Mais de 73 milhões de norte-americanos, pouco acima de 50% dos votantes, numa população de mais de 330 milhões, votaram em Trump e deram-lhe a vitória.
Com capacidade eleitoral
estavam cerca de 240 milhões, tendo votado pouco mais de 140 milhões, dos quais
cerca de 3 milhões votaram noutros candidatos que não os dois principais.
É assim a democracia, onde uma
“grande minoria” de 22% (em relação à população total) ou de 30 % (em relação
aos que têm capacidade eleitoral) pode obter o poder absoluto.
Contudo, quanto mais conhecemos a forma como funciona o sistema eleitoral norte-americano e o seu financiamento, mais perplexos ficamos sobre a verdadeira “democracia” e a “justiça” desse sistema, onde só dois partidos têm oportunidade de vencer, não possibilitando qualquer representatividade de minorias.
Claro que em França e na
Grã-Bretanha, como vimos recentemente, a situação não é muito diferente.
É o problema dos sistemas de círculos
eleitorais muito restritos, como nestes países europeus, ou do voto indirecto
para um colégio eleitoral, como nos Estados Unidos, onde quem tem mais votos, mesmo pela diferença de um único voto, arrecada toda a representividade, dequilibrando a balança da equidade democrática.
Se juntarmos a isso o poder
cada vez maior do sistema financeiro sobre os órgãos de comunicação social desse
país, outro dos pilares que geralmente se lhe associa, o da “liberdade de expressão”,
nos deixa cada vez mais perplexo.
Também por causa disso, nas democracias mais sólidas, existe todo um sistema de contrapesos que impede que uma "imensa minoria" se transforme em poder absoluto.
Geralmente o que permite algum contrapeso no sistema norte-americano é a separação de poderes, mas alguns desses, como o judicial, estão cada vez mais dependentes do poder político e financeiro, só assim se explicando que Trump nunca tenha sido preso, pelos vários crimes de que é acusado.
Sobra alguma independência dos vários Estados Federais e o forte peso do tradicional associativismo de cidadania, sem esquecer que mais de 70% dos norte-americanos não estiveram com Trump.
Se a tudo isso associarmos o
facto de o partido de Trump controlar todos os órgãos políticos (o senado e o
congresso), e que esse candidato assumir a ruptura com todo o sistema político
democrático norte-americano, a sua vitória, se bem que democrática, não deixa
de ser preocupante para quem acredita nos valores de uma democracia saudável,
da liberdade, do humanismo, da igualdade e do equilíbrio económico-social.
É a democracia a funcionar,
sim senhor, mas também foi a democracia que levou Hitler ao poder, sem esquecer
que foram “democracias”, algumas até menos viciadas que a norte-americana, que
levaram ao poder Putin, Milei, Bolsonaro ou Órban, e que vai ser a democracia
que está à beira de levar ao poder uma Le Pen…
Tempos complicado se
avizinham.
Mas, como dizia um amigo meu, já desaparecido, quando os resultados eleitorais não nos agradavam, “não te preocupes, muitos dos que votaram neles [em Trump neste caso] vão sofre mais as consequências nrgativas das sua políticas que tu ou eu”.
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