamos lutar?.

Outro lado da moeda é o discurso do medo, também muito explorado pelo mesmo Rutte.

Ainda recentemente, numa deslocação a Portugal, alertava para o perigo de os russos invadirem Lisboa e, noutra ocasião, continuando a defender cortes no Estado Social, ameaçava quem o não fizesse que teria de aprender russo.

Aliás, sobre o “papão” militar russo o discurso é contraditório. Tanto se ridiculariza esse poder, “enfraquecido pelas sanções” e incapaz de controlar a Ucrânia, como se argumenta com a possibilidade de um ataque a um país da NATO nos próximos anos.

Nada aponta para que a Rússia, a menos que seja provocada, ataque um país da NATO, pois, se nem um país enfraquecido como a Ucrânia consegue controlar, sem ser à custa de imensas baixas e custos militares, muito menos teria condições para enfrentar directamente esses países. Aliás, o próprio Putin, surpreendido com a resistência ucraniana, há muito que se deve ter arrependido dessa invasão, embora não o admita.

O que se pretende com a subida do orçamento militar é, por um lado, salvar o sector automóvel europeu, convertendo-o no fabrico de armamento, por outro financiar a industria militar norte-americana, que enfrenta uma profunda crise, com ganhos para o sector financeiro que controla o politburo de Bruxelas.

E esse aumento da despesa militar, não se iludam, só pode ser conseguido à custa do “Estado Social Europeu” e, por arrasto, à custa “da nossa liberdade, da nossa prosperidade e do nosso modo de vida”.

Nos próximos tempos o nosso espaço político, público e comunicacional vai ser invadido por muitos candidatos a “Oliveiras da Figueira”, para nos vender e convencer a comprar toda a tralha armamentista.


(1)O “elucidativo” “currículo” de Rutte, segundo o perfil publicado na Wikipedia:

“Os seus principais objectivos [do governo holandês]  eram cortar a despesa pública, especialmente nos cuidados de saúde, e isentar as grandes empresas de um imposto sobre dividendos, mas mais tarde abandonou-o. Declarou também que "não haverá mais dinheiro para a Grécia" e comprometeu-se a descriminalizar a negação do Holocausto, embora também tenha renunciado a isso.

No contexto da pandemia de COVID-19, opôs-se a que a UE organizasse ajuda financeira aos países mais afectados, antes de aderir sob pressão dos seus aliados europeus.

O seu governo foi criticado em 2020 num relatório parlamentar, num escândalo de bem-estar. Determinados a combater possíveis fraudes, os serviços estatais retiraram benefícios às famílias que a eles tinham direito, enquanto que etnicamente traçavam o perfil dos beneficiários. Cerca de 26.000 famílias perderam injustamente estes benefícios entre 2011 e 2019, de acordo com o relatório, e em alguns casos tiveram de reembolsar os montantes recebidos. Enquanto a esquerda radical e os ambientalistas, alarmados pelos apelos dos pais, apelaram sem êxito a uma investigação já em 2014, os partidos no poder há muito que ignoram a questão. Políticos seniores, incluindo vários ministros em exercício, são acusados de terem optado por fazer vista grossa a disfunções de que tinham conhecimento”.

segunda-feira, 16 de junho de 2025

Rússia e Israel , Guerra e Paz, Paralelos e ...absurdos !!!???


A Rússia ataca a Ucrânia. É uma Grave violação do Direito Internacional.

Israel, depois de já ter atacado a Síria e o Líbano, ataca o Irão. Estão a “defender a Democracia”.

A Rússia desculpa-se pela invasão com a presença de grupos neonazi que dominam o poder da Ucrânia, situação comprovada por fontes independentes,  e perseguem, desde 2014, as populações de origem russa, cometendo crimes de guerra contra essas populações (cerca de 10 mil em 8 anos), como aconteceu em Odessa.

Israel desculpa-se, para bombardear o Irão, com o apoio do regime dos aiatolas a grupos terroristas como o Hamas e outros que atacam Israel.

A Rússia, onde estão proibidos vários partidos políticos, assassina adversários políticos e mantém em prisão muitos outros é uma ditadura.

A Ucrânia que proibiu mais de uma dezena de partidos com a desculpa de serem pró russos, que persegue e assassina populações russófona e opositores desde 2014, é uma “democracia”.

