Pedras Rolantes
Os dias que rolam, numa visão plural, pessoal e parcial de um mundo em rápida mutação. À esquerda, provocador e politicamente incorrecto, mas aberto à diversidade...as Pedras Rolam...
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quinta-feira, 26 de junho de 2025
NATO, Rutte e Oliveira da Figueira
“É aqui que entra o securitarismo. “Para criar medo,
precisam de um monstro, de um Outro a odiar, de um inimigo ameaçador. Para os
portadores do ódio belicista, esse Outro contra o qual se armam, esse inimigo
aterrador (seja ele qual for, terrorismo fundamentalista, migrantes, Rússia,
Irão, China…) tem um alcance muito vasto e é invulgarmente flexível” (M. Ferré)”.
[Manuel Loff, “Os frutos da política do medo”, in Público de
25 de Junho de 2025].
As duas frases acima transcritas, do artigo de Manuel Loff,
resumem tudo o que se tem passado nos últimos dias nas chancelarias ocidentais
e no politburo da União Europeia, culminando na vergonhosa bajulação a Trump na
cimeira da NATO.
Por muito que nos prometam que os tão badalados gastos
militares não vão corroer e destruir as estruturas do “estado social europeu”, é
evidente que essa promessa é impossível de cumprir, tendo em conta a
percentagem do PIB alocado à defesa. Sé em Portugal, já o sabemos, 2,1%
corresponde a mil milhões de euros de gastos públicos anuais, que vão duplicar
até aos 5% nos próximos anos, já se percebeu que esse valor não vai surgir do
nada, vai implicar cortes, os do costume: pensões, salários, saúde, educação e direitos sociais.
Ora, se tivermos em conta que o chamado “Estado Social
Europeu” era a principal bandeira apresentada pela União Europeia que
justificava a sua “superioridade civilizacional”, com a sua destruição ou
enfraquecimento pouco restará desse projecto.
Sabemos que há décadas que os sectores financeiros, que
dominam a burocracia europeia, procuram devorar em seu proveito o valor desse “Estado
Social”, pelo menos desde os tempos da troika, projecto de “cativação”
descaradamente e publicamente defendida pela actual responsável para área
financeira da Comissão Europeia, a nossa bem conhecida “troikista” Maria Luís
Albuquerque, coadjuvada nessa intensão por outra conhecida troikista, Christine
Lagarde.
Para a mentira estar completa, também não falta outro
conhecido troikista, o secretário-geral da NATO, Mark Rutte, a confirmar a “necessidade”
de destruir o “Estado Social” :” os cidadãos dos países-membros da NATO devem
"aceitar fazer sacrifícios", como cortes nas suas pensões, na saúde e
nos sistemas de segurança, para aumentar as despesas com a defesa e garantir a
segurança a longo prazo na Europa”[afirmação proferida por Rutte no Parlamento
Europeu em 12 de Dezembro de 2024], acrescentando: "Hoje apelo ao vosso
apoio, a ação é urgente. Para proteger a nossa
liberdade, a nossa prosperidade e o nosso modo de vida, os vossos políticos
têm de ouvir as vossas vozes. Digam-lhes que aceitam fazer sacrifícios hoje
para que possamos estar seguros amanhã" (in Líder da NATO pede aos
europeus que "façam sacrifícios" para aumentar despesas com a defesa,
na página da Euronews de 12.12.2024).
Essas afirmações são coerentes com a acção política desse
troikista, enquanto primeiro-ministro da Holanda (1), de cujo governo fazia
parte o nosso conhecido Dijsselbloem, que acusava os europeus do Sul de
gastarem dinheiro em “copos e mulheres”.
