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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A Armadilha das Sondagens.


Não duvido da qualidade técnica das sondagens, nem da importância da análise dos seus dados.

O problema é quando as sondagens, que deviam ser um instrumento de trabalho, se tornam num instrumento de manipulação política e jornalística.

Esta campanha eleitoral tem sido marcada por um novo tipo de sondagens, feitas “diariamente” e tendo por base um número muitos mais reduzido de inquéritos do que aqueles que costumam ser usados nas sondagens “tradicionais”.

Ora acontece que este novo método de sondagem eleitoral, ainda numa fase experimental, tem dado resultados algo surpreendentes para aquilo que se pensava que acontece na realidade política nacional, e algo diferentes das “sondagens tradicionais”.

Aquilo que as sondagens “tradicionais” e a dura realidade dos últimos quatro anos parecia confirmar, era uma vitória segura do PS e uma derrota da coligação governamental, apesar de não dar qualquer maioria absoluta ao partido vencedor.

Aliás, o que motivou a ascensão ao poder de António Costa ao PS e ao afastamento de Seguro tinha sido o facto de este, apesar de ganhar todas as eleições do PS na complicada  era pós-sócrates, não a ganhar “por mais”.

Acontece que, a não ser no início, as sondagens sérias davam o PS em queda acentuada, embora sempre à frente da coligação governamental. O caso Sócrates, as indecisões de António Costa sobre as políticas de austeridade, bem com o desenvolvimento da situação política grega, terão contribuído para essa queda.

Para surpresa ainda maior, o novo tipo de sondagens agora divulgada, colocou desde o principio a coligação como vencedora e o PS sempre a afastar-se de uma vitória que era previsível.

Não nos podemos esquecer, contudo, que nos últimos tempos, um pouco por toda a Europa, as sondagens têm errado em toda a linha.

Ora, o que é para mim mais surpreendente é que o PS se tenha deixado cair na armadilha das sondagens e tivesse passado a fazer campanha a reboque das sondagens, ziguezagueando na sua mensagem, revelando cada vez mais desespero quanto mais desfavoráveis essas sondagens se revelavam.

Se as sondagens não passassem de um mero exercício de probabilidades, tanto mais afastada da realidade, quanto menor é o número de inquéritos validados e quanto maior o número de indecisos  e dos que não respondem, então não se faziam eleições , limitando-se o país a fazer uma encomenda a uma agência de sondagens que decidiria da composição do parlamento.

Ao enredar-se na teia das sondagens, com a ajuda, quer da forma como a comunicação social valoriza estupidamente as sondagens em detrimento do devido esclarecimento sobre a realidade política nacional, quer da oleada máquina de propaganda do governo que procura encontra nas sondagens a “confiança do vencedor”, tão importante psicologicamente para conquistar os indecisos e medrosos da “maioria silenciosa” que tudo decidem em Portugal, o PS corre o risco de contribuir para tornar realidade aquilo que é um tipo de sondagem ainda pouco credível (é feita com base da validação de cerca de 500 inquéritos, num total de mil, dos quais quase 50% não revelam ou ainda não decidiram onde vão votar).

Apesar da grave situação do país, da grande encruzilhada em que vive o país, esta campanha eleitoral quase se tem resumido a agir ou ser comentada de acordo com o que umas sondagens, usando um método ainda experimental, dizem, de forma parcial e facilmente manipulável, sobre  a “vontade” dos eleitores.

Se o PS e a esquerda não mudarem rapidamente de estratégia, corremos o risco de ver a mentira” das sondagens tornar-se uma trágica realidade.

(Uma outra "escolha" que os portugueses vão "fazer" no dia 4 de Outubro é sobre qual dos dois métodos de sondagem sairá "vencedor", se o "tradicional" se o "novo").



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