Pesquisar neste blogue

terça-feira, 6 de maio de 2025

Eu e os Papas


Não sou católico praticante, mas, tendo sido baptizado, sou “oficialmente” cristão.

Criado e educado num país de maioria cristã  e tendo frequentado uma escola onde os ditos “valores” do cristianismo eram impostos por um regime que tinha o catolicismo conservador como um dos seus pilares, a minha educação não foi indiferente aos valores cristãos.

Aí começou a minha contradição, pois, alinhando com valores que me habituei a associar com o cristianismo, como os da solidariedade, da defesa dos mais fracos, do pacifismo, do combate às desigualdades, do respeito pelo próximo, não era isso que via ser praticado por muitos “ditos” católicos que conhecia, nem por um regime que se dizia de base católica, nem pela hierarquia da Igreja.

Apesar de dever muito do meu entusiasmo e respeito pela natureza, pelo património e pela história local às aulas de Religião e Moral do saudoso padre Joaquim, as contradições que acima referi nunca me fizeram repensar a minha atitude em relação à Igreja.

Deve-se referir que o padre Joaquim era uma excepção, não só nas aulas, onde em vez de nos impingir o livro único do catolicismo oficial e conservador, imposto por uma hierarquia dominada pelo Cardeal Cerejeira, um dos braços direitos do ditador Salazar, pelo contrário, nos tirava da sala de aula e levava a visitar o património e conhecer o ambiente natural, ou ocupava as aulas com recurso a meios audiovisuais, uma raridade pedagógica na altura, mas também como fundador e director do jornal “Badaladas”, abrindo as suas páginas ao debate e à colaboração de conhecidos oposicionistas, sendo por isso alvo do aparelho repressivo do Estado Novo, pela censura e pela vigilância da PIDE, como descobri em futuras investigações nos arquivos.

Percebi mais tarde que o padre Joaquim era diferente do clericalismo então dominante porque tinha estado ligado à Juventude Operária Católica e era um seguidor da abertura do Concílio Vaticano II, uma iniciativa do Papa João XXIII.

O meu pai, que tinha deixado de acreditar na Igreja ainda na infância, como reacção ao cinismo e hipocrisia da hierarquia da altura, revelava, pelo contrário uma grande admiração pelo papa João XXIII e pelas suas encíclicas, que na altura representaram uma ruptura com uma Igreja que por cá era cúmplice de uma ditadura e com o seu antecessor, o papa Pio XII que governou a Igreja entre 1939 e 1958, foi conivente como o fascismo e o nazismo, por muito que recentemente alguns tentem branquear a sua acção.

Infelizmente o papa João XXIII governou a Igreja por pouco tempo, entre 1958 e 1963. Mas a sua acção deixou marcas que os seus sucessores não conseguiram travar. Recorde-se que o papa Paulo IV (1963-1978) conseguiu irritar as autoridades do Estado Novo, primeiro quando, em visita a Fátima em 1967, se recusou ir a Lisboa encontrar-se com Salazar que, contrariado, teve de ser ele a deslocar-se a Fátima para estar com o papa, depois quando, em 1970, recebeu no Vaticano os líderes  dos movimento de libertação que combatiam em África, acontecimento que foi abafado pela censura.

Houve uma nova esperança de abertura com a eleição do papa João Paulo I, mas que viveu e governou poucos dias, e cuja morte foi tema de muitas teorias da conspiração, que, aliás, estiveram na origem da temática do último filme da série “O Padrinho”.

Foi então nomeado, pela primeira vez em muito tempo, um papa não italiano, João Paulo II, que esteve na origem de um dos pontificados mais longos, entre 1978 e 2005. Popular no seu contacto com os fiéis, manteve e reforçou o conservadorismo e imobilismo nos valores e princípios da Igreja. Sucedeu-lhe Bento XVI, um retrocesso na aparente abertura populista do anterior papa,  e que, incapaz de lidar com os escândalos financeiros e da pedofilia no seio da Igreja, tomou a decisão de, pela primeira vez em séculos, abdicar em 2013.

Foi então que o mundo foi surpreendido com a eleição do papa Francisco, o primeiro papa não europeu. A sua acção agitou as águas de um clericalismo conservador e bolorento, assumindo a defesa coerente dos valores que associamos à vida de Cristo, como os da critica aos poderosos, a defesa na natureza, o pacifismo, a defesa dos desvalidos, não apena pela retórica, como era o máximo que faziam os seus antecessores, mas pela prática.