Não se percebe, contudo, como é que se defende “a nossa
liberdade, a nossa prosperidade e o nosso “modo de vida” cortando no Estado
Social Europeu, já que tem sido este o principal pilar e o garante da nossa
liberdade, prosperidade e “modo de vida” Europeu. Dizem que Rutte é formado em
História, mas nunca deve ter lido Churchill que, quando, em plena 2ª Guerra ,
vendo-se obrigado a fazer duros cortes nas despesas, quando, numa reunião do
seu gabinete, “alguém sugeriu que fossem feitas reduções significativas no
orçamento da Cultura, Churchill recusou. O argumento: sem cultura "por que
é que estamos a lutar?" (leia-se Jornal de Negócios, 30 de Janeiro de 2013).
O mesmo podemos dizer hoje para os defensores de cortes no “Estado
Social”. Sem o pilara Social Europeu para que é que vamos lutar?.
Outro lado da moeda é o discurso do medo, também muito
explorado pelo mesmo Rutte.
Ainda recentemente, numa deslocação a Portugal, alertava
para o perigo de os russos invadirem Lisboa e, noutra ocasião, continuando a defender
cortes no Estado Social, ameaçava quem o não fizesse que teria de aprender
russo.
Aliás, sobre o “papão” militar russo o discurso é contraditório.
Tanto se ridiculariza esse poder, “enfraquecido pelas sanções” e incapaz de
controlar a Ucrânia, como se argumenta com a possibilidade de um ataque a um
país da NATO nos próximos anos.
Nada aponta para que a Rússia, a menos que seja provocada,
ataque um país da NATO, pois, se nem um país enfraquecido como a Ucrânia
consegue controlar, sem ser à custa de imensas baixas e custos militares, muito
menos teria condições para enfrentar directamente esses países. Aliás, o
próprio Putin, surpreendido com a resistência ucraniana, há muito que se deve
ter arrependido dessa invasão, embora não o admita.
O que se pretende com a subida do orçamento militar é, por
um lado, salvar o sector automóvel europeu, convertendo-o no fabrico de
armamento, por outro financiar a industria militar norte-americana, que
enfrenta uma profunda crise, com ganhos para o sector financeiro que controla o
politburo de Bruxelas.
E esse aumento da despesa militar, não se iludam, só pode
ser conseguido à custa do “Estado Social Europeu” e, por arrasto, à custa “da
nossa liberdade, da nossa prosperidade e do nosso modo de vida”.
Nos próximos tempos o nosso espaço político, público e
comunicacional vai ser invadido por muitos candidatos a “Oliveiras da Figueira”,
para nos vender e convencer a comprar toda a tralha armamentista.
(1)O “elucidativo” “currículo” de Rutte, segundo o perfil publicado
na Wikipedia:
“Os seus principais objectivos [do governo holandês] eram cortar a despesa pública, especialmente
nos cuidados de saúde, e isentar as grandes empresas de um imposto sobre
dividendos, mas mais tarde abandonou-o. Declarou também que "não haverá
mais dinheiro para a Grécia" e comprometeu-se a descriminalizar a negação
do Holocausto, embora também tenha renunciado a isso.
No contexto da pandemia de COVID-19, opôs-se a que a UE
organizasse ajuda financeira aos países mais afectados, antes de aderir sob
pressão dos seus aliados europeus.
O seu governo foi criticado em 2020 num relatório parlamentar, num escândalo de bem-estar. Determinados a combater possíveis fraudes, os serviços estatais retiraram benefícios às famílias que a eles tinham direito, enquanto que etnicamente traçavam o perfil dos beneficiários. Cerca de 26.000 famílias perderam injustamente estes benefícios entre 2011 e 2019, de acordo com o relatório, e em alguns casos tiveram de reembolsar os montantes recebidos. Enquanto a esquerda radical e os ambientalistas, alarmados pelos apelos dos pais, apelaram sem êxito a uma investigação já em 2014, os partidos no poder há muito que ignoram a questão. Políticos seniores, incluindo vários ministros em exercício, são acusados de terem optado por fazer vista grossa a disfunções de que tinham conhecimento”.
segunda-feira, 16 de junho de 2025
Rússia e Israel , Guerra e Paz, Paralelos e ...absurdos !!!???
A Rússia ataca a Ucrânia. É uma Grave violação do Direito Internacional.
