O Nobel da Paz foi esta manhã atribuído a uma organização japonesa de vítimas das bombas atómicas, a Nihon Hidankyo.
Fundada a 10 de agosto de
1956, essa organização tem vindo a trabalhar “incansavelmente para sensibilizar
as pessoas para as consequências humanitárias catastróficas da utilização de
armas nucleares”.
O comité norueguês do Nobel resolveu
galardoar essa associação "pelos seus esforços para alcançar um mundo
livre de armas nucleares e por demonstrar através do depoimento de testemunhas
que as armas nucleares nunca mais devem ser utilizadas".
Recorde-se que a única vez que
as armas nucleares foram usadas contra populações civis foi em 1945, pelos
Estados Unidos, que mataram centenas de milhares de pessoas, no imediato ou
pelas consequências ao longo do tempo.
Sabe-se hoje que esses
bombardeamentos não acrescentaram nada ao desfecho da guerra, já que o Japão se
tinha prontificado à rendição antes desse ataque nuclear. Os norte-americanos
protelaram propositadamente essa rendição pois tinham necessidade de mostrar o
seu poder militar aos aliados soviéticos. Para muitos, esse ataque nuclear,
mais do que o acto final da 2ª Guerra, foi o inicio da Guerra Fria, uma demonstração
de força para mostrar quem “mandava” no mundo a partir daí.
A escolha, se foi uma
surpresa, parece-nos bastante actual e merecida, e um grito de alerta para o
crescente clima de militarismo irresponsável que cresce por esse mundo fora, à
boleia dos muitos interesses que se escudam na crise do Médio Oriente e na
Guerra da Ucrânia.
O clima dominante entre a
classe política ocidental e do comentário político é o a defesa da corrida
armamentista, diabolizando o pacifismo.
Ao atribuir o Nobel a uma
organização pacifista, que alerta para o perigo de uma escalada militar que irá
sempre desembocar numa guerra nuclear, localizada ou não, o comité norueguês
põe em causa toda essa retórica militarista, que, da NATO à União Europeia, de
Zelensky a Putin, dos regimes proto fascistas de Teerão e Telavive, tem vindo
em crescendo nos últimos tempos.
Para esses, a retórica da
militarização nuclear tem vindo a normalizar a defesa da corrida aos armamentos,
principalmente o nuclear, e o da possivel utilização desse tipo de armamento
nos actuais conflitos.
Essa mesma gente procura
desvalorizar e ridicularizar os defensores da paz, ora acusando-os de “apoiantes
de Putin” , ora de “apoiantes dos terroristas do Hamas”, ou, no caso da Rússia putanista ou do
regime fundamentalismo iraniano, nem opinião podem ter, sendo imediatamente encarcerados.
Esse prémio tem, desde já o mérito de recolocar no centro das preocupações humanitárias a defesa da paz, valorizando as organizaçãoes e pessoas que o fazem, em especial a ONU.
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