O Irão, que persegue mulheres e opositores em nome da religião há anos, é uma autocracia religiosa.

Israel que pratica apartheid contra os palestinianos, obrigados, há décadas, a abandonar as suas terras e casas, enviado para ghettos, sem liberdade de circulação na sua própria terra, com grandes limitações para usufruírem dos mesmos direitos dos israelitas é a “única democracia do região”.

Os russos bombardeiam a Ucrânia, atingindo hospitais, escolas e edifícios civis, raramente matando mais de uma dezena de civis por dia, praticam crimes de guerra.

Os israelitas bombardeiam Gaza, atingindo deliberadamente hospitais, escolas e edifícios civis, raramente matando menos de uma centena de civis, estão a "defender a democracia" e a defender-se dos terroristas.

Os ucranianos recebem do ocidente ajuda militar para enfrentar a invasão russa. Quem vier com “conversas pacifistas” é um “apoiante de Putin”.

Os palestinianos não recebem ajuda humanitária porque esta “beneficia o Hamas” e se alguém falar em armar os palestinianos para se defenderem da agressão de décadas por parte de Israel, estão a “defender o terrorismo”.

O Batalhão Azov e outros grupos extremistas estão em roda livre, desde 2014, na Ucrânia, infiltrados nas forças armadas e de segurança e na maior parte dos partidos legais  que dominam o parlamento, em muitos caso em cargos de liderança. São “heróis”.

O Hamas, cujo crescimento e acção foram facilitados por Israel para “tramar” a autoridade palestiniana, assim como outros grupos jihadistas que combatem Israel, são considerados, e bem, grupos terroristas (Sabe-se entretanto que  Israel está a apoiar grupos jhiaditas, rivais do Hamas, para combater estes, grupos esses tão terroristas como o Hamas).

A Rússia, quando efectou bombardeamentos e ataques perto de centrais nucleares ucranianas, foi um “escabeche” danado, um alarmismo desmedido, entre as lideranças ocidentais e os comentadores de serviço.

Agora que Israel bombardeia directamente centrais nucleares iranianas, é o silêncio, a desvalorização e/ou a procura de justificações esfarrapadas por parte do “ocidente” e dos mesmos comentadores. Se calhar a vida das populações em risco com essas acções tem valor diferente. Um Europeu e um “cristão” “radioactivo” vale mais que mil muçulmanos, árabes ou persas, "radioactivos".

No meio de tudo isto, a Ucrânia continua a apoiar, no mínimo pela abstenção, as acções criminosas de Israel, o que não deixa de ser tristemente irónico. Mais um prego na credibilidade da liderança ucraniana.

Resumindo e concluindo: as lideranças europeias e os seus proxies na nossa comunicação social, estão em força a branquear o governo criminoso de Israel, usando argumentos que são exactamente os opostos que usam para a guerra na Ucrânia.

Quem perde? Para além da verdade, o povo palestiniano, os judeus, que perdem toda a credibilidade que ganharam como vítimas do Holocausto e séculos de perseguição, e não vão ter paz nas próximas décadas, o causa ucraniana, porque fica evidente para todos o mundo os dois pesos e duas medidas usados pelas lideranças ocidentais. Perde a ONU, e todas as organizações humanitárias, cada vez mais isoladas na sua acção.

Quem ganha? A liderança criminosa de Israel, que desvia a atenção dos crimes cometidos em Gaza, os yatolas radicais do Irão, que vão aumentar a sua força na defesa do Irão e o próprio Hamas que ganha "razão" para o seu ódio a Israel, e outro criminoso, Putin , que surge como "defensor da paz" e do "direito internacional" (!!??).

Perdem também os pacifistas, olhados agora, com os argumentos falaciosos do costume, como “sionistas” e “apoiantes” do Hamas ou de Putin,.

Pois! também ganham os negociantes de armas,  as petrolíferas e o sector financeiro que está na base de tudo isto.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

EDUARDO GAGEIRO em TORRES VEDRAS

 

AQUI recordamos Eduardo Gageiro e a sua ultima aparição pública, que teve lugar em Torres Vedras, no passado dia 26 de Abril, para inaugurar a exposição de parte do seu espólio, depositado nesta cidade, "PELA LENTE DA LIBERDADE", e que pode ser vistada na Galeria Municipal, nos Paços do Concelho, até 13 de Setembro.