Israel, depois de já ter
atacado a Síria e o Líbano, ataca o Irão. Estão a “defender a Democracia”.
A Rússia desculpa-se pela
invasão com a presença de grupos neonazi que dominam o poder da Ucrânia,
situação comprovada por fontes independentes, e perseguem, desde 2014, as populações de
origem russa, cometendo crimes de guerra contra essas populações (cerca de 10
mil em 8 anos), como aconteceu em Odessa.
Israel desculpa-se, para
bombardear o Irão, com o apoio do regime dos aiatolas a grupos terroristas como
o Hamas e outros que atacam Israel.
A Rússia, onde estão proibidos
vários partidos políticos, assassina adversários políticos e mantém em prisão
muitos outros é uma ditadura.
A Ucrânia que proibiu mais de
uma dezena de partidos com a desculpa de serem pró russos, que persegue e
assassina populações russófona e opositores desde 2014, é uma “democracia”.
O Irão, que persegue mulheres
e opositores em nome da religião há anos, é uma autocracia religiosa.
Israel que pratica apartheid
contra os palestinianos, obrigados, há décadas, a abandonar as suas terras e
casas, enviado para ghettos, sem liberdade de circulação na sua própria terra,
com grandes limitações para usufruírem dos mesmos direitos dos israelitas é a “única democracia do região”.
Os russos bombardeiam a Ucrânia,
atingindo hospitais, escolas e edifícios civis, raramente matando mais de uma
dezena de civis por dia, praticam crimes de guerra.
Os israelitas bombardeiam
Gaza, atingindo deliberadamente hospitais, escolas e edifícios civis, raramente
matando menos de uma centena de civis, estão a "defender a democracia" e a defender-se dos terroristas.
Os ucranianos recebem do
ocidente ajuda militar para enfrentar a invasão russa. Quem vier com “conversas
pacifistas” é um “apoiante de Putin”.
Os palestinianos não recebem
ajuda humanitária porque esta “beneficia o Hamas” e se alguém falar em armar os
palestinianos para se defenderem da agressão de décadas por parte de Israel,
estão a “defender o terrorismo”.
O Batalhão Azov e outros grupos extremistas estão em roda livre, desde 2014, na Ucrânia, infiltrados nas forças armadas e de segurança e na maior
parte dos partidos legais que dominam o parlamento, em muitos caso em cargos de liderança.
São “heróis”.
O Hamas, cujo crescimento e
acção foram facilitados por Israel para “tramar” a autoridade palestiniana,
assim como outros grupos jihadistas que combatem Israel, são considerados, e
bem, grupos terroristas (Sabe-se entretanto que Israel está a apoiar grupos jhiaditas, rivais
do Hamas, para combater estes, grupos esses tão terroristas como o Hamas).
A Rússia, quando efectou bombardeamentos
e ataques perto de centrais nucleares ucranianas, foi um “escabeche” danado, um
alarmismo desmedido, entre as lideranças ocidentais e os comentadores de
serviço.
Agora que Israel bombardeia
directamente centrais nucleares iranianas, é o silêncio, a desvalorização e/ou
a procura de justificações esfarrapadas por parte do “ocidente” e dos mesmos
comentadores. Se calhar a vida das populações em risco com essas acções tem
valor diferente. Um Europeu e um “cristão” “radioactivo” vale mais que mil muçulmanos,
árabes ou persas, "radioactivos".
No meio de tudo isto, a
Ucrânia continua a apoiar, no mínimo pela abstenção, as acções criminosas de
Israel, o que não deixa de ser tristemente irónico. Mais um prego na
credibilidade da liderança ucraniana.
Resumindo e concluindo: as
lideranças europeias e os seus proxies na nossa comunicação social, estão em
força a branquear o governo criminoso de Israel, usando argumentos que são
exactamente os opostos que usam para a guerra na Ucrânia.