Isto custou-lhe muita inimizades no seio da hierarquia e de muitos católicos conservadores e, pelo contrário, granjeou admiração mesmo fora da Igreja e entre ateus.

Foi um papa que assumiu de forma coerente os valores que associo a Cristo, ao contrário do que ainda hoje acontece com muitos ditos católicos.

A hipocrisia dominou a presença de líderes mundiais no seu funeral, mas Francisco, mesmo na morte, deu a volta aos poderosos que não puderam estar presente em Santa Maria Maior, lugar que ele escolheu para o seu túmulo, uma escolha também por si com um grande simbolismo, já que esta se situa num lugar muito frequentado por sem-abrigo e imigrantes.

No Conclave que agora se inicia confrontam-se várias tendências, a dos que querem por um ponto final às reformas iniciadas por João XXIII e aceleradas por Francisco, a dos que querem continuar a acção de Francisco, mas mantendo pontes para evitar a ruptura com os conservadores, e a dos que querem continuar e acelerar as mudanças anunciadas por Francisco, custe o que custar.

No primeiro grupo estão a maior parte dos cardeais norte-americanos (com destaque para Joseph Tobin ou o trumpista Raymond Burke), alemães (como o tenebroso Gerhard Muller), holandeses, paradoxalmente parte dos africanos (não todos), e o pior de todos, o Hungaro Péter Erdo.

A maioria está algures entre o segundo e o terceiro grupo

No segundo grupo destaca-se Pitro Parolin e vários cardeais italianos, parte dos cardeais portuguese, um cardeal suíço e um espanhol, o africano, do Gana, Peter Turkson, ou o maltês Mario Grech.

No terceiro grupo está a maior parte dos cardeais franceses, o espanhol Cristóbal Romero, o filipino Luis Tagle, o italiano Matteo Zuppi e o nosso Tolentino de Mendonça.

Mas pode acontecer sempre uma surpresa e não ser escolhido nenhum destes nomes.

Pela nossa parte, já tendo por aqui dito que só havia dois líderes credíveis a nível mundial, António Guterres e o papa Francisco, esperamos que a sucessão deste último não isole ainda mais o Secretário Geral da ONU e seja escolhido alguém que seja continuador da luta de Francisco contra as desigualdades e defensor do pacifismo.

quarta-feira, 30 de abril de 2025

Apagão e Fake News


Nos primeiros minutos depois do apagão, uma das primeiras notícias que li, divulgada aparentemente por um orgão de comunicação espanhol, posteriormente reproduzida por outros orgão de comunicação e pela rádio era que, na origem desse acontecimento, estava um incêncio no sudoeste da França que teria danificado cabos de alta tensão, afastando assim a hipótese de um cyberataque.

Entretanto foram surgindo outras versões, identificando-se  origem do apagão em Espanha, cujas cauasas foram atribuidas a um fenómeno atmosférico raro.

Contudo, também essa versão ainda não é certa.

A melhor forma de não espalhar fake news é não serem as próprias autoridades a lancarem suspeitas infundadas. 

Por cá, a primeira comunicação de um membro do governo foi colocar a hipótese de um cyberataque, e o Sanchez, em Espanha, foi pelo mesmo caminho durante o dia de ontem.

Nada disso contribuiu para acalmar a população. Felizmente as pessoas souberam comportar-se e estar à altura das circunstâncias. 

Até agora, todos os verdadeiros técnicos que tenho ouvido até ao momento (e não os "tudistas" do costume, nem os antigos ministros do ambiente ou gestores de empresas energéticas, por nomeação política, estes são tão crediveis como os "tudistas") apontam para uma falha técnica, embora ainda não identificada.

E já agora, qual é essa do Zelensky se vir meter ao barulho (notícia de rodapé que estava ontem a correr na CNNPortugal [ou na SIC notícias, já não me lembro])? Está maluco, já manda nisto tudo, ou é apenas oportunista? [a noticia dizia mais ou menos isto: Zelensky oferece ajuda a Portugal e Espanha (??!!!)].

Parece-me que, neste momento, alguns políticos, dentro e fora da Europa, procuram adiar a divulgação dos factos com o objecticvo de retirar dividendos políticos. Para eles tudo teria sido mais fácil se este apagão fosse mesmo um cyberataque, justificando a sua deriva belicista.

