Não duvido da qualidade técnica das sondagens, nem da importância da
análise dos seus dados.
O problema é quando as sondagens, que deviam ser um instrumento de
trabalho, se tornam num instrumento de manipulação política e jornalística.
Esta campanha eleitoral tem sido marcada por um novo tipo de sondagens,
feitas “diariamente” e tendo por base um número muitos mais reduzido de inquéritos
do que aqueles que costumam ser usados nas sondagens “tradicionais”.
Ora acontece que este novo método de sondagem eleitoral, ainda numa
fase experimental, tem dado resultados algo surpreendentes para aquilo que se
pensava que acontece na realidade política nacional, e algo diferentes das “sondagens
tradicionais”.
Aquilo que as sondagens “tradicionais” e a dura realidade dos últimos
quatro anos parecia confirmar, era uma vitória segura do PS e uma derrota da
coligação governamental, apesar de não dar qualquer maioria absoluta ao partido
vencedor.
Aliás, o que motivou a ascensão ao poder de António Costa ao PS e ao
afastamento de Seguro tinha sido o facto de este, apesar de ganhar todas as
eleições do PS na complicada era
pós-sócrates, não a ganhar “por mais”.
Acontece que, a não ser no início, as sondagens sérias davam o PS em
queda acentuada, embora sempre à frente da coligação governamental. O caso Sócrates, as indecisões de António Costa sobre as políticas de austeridade, bem com o desenvolvimento da situação política grega, terão contribuído para essa queda.
Para surpresa ainda maior, o novo tipo de sondagens agora divulgada,
colocou desde o principio a coligação como vencedora e o PS sempre a afastar-se
de uma vitória que era previsível.
Não nos podemos esquecer, contudo, que nos últimos tempos, um pouco por
toda a Europa, as sondagens têm errado em toda a linha.
Ora, o que é para mim mais surpreendente é que o PS se tenha deixado
cair na armadilha das sondagens e tivesse passado a fazer campanha a reboque
das sondagens, ziguezagueando na sua mensagem, revelando cada vez mais
desespero quanto mais desfavoráveis essas sondagens se revelavam.
Se as sondagens não passassem de um mero exercício de probabilidades,
tanto mais afastada da realidade, quanto menor é o número de inquéritos validados
e quanto maior o número de indecisos e
dos que não respondem, então não se faziam eleições , limitando-se o país a
fazer uma encomenda a uma agência de sondagens que decidiria da composição do
parlamento.
Ao enredar-se na teia das sondagens, com a ajuda, quer da forma como a
comunicação social valoriza estupidamente as sondagens em detrimento do devido
esclarecimento sobre a realidade política nacional, quer da oleada máquina de
propaganda do governo que procura encontra nas sondagens a “confiança do
vencedor”, tão importante psicologicamente para conquistar os indecisos e
medrosos da “maioria silenciosa” que tudo decidem em Portugal, o PS corre o risco de
contribuir para tornar realidade aquilo que é um tipo de sondagem ainda pouco
credível (é feita com base da validação de cerca de 500 inquéritos, num total
de mil, dos quais quase 50% não revelam ou ainda não decidiram onde vão votar).
Apesar da grave situação do país, da grande encruzilhada em que vive o
país, esta campanha eleitoral quase se tem resumido a agir ou ser comentada de
acordo com o que umas sondagens, usando
um método ainda experimental, dizem, de forma parcial e facilmente manipulável,
sobre a “vontade” dos eleitores.
Se o PS e a esquerda não mudarem rapidamente de estratégia, corremos o
risco de ver a mentira” das sondagens tornar-se uma trágica realidade.
(Uma outra "escolha" que os portugueses vão "fazer" no dia 4 de Outubro é sobre qual dos dois métodos de sondagem sairá "vencedor", se o "tradicional" se o "novo").
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