Quem perde? Para além da
verdade, o povo palestiniano, os judeus, que perdem toda a credibilidade que
ganharam como vítimas do Holocausto e séculos de perseguição, e não vão ter paz
nas próximas décadas, o causa ucraniana, porque fica evidente para todos o
mundo os dois pesos e duas medidas usados pelas lideranças ocidentais. Perde a
ONU, e todas as organizações humanitárias, cada vez mais isoladas na sua acção.
Quem ganha? A liderança
criminosa de Israel, que desvia a atenção dos crimes cometidos em Gaza, os
yatolas radicais do Irão, que vão aumentar a sua força na defesa do Irão e o
próprio Hamas que ganha "razão" para o seu ódio a Israel, e outro criminoso,
Putin , que surge como "defensor da paz" e do "direito
internacional" (!!??).
Perdem também os pacifistas,
olhados agora, com os argumentos falaciosos do costume, como “sionistas” e “apoiantes”
do Hamas ou de Putin,.
Pois! também ganham os negociantes de armas, as petrolíferas e o sector financeiro que está na base de tudo isto.
quinta-feira, 5 de junho de 2025
EDUARDO GAGEIRO em TORRES VEDRAS
quarta-feira, 28 de maio de 2025
Um Cartoon Censurado pelo facebook (ao serviço do governo genocida de Israel)
Provávelmente ente post também vai ser censurado.
Até lá fica a informação sobre um acto de censura promovido pelo facebook, ao serviço do governo criminoso de Israel e do assassino Natanyahu.
Ontem coloquei na minha página do facebook uma reprodução de um cartoon do autor português Vasco Gargalo, retirado da net, penso que da página da revista Sábado (?), e
que podem ver abaixo.Acompanhava esse cartoon com um comentário meu : "Com o "alto patrocínio" da União Europeia.
Para surpresa minha, ao abrir hoje o facebook, deparei-me com a remoção desse post com a seguinte desculpa dada pelo facebook : "É possível que a publicação contenha símbolos, glorificação a pessoas e organizações consideradas perigosas".
Para que não restem dúvidas, aqui reproduzo o texto que me enviaram para justificar o acto:
Está explicado:
Ao reproduzirmos a cara do assassino Natanyahu estávamos a promover um líder, promotor de ataques terroristas em Gaza e na Cisjordânia, apoiante da violência contra "grupos de pessoas específicas" (os Palestinianos) e o tráfico de pessoas, obrigando milhares de pessoas a deslocarem-se dentro de Gaza.
Entretanto, aconselhados por um amigo a quem aconteceu o mesmo, constestámos a situação ao facebook. Responderam assim: "Olá, Venerando. Revimos novamente a tua publicação.Confirmámos que desrespeita os nossos Padrões da Comunidade relativos a pessoas e organizações perigosas.Sabemos que isto é dececionante, mas queremos manter o Facebook seguro e acolhedor para todos.
Sem comentários!!
NOTA FINAL: Este caso teve novos desenvolvimentos. Ontem, dia 28 de Maio, por volta das 22 horas, voltei a postar no facebook esse mesmo cartoon, com o seguinte comentário:
"Mesmo correndo o risco de já ter uma fotografia minha com um alvo na testa a ser distribuida pelos agentes terroristas da MOSSAD em Portugal, e mesmo sabendo que este cartoon vai voltar a ser censurado, aqui o volto a reproduzir. Aproveitem para o partilhar e copiar antes que os censores do facebook voltem ao ataque (cartoon de Vasco Gargalo)":
E de facto, quando voltei a visitar a minha página, por volta da meia-noite, o cartoon tinha sido retirado, como os mesmos argumentos da primeira vez.
Publiquei então o seguinte comentário:
"Como já devem ter reparado, o Facebook voltou a censurar o cartoon de Vasco Gargalo que já tinha sido censurado ontem. Ficamos assim a saber quais são as opções políticas dessa plataforma. Pelos vistos o Sr Netanyahu é um criminoso "respeitável" para os censores do Facebook. A plataforma de cartoonistas Cartoon Movement, a revista Charlie Hebdo e outros cartoonistas independentes que se cuidem perante a caça às bruxas e a falta de sentido de humor desses assanhados censores, que, com essa atitude, são coniventes e cúmplices dos crimes de Israel na Palestina"
Ao mesmo tempo voltei a contestar a decisão.
Para meu espanto, desta vez voltaram atrás com a decisão, dando-me a seguinte resposta:
"28/05/2025
Restaurámos a tua foto
Olá, Venerando
Chegámos à conclusão de que a nossa equipa de revisão
cometeu um erro ao remover a tua foto.
Agradecemos o tempo que dispensaste a pedir uma revisão e a
ajudar-nos a melhorar os nossos sistemas. A nossa prioridade é manter a
segurança e o respeito na comunidade. Por isso, às vezes temos de tomar
precauções".
Tal mudança de atitude só pode ser explicada por uma ou várias das seguintes razões:
1 - o meu apelo para reproduzirem e partilharem o cartoon, antes de voltara ser censurado foi seguido por muitos amigos, aumentando a visibilidade desse acto de censura;
2 - O meu protesto envergonhou os censores:
3 - O censor que estava de serviço a esta hora era outro, mais benevolente, do que aquele que censurou o cartoon da primeira vez.
Contudo, o primeiro post não foi reposto e sei que algumas pessoas que partilharam esse cartoon, também alvos de censura, não viram o seu post reposto.
quinta-feira, 22 de maio de 2025
quarta-feira, 14 de maio de 2025
Morreu Mujica, uma das últimas referências credíveis da esquerda
Vivemos uma época em que a esquerda vive uma das suas maiores crises, em grande parte por culpa própria.
Hoje
o mundo é dominado por líderes medíocres, onde, até, há pouco, apenas se destacavam
três vozes credíveis.
Uma
era António Guterres, socialista, com formação católica, a liderar a ONU, mas
sem poderes face ao boicote das grandes superpotências, como os Estados Unidos,
desde o fim da guerra fria e a Rússia desde Putin.
Outra
voz credível era o Papa Francisco, cujas ideias se situavam mais à esquerda do
que à direita, na defesa do pacifismo, dos mais fracos, dos imigrantes, dos
perseguidos e na critica ao actual modelo capitalista de economia. Essas
posições levaram a que muitos , como li por aqui nas redes sociais, o
apelidassem de “papa comunista”, uma falácia eivada de má fé e ignorância.
Apesar de tudo e da influência que a sua voz podia ter, o seu poder para travar
a actual situação mundial, era… nenhum!.
Uma
terceira voz, também já sem poder, uma referência moral à esquerda, comparável a
Mandela, era José Alberto Mujica Cordano , conhecido popularmente como Pepe
Mujica, falecido ontem.
Ao
longo do seu mandato como presidente do Uruguai, entre 2010 e 2015, o peso da
despesa social na despesa pública total passou de 60,9% para 75,5%. “Durante
este período, a taxa de desemprego caiu de 13% para 7%, a taxa de pobreza
nacional de 40% para 11% e o salário-mínimo foi aumentado em 250%”. Durante
esse período o Uruguai tornou-se o país mais avançado da América em termos de
respeito pelos "direitos fundamentais do trabalho, em particular a
liberdade de associação, o direito à negociação coletiva e o direito à
greve".
Além
disso foi um exemplo de humildade no exercício do cargo e um exemplo de apego à
democracia, e desapego pelo poder, que abandonou sem problemas.
Mujica
era bastante critico da acção de Maduro na Venezuela, que representa o outro
lado da moeda da chamada “esquerda”. A acção de Maduro na Venezuela é, aliás, uma
das causas da má imagem que a “esquerda” tem vindo a semear nas últimas décadas.
Quando
a “esquerda” se enredou em soluções autoritárias, em corrupção, no apoio à
guerra, abraçando também soluções do capitalismo ultraliberal quando no poder,
é bom manter viva a chama de Mujica com raro referente moral do que é ser de esquerda,
isto é, defensor da democracia, dos direitos humanos, dos direitos sociais, do
pacifismo, do combate à pobreza e ao capitalismo selvagem, doe emigrantes e do
ambiente.