É também bom recordar que estão em jogo, e podem ser explorados demagogicamente, opções energéticas, cada uma ligada a lobbies poderosos.

Por tudo isto, é urgente que se divulgue rapidamente a origem deste apagão, para não deixar espalhar os vários oportunismos que se escondem por detrás das fake news que por aí circulam.

terça-feira, 29 de abril de 2025

O DIA DA RÁDIO, ou, “Onde estavas no 28 de Abril?”


Sou fã da rádio como meio de comunicação, desde que me lembro.

Foi a ouvir rádio que descobri que havia mundo para além da minha casa.

Um gosto minoritário, mas que ontem se tornou “viral”, como agora se diz.

Ficou provado que, no tão apregoado “Kit de sobrevivência”,  só interessa recorrer ao analógico, desde o rádio de pilhas, às pilhas, passando pelo fogão a gaz, fogareiros e lamparinas  a petróleo (como os velhos candeeiro Hipólito), velas, fósforos e isqueiros, máquinas fotográficas de rolo…e já agora algum dinheiro “vivo” no bolso.

Ligados ao mundo por um velho rádio a pilhas, veio-nos à memória outros momentos em que a rádio era o único meio de seguir acontecimentos em directo, como aconteceu no 25 de Abril.

Acrescente-se a isto o jornalismo de excelência da estatal Antena 1.

Quem só agora descobriu esse canal radiofónico, aconselho a segui-lo ao longo do dia, descobrindo aí não só a reportagem, o directo e a opinião que, fugindo à cassete dos “grandes” canais televisivos, é exemplo de liberdade de informação, de  rigor informativo e pluralismo.

As gerações mais novas não se vão esquecer tão cedo deste dia e, principalmente, do conforto que foi seguir nesse meio “antiquado” e várias vezes acusado de “absoleto” no mundo da “alta tecnologia” digital que nos domina, as únicas notícias lhe chegavam.

Quando um dia lhes perguntarem, “onde estavas no 28 de Abril”, provavelmente a primeira resposta que lhes vai ocorrer é “ a seguir as notícias pelo velho rádio a pilhas do meu pai (ou avô)”.

Ontem foi mais um extraordinário DIA DA RÁDIO.

quinta-feira, 20 de março de 2025

O Novo "nazifascismo"


Não deixa de ser curioso.

Os Estados Unidos e a Rússia (herdeira da antiga União Soviética, que então incluía a Ucrânia), foram os principais responsáveis pela derrota do nazi-fascismo no século XX.

Os judeus,  os povos do leste e da antiga União Soviética foram os que mais sofreram como a violência do nazismo.

Os judeus fundaram Israel como consequência da violência que sobre eles se abateu com o Holocausto.

E o que vemos hoje?

Estados Unidos,  Rússia, Ucrânia e Israel,  nesse passado “antifascista” os principais combatentes ou vitimas do nazi-fascismo, são hoje os responsáveis pela disseminação, a nível mundial, dos ideais da extrema-direita, um novo "Nazismo", com várias vertentes e variantes, nalguns casos combatendo-se entre si, adaptado aos dias de hoje (a Rússia de Putin, algumas milícias e batalhões  ucranianos, os Estados Unidos de Trump e Israel de Nethanyhu).

Uma total e preocupante inversão e desrespeito pelo  passado histórico dessas nações e povos.

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Mural pela Ucrânia em Bruxelas


No passado dia 24, em plena Praça Schuman, na fachada do Serviço Europeu de Acção Externa, sede do serviço diplomático da União Europeia, deparámo-nos com a execução de um mural de homengem à Ucrânia.

Não encontrámos qualquer outra informação sobre a sua autoria, mas aqui fica uma idéia do trabalho de execução desse mural, com várias frases que completavam o mote "Por quanto mais tempo"? (uma pergunta que deve ser feita a muita gente,à própria União Europeia, passando pela NATO, pelo Estados Unidoe e, obviamente, a Zelensky e Putin):







Numa outra região de Bruxelas ainda podemos encontrar outro mural de homenagem à Ucrânia, elaborado por ocasião do primeiro aniversário da Invasão Russa, na Rue Haute, junto ao popular bairro dos Maroles, da autoria dos artistas ucranianos Mishel e Nicol Feldman e da artista belga Teresa Sdratevich: