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quinta-feira, 14 de julho de 2022

“Apagar fogos”, com um saco de carne numa mão e um ramo de palmeira na outra


Quando tocava o sino a rebate da Igreja da Graça, era sinal de fogo.

Era ver os bombeiros locais, todos amadores, a deixar as fábricas e as lojas onde trabalhavam ou sairem de casa a correr, deslocando-se de carro a apitar, os poucos que o tinham, para chegarem o mais depressa possível à sede dos Bombeiros, situada ao lado dos CTT.

Para a miudagem, era um dia diferente, principalmente se já estivéssemos de férias (que duravam do 10 de Junho ao 5 de Outubro), até porque, a maior parte dos fogos, dava-se nesse período.

Corríamos para o Largo da Graça para ver os carros dos bombeiros a passar, acenando aos nossos heróis verdadeiros.

Todos desejávamos ser bombeiros e muitas vezes, se o fogo fosse perto, geralmente para os lados do “Vale Paxis” ou das “termas dos Cucos”, lá íamos a correr para ver, “em directo” a acção dos nossos bombeiros.

Certo dia, nos meus 12, 13 anos, a minha mãe mandou-me ir buscar uma encomenda de bifes à casa da minha avó. Eu morava na Praceta Afonso Vilela, os meus avós perto da Igreja de S. Pedro, ao lado da “Colmeia”.

Quando vinha para, casa lá ouvi a toque a rebate e alguém, passando por mim, gritava, “é nos Cucos”.

Levado pela curiosidade e, provavelmente, por algum amigo com quem me cruzei, desviei-me do meu caminho e, com o saco de carne na mão, fui para os Cucos, pelo caminho de ferro.

Lá chegado alguém me passou para a mão um ramo de palmeira para ajudar no combate ao fogo.

Ao lado dos bombeiros e dos populares, lá íamos combatendo as chamas e lembro-me, a certa altura, do comentário de um bombeiro cansado, “agora é que essas febras, assaadas neste lume, sabiam bem!”.

Só nessa altura me lembrei do que trazia na outra mão e, apressadamente, deixei o combate ao fogo, para voltar para casa, onde a minha mãe já estava preocupada, numa altura em que não havia telemóveis e ter telefone em casa era um luxo que não existia em casa da minha avó.

Ouvi um raspanete quando cheguei, com o saco de carne meio derretido pelo calor do fogo e a carne quase pronta para ser servida!

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