Como
afirma António Scurati (Fascismo e Populismo – Mussolini Hoje, ed. Asa, 2025),
a grande diferença entre a esquerda e a direita, principalmente a extremista
hoje dominante nessa área, deve ser que a primeira deve transportar um desejo
de esperança e mudança para melhorar as condições sociais, enquanto a direita
extremista e populista assenta apenas no discurso do medo e do ódio.
Infelizmente
a esquerda só vai conseguir passar a sua mensagem se o fizer através de gente
integra, o que infelizmente não tem acontecido muito neste últimos tempo.
Daí
a falta que nos faz uma figura como Mujica.
Que
cresçam muitos Mujicas para que a esperança num mundo de democracia, direitos
sociais e humanos, pacifismo, igualdade e de defesa do ambiente floresça.
terça-feira, 6 de maio de 2025
Eu e os Papas
Não sou católico praticante, mas, tendo sido baptizado, sou “oficialmente” cristão.
Criado e educado num país de
maioria cristã e tendo frequentado uma
escola onde os ditos “valores” do cristianismo eram impostos por um regime que
tinha o catolicismo conservador como um dos seus pilares, a minha educação não foi
indiferente aos valores cristãos.
Aí começou a minha
contradição, pois, alinhando com valores que me habituei a associar com o
cristianismo, como os da solidariedade, da defesa dos mais fracos, do pacifismo,
do combate às desigualdades, do respeito pelo próximo, não era isso que via ser
praticado por muitos “ditos” católicos que conhecia, nem por um regime que se
dizia de base católica, nem pela hierarquia da Igreja.
Apesar de dever muito do meu entusiasmo
e respeito pela natureza, pelo património e pela história local às aulas de
Religião e Moral do saudoso padre Joaquim, as contradições que acima referi
nunca me fizeram repensar a minha atitude em relação à Igreja.
Deve-se referir que o padre Joaquim
era uma excepção, não só nas aulas, onde em vez de nos impingir o livro único
do catolicismo oficial e conservador, imposto por uma hierarquia dominada pelo
Cardeal Cerejeira, um dos braços direitos do ditador Salazar, pelo contrário, nos tirava da
sala de aula e levava a visitar o
património e conhecer o ambiente natural, ou ocupava as aulas com recurso a meios audiovisuais, uma raridade pedagógica na altura, mas também como fundador e director
do jornal “Badaladas”, abrindo as suas páginas ao debate e à colaboração de
conhecidos oposicionistas, sendo por isso alvo do aparelho repressivo do Estado
Novo, pela censura e pela vigilância da PIDE, como descobri em futuras investigações
nos arquivos.
Percebi mais tarde que o padre
Joaquim era diferente do clericalismo então dominante porque tinha estado
ligado à Juventude Operária Católica e era um seguidor da abertura do Concílio
Vaticano II, uma iniciativa do Papa João XXIII.
O meu pai, que tinha deixado
de acreditar na Igreja ainda na infância, como reacção ao cinismo e hipocrisia da hierarquia
da altura, revelava, pelo contrário uma grande admiração pelo papa João XXIII e
pelas suas encíclicas, que na altura representaram uma ruptura com uma Igreja
que por cá era cúmplice de uma ditadura e com o seu antecessor, o papa Pio XII
que governou a Igreja entre 1939 e 1958, foi conivente como o fascismo e o
nazismo, por muito que recentemente alguns tentem branquear a sua acção.
Infelizmente o papa João XXIII
governou a Igreja por pouco tempo, entre 1958 e 1963. Mas a sua acção deixou
marcas que os seus sucessores não conseguiram travar. Recorde-se que o papa
Paulo IV (1963-1978) conseguiu irritar as autoridades do Estado Novo, primeiro quando,
em visita a Fátima em 1967, se recusou ir a Lisboa encontrar-se com Salazar que,
contrariado, teve de ser ele a deslocar-se a Fátima para estar com o papa,
depois quando, em 1970, recebeu no Vaticano os líderes dos movimento de libertação que combatiam em África,
acontecimento que foi abafado pela censura.
