Segundo notícia ontem divulgada pela Lusa “O Conselho Social e
Económico das Nações Unidas (CES-ONU) considera que a ajuda externa teve um
"impacto adverso" nos direitos económicos, sociais e culturais em
Portugal, defendendo o progressivo abandono das medidas de austeridade com a
recuperação económica”.
"O conselho nota com preocupação que, apesar das iniciativas
tomadas para mitigar o impacto económico e social das medidas de austeridade
adoptadas no âmbito do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro, a crise
económica e financeira teve um impacto adverso no usufruto dos direitos
económicos, sociais e culturais da maioria da população, em particular nos
direitos dos trabalhadores, segurança social, habitação, saúde e
educação", lembrando “ a obrigação do Estado de proteger os mais
desfavorecidos para sublinhar a necessidade de ir abandonando as medidas de
austeridade à medida que a economia recupera.
Ainda segundo aquela notícia, este relatório “é a quarta avaliação da
transposição dos princípios do Pacto Internacional sobre Direitos Económicos,
Sociais e Culturais, que Portugal assinou em 1978, para a legislação portuguesa,
e resulta de um conjunto de reuniões entre a delegação portuguesa e o comité
das Nações Unidas responsável por avaliar o cumprimento dos princípios do
tratado pelo Estado português”.
Aquele Conselho chama ainda a atenção do Estado português “para a sua
carta [enviada a todos os Estados membros] de 16 de maio de 2012, em particular
para as recomendações sobre os requisitos para a aplicação de medidas de
austeridade", nomeadamente a parte onde se lê que estas medidas "só
podem ser aplicadas se forem temporárias, necessárias e proporcionais, e não
discriminatórias ou que afectem de forma desproporcional os directos das
pessoas e grupos mais desfavorecidos e marginalizados".
Por isso a ONU “recomenda uma "revisão" das políticas
adoptadas durante e depois do programa de ajustamento, "com vista a
garantir que as medidas de austeridade são progressivamente abandonadas e que a
protecção efectiva dos direitos no âmbito do Tratado seja melhorada em linha
com o progresso atingido na recuperação económica pós-crise".
Lembra ainda "a obrigação do Estado, ao abrigo do tratado, de
respeitar, proteger e fazer cumprir progressivamente os direitos económicos,
sociais e culturais, até ao máximo dos recursos disponíveis".
O mesmo Comité “recomenda que o Estado aumente os esforços para reduzir
o desemprego, em particular o desemprego entre os jovens, para atingir
progressivamente a completa realização do direito ao emprego", que é um
dos direitos contemplados no Pacto que Portugal assinou em 1978, e no âmbito do
qual são feitas avaliações de cinco em cinco anos sobre a transposição destes
princípios para a legislação em vigor em cada um dos países que assinaram o
tratado”.
ONU recomenda abandono progressivo das medidas de austeridade em Portugal (clicar para ler artigo inteiro)
A estas recomendações podemos juntar a corajosa intervenção recente do Papa
Francisco no Parlamento Europeu que, coerentemente com as suas posições
críticas contra a desumanidade do sistema financeiro, criticou a crescente
desumanização imposta pelos líderes europeus com a primazia que dão ao
económico sobre o humano, reduzindo o ser humano “a mera engrenagem num mecanismo
que o torna um bem de consumo descartável” denunciando “o tecnicismo
burocrático” das instituições europeias”.
Ao que parece por cá essas duas posições, uma da ONU, outra do Papa
Fancisco, criticando os fundamentos ideológicos da troika e da maior parte do
discurso político e dos comentadores de serviço, não faz grande mossa.
Um crescendo de relatórios internacionais tem vindo também a denunciar
o impacto das medidas de empobrecimento levadas a cabo em Portugal e nos países
do sul da Europa, bem como a perda de direitos dos trabalhadores e dos cidadãos
europeus em geral, sem que tal provoque qualquer reacção ou, quanto muito,
reacções de enfado de políticos, comentadores e economistas.
Revelando que não respeitam, quer as opiniões da ONU , quer as opiniões
do Papa sobre este assunto, tivemos ainda recentemente a burocracia europeia e
insistir na austeridade para Portugal e uma Ministra das Finanças subserviente
a garantir a manutenção dessas medidas.
Por sua vez o enfadado Presidente da República continua surdo e mudo em
relação a essas denuncias contra a austeridade, que ele tem apoiado, preocupado
com o impacto que qualquer atitude que questione a austeridade imposta a
Portugal possa ter nos “mercados”.
O próprio ministro da economia procura transmitir a idéia contrária
àquelas criticas, fazendo crer a melhoria da nossa imagem lá fora, junto dos mesmos “mercados”.
Ou seja, Presidente da República, governantes e comentadores em geral estão mais
preocupados com a imagem internacional do país perante os tais “mercados”
(leia-se, especuladores financeiros, banqueiros que se especializaram no
branqueamento de capitais com origem na fuga de impostos e negócios menos
lícitos – droga, armamento, prostituição-, detentores de fortunas obtidas com
desrespeito pelos mais elementares direitos humanos e democráticos oriundas dos
chamado “países emergentes” – Rússia, China, Angola, México, ìndia…- e
subservientes instituições da burocracia europeia dominada por políticos de
carreira), do que aquilo que respeitáveis instituições internacionais possam
pensar e dizer sobre o assunto e a imagem que estas transmitem de Portugal.
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