Quando tocava o sino a rebate da Igreja da Graça, era sinal de fogo.
Era ver os bombeiros locais, todos amadores, a deixar as fábricas e as
lojas onde trabalhavam ou sairem de casa a correr, deslocando-se de carro a
apitar, os poucos que o tinham, para chegarem o mais depressa possível à sede
dos Bombeiros, situada ao lado dos CTT.
Para a miudagem, era um dia diferente, principalmente se já estivéssemos
de férias (que duravam do 10 de Junho ao 5 de Outubro), até porque, a maior
parte dos fogos, dava-se nesse período.
Corríamos para o Largo da Graça para ver os carros dos bombeiros a
passar, acenando aos nossos heróis verdadeiros.
Todos desejávamos ser bombeiros e muitas vezes, se o fogo fosse perto,
geralmente para os lados do “Vale Paxis” ou das “termas dos Cucos”, lá íamos a
correr para ver, “em directo” a acção dos nossos bombeiros.
Certo dia, nos meus 12, 13 anos, a minha mãe mandou-me ir buscar uma
encomenda de bifes à casa da minha avó. Eu morava na Praceta Afonso Vilela, os
meus avós perto da Igreja de S. Pedro, ao lado da “Colmeia”.
Quando vinha para, casa lá ouvi a toque a rebate e alguém, passando por
mim, gritava, “é nos Cucos”.
Levado pela curiosidade e, provavelmente, por algum amigo com quem me
cruzei, desviei-me do meu caminho e, com o saco de carne na mão, fui para os
Cucos, pelo caminho de ferro.
Lá chegado alguém me passou para a mão um ramo de palmeira para ajudar
no combate ao fogo.
Ao lado dos bombeiros e dos populares, lá íamos combatendo as chamas e
lembro-me, a certa altura, do comentário de um bombeiro cansado, “agora é que
essas febras, assaadas neste lume, sabiam bem!”.
Só nessa altura me lembrei do que trazia na outra mão e, apressadamente,
deixei o combate ao fogo, para voltar para casa, onde a minha mãe já estava
preocupada, numa altura em que não havia telemóveis e ter telefone em casa era
um luxo que não existia em casa da minha avó.
Ouvi um raspanete quando cheguei, com o saco de carne meio derretido pelo
calor do fogo e a carne quase pronta para ser servida!
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