Houve uma nova esperança de
abertura com a eleição do papa João Paulo I, mas que viveu e governou poucos
dias, e cuja morte foi tema de muitas teorias da conspiração, que, aliás, estiveram
na origem da temática do último filme da série “O Padrinho”.
Foi então nomeado, pela
primeira vez em muito tempo, um papa não italiano, João Paulo II, que esteve na
origem de um dos pontificados mais longos, entre 1978 e 2005. Popular no seu
contacto com os fiéis, manteve e reforçou o conservadorismo e imobilismo nos
valores e princípios da Igreja. Sucedeu-lhe Bento XVI, um retrocesso na
aparente abertura populista do anterior papa, e que, incapaz de lidar com os escândalos financeiros
e da pedofilia no seio da Igreja, tomou a decisão de, pela primeira vez em
séculos, abdicar em 2013.
Foi então que o mundo foi
surpreendido com a eleição do papa Francisco, o primeiro papa não europeu. A
sua acção agitou as águas de um clericalismo conservador e bolorento, assumindo
a defesa coerente dos valores que associamos à vida de Cristo, como os da
critica aos poderosos, a defesa na natureza, o pacifismo, a defesa dos desvalidos,
não apena pela retórica, como era o máximo que faziam os seus antecessores, mas
pela prática.
Isto custou-lhe muita
inimizades no seio da hierarquia e de muitos católicos conservadores e, pelo contrário, granjeou
admiração mesmo fora da Igreja e entre ateus.
Foi um papa que assumiu de
forma coerente os valores que associo a Cristo, ao contrário do que ainda hoje
acontece com muitos ditos católicos.
A hipocrisia dominou a
presença de líderes mundiais no seu funeral, mas Francisco, mesmo na morte, deu
a volta aos poderosos que não puderam estar presente em Santa Maria Maior, lugar
que ele escolheu para o seu túmulo, uma escolha também por si com um grande
simbolismo, já que esta se situa num lugar muito frequentado por sem-abrigo e
imigrantes.
No Conclave que agora se
inicia confrontam-se várias tendências, a dos que querem por um ponto final às
reformas iniciadas por João XXIII e aceleradas por Francisco, a dos que querem
continuar a acção de Francisco, mas mantendo pontes para evitar a ruptura com
os conservadores, e a dos que querem continuar e acelerar as mudanças anunciadas
por Francisco, custe o que custar.
No primeiro grupo estão a maior
parte dos cardeais norte-americanos (com destaque para Joseph Tobin ou o
trumpista Raymond Burke), alemães (como o tenebroso Gerhard Muller), holandeses,
paradoxalmente parte dos africanos (não todos), e o pior de todos, o Hungaro Péter
Erdo.
A maioria está algures entre o
segundo e o terceiro grupo
No segundo grupo destaca-se
Pitro Parolin e vários cardeais italianos, parte dos cardeais portuguese, um
cardeal suíço e um espanhol, o africano, do Gana, Peter Turkson, ou o maltês
Mario Grech.
No terceiro grupo está a maior
parte dos cardeais franceses, o espanhol Cristóbal Romero, o filipino Luis
Tagle, o italiano Matteo Zuppi e o nosso Tolentino de Mendonça.
Mas pode acontecer sempre uma
surpresa e não ser escolhido nenhum destes nomes.
Pela nossa parte, já tendo por aqui dito que só havia dois líderes credíveis a nível mundial, António Guterres e o papa Francisco, esperamos que a sucessão deste último não isole ainda mais o Secretário Geral da ONU e seja escolhido alguém que seja continuador da luta de Francisco contra as desigualdades e defensor do pacifismo.
quarta-feira, 30 de abril de 2025
Apagão e Fake News
Nos primeiros minutos depois do apagão, uma das primeiras notícias que li, divulgada aparentemente por um orgão de comunicação espanhol, posteriormente reproduzida por outros orgão de comunicação e pela rádio era que, na origem desse acontecimento, estava um incêncio no sudoeste da França que teria danificado cabos de alta tensão, afastando assim a hipótese de um cyberataque.
Entretanto foram surgindo outras versões, identificando-se origem do apagão em Espanha, cujas cauasas foram atribuidas a um fenómeno atmosférico raro.
Contudo, também essa versão ainda não é certa.
A melhor forma de não espalhar fake news é não serem as próprias autoridades a lancarem suspeitas infundadas.
Por cá, a primeira comunicação de um membro do governo foi colocar a hipótese de um cyberataque, e o Sanchez, em Espanha, foi pelo mesmo caminho durante o dia de ontem.
Nada disso contribuiu para acalmar a população. Felizmente as pessoas souberam comportar-se e estar à altura das circunstâncias.
Até agora, todos os verdadeiros técnicos que tenho ouvido até ao momento (e não os "tudistas" do costume, nem os antigos ministros do ambiente ou gestores de empresas energéticas, por nomeação política, estes são tão crediveis como os "tudistas") apontam para uma falha técnica, embora ainda não identificada.
E já agora, qual é essa do Zelensky se vir meter ao barulho (notícia de rodapé que estava ontem a correr na CNNPortugal [ou na SIC notícias, já não me lembro])? Está maluco, já manda nisto tudo, ou é apenas oportunista? [a noticia dizia mais ou menos isto: Zelensky oferece ajuda a Portugal e Espanha (??!!!)].
Parece-me que, neste momento, alguns políticos, dentro e fora da Europa, procuram adiar a divulgação dos factos com o objecticvo de retirar dividendos políticos. Para eles tudo teria sido mais fácil se este apagão fosse mesmo um cyberataque, justificando a sua deriva belicista.
É também bom recordar que estão em jogo, e podem ser explorados demagogicamente, opções energéticas, cada uma ligada a lobbies poderosos.
Por tudo isto, é urgente que se divulgue rapidamente a origem deste apagão, para não deixar espalhar os vários oportunismos que se escondem por detrás das fake news que por aí circulam.
terça-feira, 29 de abril de 2025
O DIA DA RÁDIO, ou, “Onde estavas no 28 de Abril?”
Sou fã da rádio como meio de comunicação, desde que me lembro.
Foi a ouvir rádio que descobri que havia mundo para além da minha casa.
Um gosto minoritário, mas que
ontem se tornou “viral”, como agora se diz.
Ficou provado que, no tão
apregoado “Kit de sobrevivência”, só
interessa recorrer ao analógico, desde o rádio de pilhas, às pilhas, passando
pelo fogão a gaz, fogareiros e lamparinas a petróleo (como os velhos candeeiro
Hipólito), velas, fósforos e isqueiros, máquinas fotográficas de rolo…e já agora
algum dinheiro “vivo” no bolso.
Ligados ao mundo por um velho
rádio a pilhas, veio-nos à memória outros momentos em que a rádio era o único
meio de seguir acontecimentos em directo, como aconteceu no 25 de Abril.
Acrescente-se a isto o
jornalismo de excelência da estatal Antena 1.
Quem só agora descobriu esse
canal radiofónico, aconselho a segui-lo ao longo do dia, descobrindo aí não só
a reportagem, o directo e a opinião que, fugindo à cassete dos “grandes” canais
televisivos, é exemplo de liberdade de informação, de rigor informativo e pluralismo.
As gerações mais novas não se
vão esquecer tão cedo deste dia e, principalmente, do conforto que foi seguir nesse
meio “antiquado” e várias vezes acusado de “absoleto” no mundo da “alta
tecnologia” digital que nos domina, as únicas notícias lhe chegavam.
Quando um dia lhes
perguntarem, “onde estavas no 28 de Abril”, provavelmente a primeira resposta
que lhes vai ocorrer é “ a seguir as notícias pelo velho rádio a pilhas do meu
pai (ou avô)”.
Ontem foi mais um extraordinário
DIA DA RÁDIO.